Bastonário acusa ministra de "ligeireza e leviandade" por obrigar obstetras do Barreiro a fazerem urgências no Garcia de Orta
Em declarações à TSF, Carlos Cortes rejeita a medida e fala numa "postura profundamente lamentável": "É o caminho para as coisas fracassarem"
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O bastonário da Ordem dos Médicos acusa a ministra da Saúde de "ligeireza e leviandade", caso avance com o despacho que obriga os obstetras do hospital do Barreiro a fazerem serviço de urgência no hospital Garcia de Orta, em Almada. Em declarações à TSF, Carlos Cortes rejeita a medida.
"Esta postura é profundamente lamentável, é o caminho para as coisas fracassarem. A resposta das maternidades de Setúbal tem sido uma história de fracasso. Parece-me que isto está tudo a ser desenvolvido, mais uma vez, com grande ligeireza e leviandade, quando se devia colocar os vários intervenientes à mesa e pensar não numa solução de remendo ou provisória, que possa levar os médicos a abandonar o SNS, mas, sim, uma solução que permita criar equipas completas e termos urgências e maternidades abertas na Península de Setúbal 24 horas por dia", explica à TSF Carlos Cortes.
A ministra da Saúde quer forçar a equipa de obstetrícia do Hospital do Barreiro a assegurar as urgências no Hospital Garcia de Orta, em Almada. A informação foi avançada na quinta-feira pelo jornal Expresso, que cita o gabinete de Ana Paula Martins, que adianta, por sua vez, que o “despacho só depende da assinatura da ministra e não exige negociação”.
O documento está agora a ser analisado por juristas. A medida deverá ser posta em prática assim que o Governo der início à criação da nova urgência regional de obstetrícia na Península de Setúbal, uma medida anunciada para combater a falta de especialistas.
Esta não é, contudo, a primeira vez que uma mobilização é imposta aos profissionais de saúde. Inclusive, o mesmo modelo foi imposto no Hospital de Santa Maria, quando Ana Paula Martins presidia a instituição, à equipa de saúde materna e obstétrica, que teve de assegurar as urgências do Hospital de São Francisco Xavier, no verão de 2023. O documento foi assinado pelo então ministro da Saúde, Manuel Pizarro.
No entanto, a medida esteve em vigor durante um mês: em resposta à imposição feita pela tutela, sete obstetras do Hospital de Santa Maria rescindiram com o Serviço Nacional de Saúde.