Corrida aos rádios a pilhas: apagão acorda "aconchego" que "já estava esquecido"
Sem internet, televisão ou jornais digitais, o rádio foi, esta segunda-feira, o único meio a veicular informação minuto a minuto para os portugueses. Nas lojas de eletrodomésticos a procura disparou, quer para comprar, quer para colocar pilhas nos rádios mais velhinhos que muitos ainda guardam em casa
Corpo do artigo
A TSF sobe ao prédio de Susana, no Algarve, onde o rádio a pilhas da vizinha do rés-do-chão tornou-se a “rádio solidária” que ecoou por todos os andares.
"Nós temos umas traseiras e um pátio comum lá atrás. A minha vizinha pôs um rádio para todo o prédio ouvir o que se estava a passar”, conta Susana, que trabalha numa empresa que efetua visitas de barco na Ria Formosa.
"Foi de uma grandiosidade e um aconchego”, confessa.
Na baixa de Faro, a TSF fala agora com João Soares, proprietário de uma loja de eletrodomésticos, que só lamenta que as marcas principais tenham abandonado o fabrico de rádios. Por lá, não faltaram clientes a sair de mãos a abanar.
Como se habituaram há uns anos a comprar esses rádios aqui, vinham à sua procura, mas infelizmente têm vindo a desaparecer do mercado e não os conseguimos satisfazer.
Além da corrida aos rádios a pilhas, houve também quem procurasse os pequenos fogões campingás, para aquecer ou confecionar a comida, em alternativa aos fogões elétricos.
João conta ainda que encerrou a loja perto das 17 horas, porque não tinha rede multibanco. Quando chegou a casa, foi através da rádio que se pôs a par da atualidade: "Fui descobrir um rádio Panasonic bastante antigo e que já estava esquecido, coloquei-lhe as pilhas e foi a nossa 'entretenha' para sabermos alguma informação."
A rádio é uma coisa que a gente esquece, com esta nova era do digital, mas ontem foi muito importante voltar a ouvi-la.
A TSF deixa a loja de eletrodoméstico e dirige-se até um pequeno restaurante de Luis e Bruna Lopes, pai e filha, onde a comida esgotou e os clientes nem se importaram de a comer fria.
Bruna conta que o pai tem rádio a pilhas, “que até tem televisão”, mas guardou-o tão bem que não o encontrou.
"Mais uma vez vemos que os aparelhos antigos fazem falta, temos que voltar ao antigamente, não é essas 'internets' malucas que vão logo abaixo”, remata Luis.
Só José Cavaco, de 83 anos, não tem rádio, nem se importou de não consumir notícias durante tantas horas. Levou com calma toda a situação e está otimista para o futuro: "Não me lembro de um apagão tão grande, mas não vai haver mais nenhum, só se houver para aí uma guerra nuclear."