Opositor russo ter-se-á sentido mal após um passeio e não foi possível reanimá-lo, estando as causas da morte por apurar.
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Alexei Navalny, o maior opositor do Presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, morreu esta sexta-feira na prisão, divulgaram os serviços prisionais da região de Yamal-Nenets em comunicado, citados pela agência Reuters e pela Sky News, e também a agência russa de notícias TASS.
"No dia 16 de fevereiro de 2024, na colónia penal número 3, o preso A Navalny sentiu-se mal depois de um passeio, perdendo a consciência quase de imediato", lê-se no documento divulgado.
A mesma autoridade garante que o pessoal médico da prisão chegou ao local "no imediato" e foi chamada também uma equipa de emergência que, apesar de ter tentado reanimar Navalny, não o conseguiu fazer.
"A morte foi confirmada por médicos", garante, depois de, escreve a agência Interfax, terem tentado a reanimação por 30 minutos.
As causas da morte de Navalny estão a ser apuradas, segundo o Serviço Penitenciário Federal da região autónoma de Yamal-Nenets.
Navalny, de 47 anos, era o principal opositor do regime do Presidente russo, Vladimir Putin, e cumpria uma pena de prisão.
Putin já foi informado da morte, mas o Kremlin, citado pela Sky News, diz não ter mais esclarecimentos a prestar.
O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, disse minutos após a notícia da morte do político russo que "os médicos têm de esclarecer" o que aconteceu.
"Conforme a regulamentação vigente, o Serviço Penitenciário Federal está a realizar todos os esclarecimentos e verificações. Não há necessidade de dar instruções, pois existe um conjunto de normas que orientam a atuação do Serviço Penitenciário Federal", declarou Peskov.
O líder da equipa de Navalny, Leonid Volkov, vê a publicação da prisão como uma "confissão" de assassínio por parte do sistema prisional, mas ressalva que não tem "qualquer forma de confirmar se é ou não verdade" que morreu.
Kira Yarmysh, também da equipa de Navaly, diz que o advogado do opositor está a caminho de Kharp, a cidade onde se localiza a colónia penal, para perceber o que aconteceu.
"O Serviço Penitenciário Federal de Yamalo-Nenets está a divulgar notícias sobre a morte de Alexei Navalny. Ainda não temos qualquer confirmação deste facto. O advogado de Alexey está agora a voar para Kharp. Assim que tivermos alguma informação, comunicá-la-emos", escreveu a porta-voz de Navalny, Kira Yarmysh, na rede social X.
Morte de Navalny é desaparecimento de "outro destino para a Rússia"
A especialista em Rússia e espaço pós-soviético Sandra Dias Fernandes alerta que, com a morte de Navalny, desaparece “o rosto daquilo que os russos, grande dos russos, querem para a Rússia”.
Em declarações à TSF, a também professora na Universidade do Minho aponta que Navalny “decidiu sacrificar a vida, no sentido literal” por um “futuro para a Rússia que não fosse o futuro que Putin construiu para o país”.
“É um impacto muito grande sobre a possibilidade de a Rússia se renovar, de se transformar e de que a sociedade civil possa emergir. Já tínhamos obviamente sérias dúvidas sobre o horizonte temporal para que isso pudesse acontecer”, explicou, lamentando a morte de uma pessoa “tão jovem, de 47 anos” em nome dos que "querem outro destino para a Rússia, querem liberdades, querem progresso e não o regime que se instalou e que está cada vez mais verticalizado, cada vez mais fechado na perspetiva das eleições que ocorrem já no próximo mês”.
A campanha para as eleições russas começa oficialmente este sábado, mas não há um rosto da oposição, uma vez que Boris Nadezhdin, o único candidato que se opunha a Putin, “não conseguiu as assinaturas necessárias”.
A oposição de Navalny “era muito atípica”, explica Sandra Dias Fernandes, porque este “funcionava literalmente em rede, conseguiu construir um movimento muito original” que resume numa “nebulosa de pessoas” para evitar que sejam caladas: "Ele trabalhou muito a partir da fundação anticorrupção, que foi fechada e que produziu aquela célebre reportagem sobre a mansão exuberante que Putin tem perto de Sochi, mas de facto Navalny não era uma pessoa sozinha, no sentido em que construiu uma rede de pessoas que foram mantendo viva essa ideia de que na Rússia há vozes alternativas”.
Com a morte de Navalny e sem oposição formal nas eleições, "o sistema continua exatamente como estava antes, controlado, centralizado e em que não existe, do ponto de vista sistémico, uma verdadeira oposição ao regime”, uma vez que “os aspetos de oposição que existem são todos encenados e controlados pelo partido do Presidente Putin, que é a Rússia Unida”.
UE acusa Rússia pela morte
O líder do Conselho Europeu, Charles Michel, escreveu na rede social X que Navalny "lutou pelos valores da liberdade e democracia", mas também que fez o "derradeiro sacrifício pelos seus ideiais".
"A UE vê o regime russo como responsável único pela sua trágica morte", aponta o responsável europeu, que diz que os lutadores morrem, "mas a luta pela #liberdade nunca acaba".
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, também acusou a Rússia de ter tirado "a liberdade e a vida" a Alexei Navalny, frisando, porém, que a dignidade do ativista anticorrupção permaneceu inalterada.
"Horrorizada com a morte de Alexei Navalny, galardoado com o Prémio Sakharov [do Parlamento Europeu para a liberdade de pensamento]. A Rússia tirou-lhe a liberdade e a vida, mas não a dignidade", escreveu Metsola, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).
"O mundo perdeu um lutador cuja coragem ecoará através de gerações", acrescentou a líder da assembleia europeia, vincando que "a sua luta pela democracia continua a existir".
NATO quer investigação
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, defendeu que a Rússia tem "questões muito sérias a responder" e exigiu a Moscovo uma investigação completa ao sucedido.
"Todos os factos devem ser apurados e a Rússia tem sérias questões a responder", disse Stoltenberg aos jornalistas à margem da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, evento que hoje começou.
O secretário-geral da NATO admitiu que não tem informações sobre as causas da morte de Navalny, pelo que insistiu na importância de apurar todos os factos.
"A Rússia tem algumas questões muito sérias para responder, mas o que temos visto é que a Rússia tem-se tornado cada vez mais autoritária e tem usado a opressão contra a oposição há muitos anos", afirmou.
O responsável da NATO evocou Alexei Navalny como "uma voz forte para a liberdade e para a democracia durante muitos anos", recordando que a Aliança Atlântica e os seus aliados vinham a apelar para a "libertação imediata" do opositor russo.
Stoltenberg acrescentou que os seus pensamentos estão com a família e os entes queridos de Navalny.
"Continuamos empenhados em apoiar todos os que acreditam na democracia e na liberdade, como Alexei Navalny fez durante tantos anos", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de a morte de Navalny estar relacionada com as próximas eleições presidenciais russas, agendadas para março, Stoltenberg não quis especular.
"Continuarei a pedir à Rússia que se certifique de que todos os factos são apurados, que responda a todas as perguntas que lhe serão feitas e, a partir daí, poderemos dizer mais", afirmou.
A França considerou que Navalny "pagou com a vida" a resistência a "um sistema de opressão".
"A sua morte numa colónia penal recorda-nos a realidade do regime de Vladimir Putin", escreveu Stéphane Séjourné nas redes sociais, citado pela agência francesa AFP.
"À sua família, aos seus entes queridos e ao povo russo, a França apresenta as suas condolências", acrescentou.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou tristeza pela anunciada morte do dissidente russo, lamentando que tenha pagado a sua coragem com a vida.
"Qualquer pessoa empenhada na democracia deve temer pela sua segurança e pela sua vida e é por isso que estamos todos muito tristes", acrescentou, citado pela agência francesa AFP.
Scholz reagiu à morte de Navalny durante uma conferência de imprensa em Berlim, juntamente com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Por sua vez, o líder ucraniano diz ser "óbvio" que Vladimir Putin está diretamente ligado à morte de Navalny.
"É óbvio para mim que (Alexei Navalny) foi morto como milhares de outros que foram torturados até à morte por causa de uma pessoa, Putin, que não se importa com quem morre, desde que mantenha a sua posição", declarou Zelensky durante a conferência conjunta com Scholz.
Zelensky declarou que Putin "terá de responder pelos seus crimes".
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, lamentou a "imensa tragédia" que a morte do líder da oposição representa para o povo russo, prestando homenagem à coragem do "mais feroz defensor da democracia" da Rússia.
"Esta é uma notícia terrível. Como o mais feroz defensor da democracia na Rússia, Alexei Navalny demonstrou uma coragem incrível ao longo da sua vida", escreveu Sunak nas redes sociais.
"Os meus pensamentos estão com a sua mulher e com o povo russo, para quem esta é uma tragédia imensa", acrescentou.