"Do ponto de vista ético e político." Cabeça de lista do Chega às eleições europeias acusa Marcelo de ser "traidor da pátria"
O antigo diplomata e vice-presidente do Chega, Tânger Corrêa, que diz não se mete "na vida interna" do partido. Em entrevista ao TSF Europa, não poupa Marcelo, nem Guterres, nem Barroso e reitera que a AD é "uma imbecilidade". Se for eleito, promete dizer sempre tudo aos portugueses sobre o que se passa na Europa.
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António Tânger Corrêa, 72 anos, antigo diplomata, foi embaixador na Bósnia, na Sérvia, em Israel, Egipto, Catar, Lituânia, foi cônsul-geral em Goa, na Índia e no Rio de Janeiro, e primeiro secretário da embaixada portuguesa em Pequim. É conselheiro de estado e vice-presidente do Chega.
Portanto, foi embaixador em Sarajevo na Bósnia-Herzegovina logo a seguir à guerra, no início de 1996, foi aí que nos conhecemos, num país na altura muito minado e com Sarajevo ainda rodeada por snipers, atiradores furtivos… as perspectivas não apontam para que os partidos da direita radical tenham terreno muito minado em Bruxelas, muito pelo contrário, parecem ter terreno fértil, estão a crescer… caso seja eleito, quais vão ser os seus tiros de sniper, para onde vai disparar o Chega no Parlamento Europeu?
Como sabe, a Bósnia é um problema extremamente complexo. A esquerda e direita na Bósnia, como nos Balcãs em geral, são conceitos completamente diferentes daqueles que nós temos aqui. São conceitos que são profundamente nacionalistas e que diferem de outros conceitos que são mais, digamos, tendentes a negociar com outras etnias e com outras forças políticas.
Então o Chega não é profundamente nacionalista?
O Chega não é nacionalista, é patriótico. Esses partidos e sabe que eu tenho relações com todos. Sempre tive na Bósnia, é uma das coisas que Portugal tem de muito bom, ou tinha, na sua diplomacia, ter uma capacidade de falar com toda a gente. Eu não perdi essa capacidade.
E portanto, vai para o Parlamento Europeu falar com toda a gente…
Seguramente.
Mesmo com os com os partidos à esquerda?
Ah com certeza, mas é que não ponho sequer outra hipótese. Eu sou um diplomata e o diplomata é um negociador e um negociador não pode fechar portas e muito menos janelas. A Bósnia é um problema que é fundamental para a Europa. Como sabe, é uma chave da Europa. Os Balcãs são, de facto, o centro fulcral daquilo que é a Europa geoestratégia e que, portanto, nós que temos conhecimento dessa realidade, não vamos deixar que haja derrapagens nesse sentido.
Já que que começámos pelos Balcãs e pegou no assunto, é a favor do alargamento da União Europeia. Na altura, segunda metade dos anos noventa, quando foi Embaixador em Sarajevo, promoveu até encontros em Pale na República Sérvia da Bósnia, quando quase nenhuma diplomacia ocidental ousava juntar os 2 lados, promoveu encontros aí, numa altura em que os sérvios bósnios estavam mais ou menos proscritos; e nessa altura defendia a integração dos Balcãs Ocidentais na União Europeia. Continua a defender?
Completamente, 100%. Aliás, como sabe, posteriormente a ser embaixador na Bósnia e depois na Jugoslávia, foi enviado especial da União Europeia para os Balcãs.
Durante a Presidência portuguesa em 2007…
Durante a presença portuguesa da União Europeia exatamente e infelizmente encontrei uma situação, oito anos depois de ter saído dos Balcãs, exatamente igual àquilo que tinha deixado. Tentei mudar essa situação e consegui nomeadamente relativamente à Sérvia, a Bósnia, o Montenegro, a Croácia; o único país que realmente foi muito difícil e que eu não consegui mover para a frente foi a Macedónia, a Macedónia, como sabe é um problema, há alguma falta de vontade, há uma pesada herança política, digo eu, e por outro lado há um clima de alguma agressividade entre etnias que, portanto, não ajudou a que a Macedónia andasse para a frente dessa altura. Agora, a Sérvia, por exemplo, como a Croácia, que já entrou na União Europeia, e o Montenegro já deviam ter entrado na União Europeia. Isto é uma opinião talvez um pouco polémica, mas que eu não deixo de dizer aqui: deviam ter entrado antes da Bulgária da Roménia, por exemplo.
Ou seja, já deviam ter entrado na mesma altura ou esses dois países é que não deviam ter entrado?
Não, não, deviam ter entrado. Podia ser na mesma altura ou até antes. Isso aí já é um problema de timing? Não estou a dizer que a Bulgária ou a Roménia não devessem ter entrado, aliás, tem tido bons resultados. Melhores resultados do que nós. A União Europeia é um espaço de paz e de prosperidade e não há razão para que os países fiquem de fora. Estou só a dizer é que estes países que eu mencionei, nomeadamente nos Balcãs, deviam ter entrado e há muito tempo.
Quais são as suas prioridades, caso seja eleito para o Parlamento Europeu? Quais são as prioridades do Chega? O Chega, não tem um programa político em termos europeus muito conhecido…
Não, não é, e não é porque o Chega é um partido que não é ideologicamente muito formal. O Chega é um partido que foi criado há muito pouco tempo, portanto, já numa fase descendente daquilo que são as ideologias, daquilo que é a esquerda e direita e que no fundo, agora encontramo-nos numa dicotomia entre totalitarismo e liberdade e o Chega, obviamente, escolhe a liberdade. E é nessa base que vai entrar no Parlamento Europeu e a nossa prioridade, primeira de todas, é uma grande clarificação do que se passa em Bruxelas. Clarificação a todos os níveis, quer das ideias, quer dos projetos e quer das consequências daquilo que tem sido feito. Em segundo lugar, queremos o rearranjo das instituições europeias, ou seja, um muito maior controlo da Comissão, um aumento das competências do Parlamento Europeu, um recentrar das competências do Conselho Europeu, uma diminuição da parte da diplomacia da União Europeia que para nós não faz qualquer sentido, é um ataque à soberania dos países, o serviço externo da UE. Não faz sentido nenhum existir e nós somos contra e que, portanto, nós queremos uma…
Mas contra, porque? Porque acha não tem produzido resultados e, no caso, da pessoa específica de Josep Borrel ou a função que já vem desde os tempos de Javier Solana de de Alto Representante para a Política Externa?
Não vem dos tempos de Solana porque Javier Solana funcionava de acordo com o Maastricht. Estes agora funcionam com o acordo de Tratado de Lisboa, que é completamente diferente. O que se passa é que os pequenos países, principalmente como Portugal, se vê completamente apagado ou tentam apagar a presença de Portugal na cena externa a nível mundial. Isso é absolutamente impensável porque a diplomacia, como sabe, é um dos pilares da soberania nacional.
Como é que diz que tentam apagar Portugal quando, nas últimas décadas, Portugal teve um Presidente da Comissão Europeia, um Secretário-Geral das Nações Unidas que ainda está em funções, um diretor da Organização Internacional de Migrações…
Bem, eu sou amigo de Durão Barroso, mas considero que houve Presidentes da Comissão Europeia que fizeram mais Portugal do que ele. Quanto a António Guterres, quanto a mim tem sido, não diria um péssimo Secretário Geral das Nações Unidas, mas lá muito perto.
Porquê?
Porque tem sido uma pessoa que tem levantado bandeiras quando não as devia levantar, que tem posto em causa determinados valores e principalmente porque de alguma maneira, tem apoiado directa ou indirectamente movimentos terroristas.
Está a falar do Hamas?
E não só. Eu Não vejo uma condenação da parte António Guterres a parte dos movimentos terroristas, nomeadamente aqueles que são patrocinados Irmandade Muçulmana. Não ouvi uma única palavra de António Guterres relativamente Boko Haram e outras a entidades terroristas, movimentos terroristas que atuam em África, por exemplo.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é um traidor da pátria?
Isso é o nosso Presidente que o qualificou como tal. Eu sou extremo defensor dos valores portugueses. E se ele é um traidor da pátria? Muito provavelmente, do ponto de vista ético e político, é. Eu não quero entrar em considerações jurídicas porque não tenho capacidade. Mas do ponto de vista ético, político é completamente. Um português não entra por onde ele entrou, um português não vai, como o povo costuma dizer, dar o ouro ao bandido quando nem sequer há ouro. Espantou toda a gente, criou um facto político para se livrar de outros factos políticos negativos e a verdade é essa. Estava a ver que a coisa não estava a correr bem para ele, então decidiu criar uma cisão entre os portugueses. Um Presidente da República, um Chefe de Estado tem que ter sentido de Estado, coisa que este Presidente não tem.
Esse sentido de Estado é para unir os portugueses, independentemente do partido que ele vem, mas tem que saber unir os portugueses Eu agora vou dizer uma coisa. Mário Soares era detestado por muitos portugueses, era uma pessoa de quem muitos portugueses não gostavam, mas Mário Soares foi uma pessoa que, enquanto Presidente da República, soube de alguma forma prestigiar Portugal e fazer com que os portugueses se sentissem bem em Portugal, como portugueses. Mário Soares nunca entrou na por este tipo de decisões e de clivagens. Pelo contrário, quando foi o assunto do ouro de Goa, em que nós estávamos com muitos problemas em abrir o Consulado Geral de Portugal em Goa, onde eu fui o primeiro Cônsul-Geral, Mário Soares negociou esse dossiê que era fundamental para que nós pudéssemos avançar nas relações com os indianos que são muito importantes para nós. E Mário Soares fê-lo, mas soube fazê-lo discretamente e sem abrir fissuras nem abrir cisões entre os portugueses. Isso aconteceu e as relações de estabilizaram e até hoje as relações têm sido excelentes, com a Índia.
Dizia que Mário Soares fazia os portugueses sentirem-se bem em Portugal. Quer dizer que os outros presidentes que vieram a seguir não fizeram os portugueses sentirem-se bem em Portugal. Jorge Sampaio, Cavaco Silva, Marcelo Rebelo de Sousa?
Marcelo Rebelo de Sousa não com certeza, porque acha que os portugueses foram ou são criminosos, os outros presidentes nem bem nem mal. E o que é facto é que os portugueses foram migrando.
O novo programa TSF Europa pode ser ouvido de segunda a sexta-feira às 09h15 e às 18h15. Já as entrevistas na íntegra com os cabeças de lista às europeias podem ser ouvidas depois das 16h00 e sempre em TSF.pt até às eleições.