Livre desafia AD a rejeitar revisão constitucional: "Agora percebemos que a IL gosta de mandar gasolina para o fogo"
Rui Tavares critica o timing da proposta liberal depois de umas "eleições extremadas" que resultaram numa nova composição parlamentar, com um crescimento substancial do Chega, e alerta para uma "crise de regime"
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O porta-voz do Livre, Rui Tavares, à saída da reunião com o Presidente da República, definiu como prioridade o combate da extrema-direita para as eleições autárquicas e desafiou a AD a rejeitar uma revisão constitucional.
Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, Rui Tavares, acompanhado pela co-porta-voz do partido Isabel Mendes Lopes, e os deputados eleitos Jorge Pinto e Patrícia Gonçalves, sublinha que o partido "não pode aceitar de boa mente que Portugal acorde em outubro com um mapa político completamente diferente dos últimos 50 anos de democracia".
Não podemos dizer que estas últimas eleições foram um sinal de alarme, sem que as pessoas façam o que se faz quando se ouve um sinal de alarme, que é despertar
O Livre, diz, transmitiu esta posição ao chefe de Estado de forma "muito clara" e urge os partidos da esquerda a "despertarem" para uma nova realidade, a tempo de criarem câmaras municipais lideradas por listas progressistas e democráticas.
Sobre a nova proposta da IL para uma revisão constitucional, Rui Tavares lembra que o partido que lidera já tinha alertado para a vontade dos partidos da direita e extrema-direita de alterarem direitos constitucionais. Critica igualmente o timing da proposta face à nova composição parlamentar, que conta com um crescimento substancial do Chega.
Disseram-nos para 'não estarmos com papões'. Foi isso que a IL disse quando o Livre lançou esse alerta. E, no entanto, hoje apresentou uma proposta de revisão constitucional, a seguir a umas eleições extremadas. Já sabíamos que a IL gostava de motosserras. Agora percebemos que gosta de mandar gasolina para o fogo
Rui Tavares denuncia desde logo que na antiga proposta dos liberais, por exemplo, o Serviço Público de Rádio e Televisão "deixa de estar garantido", e os direitos de consumo passariam a estar sob uma proteção legal ao invés de uma proteção constitucional. Como este nunca foi tema de debate eleitoral, o porta-voz considera que "não existe legitimidade para fazer uma revisão que basicamente constituiria uma revisão de regime".
É preciso que as pessoas tenham noção do abismo para o qual podemos estar a olhar
Alertando para uma "crise de regime", insta Luís Montenegro, quando for indigitado para o cargo de primeiro-ministro, a dar "sinais" de que esta não é uma legislatura para levar a cabo uma revisão constitucional, ou, pelo menos, se o fizer, que seja reunindo um "consenso que abranja, pelo menos, três quartos da Assembleia da República, - ou seja, que conte também, pelo menos, com o centro-esquerda".
A possibilidade de uma coligação pré-eleitoral entre PS, Livre, BE e PAN à Câmara Municipal de Lisboa tem sido falada há meses, ainda sem acordo fechado. A CDU terá candidato próprio, o comunista João Ferreira.
Rejeitando uma esquerda “sectária”, Tavares pediu também pragmatismo aos restantes partidos da sua área política.
“Às vezes a direita é pragmática demais, mas que a esquerda não seja pragmática de todo pode significar, a partir de setembro, uma bela manhã de setembro, de uma segunda-feira, nós acordarmos com o mapa político do país completamente mudado, de uma forma que não será reversível, talvez em décadas”, avisou.
Tavares remeteu para as próximas semanas a posição do Livre em relação à moção de rejeição ao programa do Governo anunciada na terça-feira pelo PCP e também sobre uma eventual comissão parlamentar de inquérito ao caso ‘Spinumviva’, empresa familiar de Montenegro, que o Livre admitiu apresentar caso este voltasse a ser reeleito primeiro-ministro.
Faltando apurar os círculos da Europa e Fora da Europa, PS e Chega elegeram o mesmo número de deputados, 58, com uma ligeira vantagem, até agora, para os socialistas em número de votos.