Urgências regionais "só pecam por tardias", mas "populações não podem ficar reféns da sorte para que as suas crianças nasçam"
Os profissionais de saúde ouvidos no Fórum TSF divergem sobre se esta é uma solução "razoável" ou não. O que é certo, como refere o vereador de Setúbal Pedro Pina, é que a "ausência de recursos humanos" no SNS continua sem solução à vista
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O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares, Xavier Barreto, defendeu no Fórum TSF a criação de urgências regionais e até disse que é uma medida que já vem tarde — tendo em conta que está prevista no Programa do Governo.
A criação de urgências regionais para as especialidades mais críticas, obstetrícia e pediatria, prevê que as equipas sejam partilhadas entre hospitais mais próximos para permitir que os utentes saibam com antecedência a que hospital se devem dirigir nos casos urgentes. A ministra da Saúde, Ana Paula Martins, referiu na quarta-feira, em entrevista à SIC, que esta nova organização do trabalho ainda vai ter de ser negociada com os sindicatos em setembro. Para Xavier Barreto, essas negociações deviam começar "já" e assinalou: "Espero sinceramente que essa ideia de protelar esta implementação não esteja eventualmente relacionada com as eleições autárquicas." E sublinhou que a criação das urgências regionais "só peca por tardia".
Ouvido também no Fórum TSF, Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal, também defendeu que esta é "a única solução razoável". Nesta linha está igualmente o presidente da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, Caldas Afonso.
Ao contrário, Guadalupe Simões, dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, está contra as urgências regionais. Argumentou que o caso do Hospital Garcia de Orta em Almada, que vai ter resposta de obstetrícia 24 horas a partir de setembro, "demonstra que há soluções para garantir a contratação de profissionais de saúde ao setor privado e, portanto, fazer um reforço do Serviço Nacional de Saúde". E quer saber porque é que a ministra da Saúde não avança para medidas como a exclusividade dos profissionais no setor público.
Por sua vez, Sara do Vale, que faz parte da direção da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, admitiu que as urgências regionais podem ser um "bom" caminho, mas mostrou-se "bastante preocupada" com o "sucessivo desinvestimento no SNS" e com a postura de Ana Paula Martins, que não assume as suas responsabilidades.
O presidente da Câmara Municipal do Barreiro, Frederico Costa Rosa, tem dúvidas e quer saber se esta é solução a longo prazo para um sítio com "o número de partos a aumentar e população crescente com tendência a crescer ainda mais". E receia desinvestimento na urgência do hospital do Barreiro.
No caso de Setúbal, o vereador Pedro Pina disse que sempre que a ministra da Saúde fala "fica sempre o vazio do plano estratégico", ou seja, "apresenta soluções que são de resolução a médio prazo" e o problema principal continua: "A ausência de recursos humanos." É preciso "capacitar" as unidades de saúde "para servir as populações que não podem ficar reféns da sorte para que as suas crianças nasçam".

