Antiga diretora do comité consultivo sobre vacinas afirma que foi demitida por se recusar a "substituir evidências por ideologia"
Susan Monarez revela que o secretário norte-americano da Saúde lhe pediu duas coisas incompatíveis com a ética exigida a um funcionário público: que aprovasse previamente as recomendações do comité, mesmo sem ter provas científicas; e que despedisse, sem qualquer razão, os responsáveis pela política de vacinação
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A antiga diretora do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) Susan Monarez afirmou esta quarta-feira, perante o Senado, que foi demitida por se recusar a aprovar mudanças nos calendários de vacinação infantil não justificadas por evidências científicas, numa altura em que a Administração Trump se prepara para desmantelar uma antiga política de saúde.
Apesar de só ter estado 29 dias no cargo, foi o suficiente para passar de alguém cujas credenciais não podiam ser atacadas, a uma “mentirosa em quem não se podia confiar”. Susan Monarez — que esteve à frente do CDC entre 31 de julho e 25 de agosto — explicou que as ações para a afastarem começaram pouco depois de ter assumido funções.
A antiga diretora lembrou que, perante o Senado, prometeu que, com o novo cargo, iria tentar recuperar a confiança da população na instituição que representava e defenderia a saúde dos americanos.
Monarez revelou, por isso, que o secretário norte-americano da Saúde, Robert F. Kennedy Jr., pediu-lhe duas coisas incompatíveis com a ética exigida a um funcionário público: a primeira era que aprovasse previamente as recomendações do Comité Consultivo sobre práticas de imunização, mesmo sem ter provas científicas; o outro pedido era para que despedisse, sem qualquer razão, os responsáveis pela política de vacinação.
Kennedy ter-lhe-á dito que, se não quisesse aceitar os pedidos, então teria de se demitir, uma ameaça que foi Susan Monarez recusou cumprir.
"Mesmo sob pressão, não poderia substituir as evidências por ideologia ou comprometer a minha integridade. (...) A política de vacinação deve ser orientada por dados credíveis, não por resultados predeterminados", declarou.
A antiga diretora do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA garantiu ainda que, durante os 30 anos em que se dedicou à saúde, sempre defendeu as inovações cientificamente provadas e, por isso, nada a fará substituir a ciência pela ideologia.
O testemunho de Susan Monarez ocorre um dia antes de uma reunião altamente antecipada do Comité Consultivo sobre Práticas de Imunização — um órgão que o secretário da Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., reformulou drasticamente, demitindo todos os seus membros e substituindo-os por figuras cujas opiniões refletem o seu próprio ceticismo em relação às vacinas.