O primeiro CLAIM, centro local de apoio à integração de migrantes, abriu este mês, no Alentejo central. Junta-se assim, ao centro de acolhimento do Serviço Jesuíta aos Refugiados, em Vendas Novas
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“É o primeiro e único do Alentejo central”, assim se apresenta o Centro local de apoio à integração de migrantes (CLAIM), em Vendas Novas, distrito de Évora, nas palavras de Cristina Frade, coordenadora do serviço de desenvolvimento social do município alentejano.
Ainda a meio gás, o novo CLAIM abriu portas este mês de Janeiro, mas atende os migrantes apenas durante três dias por semana, em horário parcial. “A população migrante é muita” em Vendas Novas, afirma Cristina Frade. Dados de 2023 indicavam 777 migrantes documentados no concelho, embora se estime que o número seja bastante maior. Daí que o CLAIM “seria uma necessidade há muito desejada localmente”, conclui.
A coordenadora do CLAIM de Vendas Novas, Inês Catarino, nota que os pedidos de apoio chegam, sobretudo, de “cidadãos brasileiros e indianos”, com “muitas famílias” e “jovens adultos homens”, que procuram regularizar a sua situação em Portugal. No entanto, a “resposta central da AIMA [Agência para a integração, migrações e asilo] tem sido muito difícil”, admite Inês Catarino, mas “estamos todos prontos para colaborar e ajudar quem chega”. A responsável garante que Vendas Novas está “sempre pronta a acolher toda a gente”.
Exemplo disso é o centro de acolhimento do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), a poucos metros do CLAIM. Aqui, residem 31 requerentes de asilo, provenientes do Afeganistão, Somália, Etiópia, Eritreia, Camarões, Nigéria, Líbia e Síria. “Temos duas famílias do Afeganistão”, detalha a directora Carolina Santos, “e 21 cidadãos isolados”, a maioria refugiados que chegaram à Europa em barcos humanitários.
Aberto desde Setembro, num antigo colégio dos salesianos, o centro de acolhimento aos refugiados tem capacidade para acolher entre 75 a 115 pessoas.
“Ainda temos capacidade para receber mais gente”, afirma Carolina Santos, realçando “a vontade (da comunidade local) de apoiar esta integração”.
Alguns refugiados, como Kiflay, inscreveram-se no ginásio de Vendas Novas, logo na primeira semana. Oriundo da Eritreia, Kiflay abandonou o país há oito anos. Esteve em Malta, de onde foi enviado para Portugal, ao abrigo do programa de recolocação de requerentes de asilo. Há quatro meses no centro de acolhimento, Kiflay já tem amigos portugueses, sente-se bem-vindo em Vendas Novas e tem aulas diárias de português.
“A língua é o primeiro desafio para todos os refugiados”, salienta Hamed Hamdard, técnico social do JRS, que chegou do Afeganistão, há três anos, com a mulher e as três filhas. Tendo sido acolhido no centro do JRS em Lisboa, Hamed ajuda agora outros refugiados como ele. Foi Hamed que sugeriu algumas formações administradas no centro, por exemplo, de literacia financeira, como abrir uma conta bancária, além de prestar apoio nos documentos de identificação, da AIMA, segurança social, saúde ou finanças.
A directora do centro de acolhimento, Carolina Santos, acredita que ter refugiados entre os colaboradores confere outra “sensibilidade” à equipa. No caso de Hamed, ele ajuda também na comunicação, servindo de tradutor aos afegãos com dificuldades no inglês. No caso da primeira família acolhida no centro, constituída por sete pessoas, apenas o filho mais velho arrisca falar português. Sekandar recorda que “a situação era crítica” no Afeganistão. Daí que a família tenha decidido partir, à procura de um “futuro melhor”. Estudante de ciências da computação no Afeganistão, Sekandar sonha terminar a formação e arranjar trabalho em Portugal, um país “que sabe acolher os refugiados”.
Vinda da Etiópia, Haregwain, 27 anos, passou pela Líbia, antes de chegar a Portugal. No centro em Vendas Novas, tem aulas de português, mata o tempo livre a ver filmes e já fez amigos entre “os rapazes”, conta divertida. Antiga gestora na Etiópia, Haregwain é a única mulher entre os cidadãos isolados de centro. Fugida da guerra, demorou um ano e meio a chegar a Portugal. Agora, garante que está feliz.