Uma pessoa morreu devido à greve no INEM: IGAS conclui que caso podia ter sido "evitado" com "socorro num tempo razoável"
Foi apontado como solução a circulação de um transporte de emergência médica através de uma "Via Verde Coronária" para os hospitais de Leiria ou Coimbra, onde o homem de 53 anos "poderia ser submetido a angioplastia coronária numa das respetivas unidades hemodinâmicas"
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A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) determinou que pelo menos uma pessoa morreu devido ao atraso no socorro durante a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM). A informação foi avançada esta quarta-feira pelo Expresso.
Em causa está a morte de um homem de 53 anos, residente no concelho de Pombal, após ter sofrido um enfarte agudo do miocárdio. A IGAS concluiu agora que esta situação podia ter sido "evitada, caso tivesse havido um socorro, num tempo mínimo e razoável". Foi apontado como solução a circulação de um transporte de emergência médica através de uma "Via Verde Coronária" para os hospitais de Leiria ou Coimbra, onde "poderia ser submetido a angioplastia coronária numa das respetivas unidades hemodinâmicas".
Já nos casos de um homem de 77 anos, do Algarve, e de uma idosa de 86 anos, no Alentejo, não foi identificada qualquer correlação entre as mortes e o atraso no socorro.
Das e 17.326 chamadas feitas para o INEM no dia 4 de novembro de 2024, 4816 ficaram por atender. A IGAS revelou que esse foi o dia com maior perturbação na atividade dos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU): quem ligou para o INEM naquele dia esperou, em média, entre oito e nove minutos para ser atendido, devido ao congestionamento da linha.
No relatório final, a IGAS estima ainda que 467 das chamadas não atendidas correspondiam a situações de prioridade máxima, com vítimas que necessitavam de meios altamente diferenciados
A 4 de novembro de 2024, a greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar às horas extraordinárias coincidiu com a paralisação geral da administração pública. Durante todo o dia, os poucos técnicos que estavam a trabalhar não tinham mãos a medir, tendo em conta também um número muito elevado de chamadas.
No contraditório, os responsáveis do INEM asseguram que a taxa de abandono das chamadas não reflete a ausência de socorro à totalidade das situações e alegam que se verificou um número alargado de contactos diretos com as corporações de bombeiros, que assumiram a assistência às vítimas
Nas conclusões do relatório, a IGAS referiu ainda que se verificou o incumprimento dos serviços mínimos de 80% dos técnicos escalados para o CODU no turno da tarde, e afirmou que o INEM não recebeu os pré-avisos de greve. Por isso, recomenda, por exemplo, que a secretaria-geral do Ministério da Saúde defina procedimentos mais adequados quando os pré-avisos não são remetidos a todas as entidades.