Há um "equívoco muito lusitano" com Carminho, um fado e os Óscares: não está nomeada, mas porquê?
A haver prémio para "Pobres Criaturas", o Óscar vai para o compositor Jerskin Fendrix, que não o vai partilhar com a fadista.
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É um caso "muito lusitano de se pôr as coisas portuguesas um bocadinho à frente do resto" e, desta vez tem os Óscares, os prémios da academia norte-americana de cinema, como palco. Assim resume Rui Pedro Tendinha, crítico de cinema e autor do programa TSF Cinema, o equívoco em torno de Carminho e da nomeação de "Pobres Criaturas".
No filme de Yorgos Lanthimos, que está nomeado para a categoria Best Original Score, a fadista surge a interpretar o fado "O quarto" e este tema até integra a banda sonora, mas a portuguesa não faz parte da nomeação do filme, como a TSF chegou a noticiar. A explicação é simples: "Nos Óscares, só canções ou partituras originais."
Ou seja, tratando-se este de um "fado tradicional, clássico, nunca poderia ser nomeado porque não é uma música original", mas sim uma "reinterpretação".
O assunto até já tinha sido debatido em 2013, "quando se falou que Rodrigo Leão, com The Butler (O Mordomo), poderia ser nomeado". Não aconteceu, explica Rui Pedro Tendinha, "porque a maior parte da sua partitura musical eram variações de composições já feitas".
Transportando o assunto para 2024, repete-se o tema: "Há aqui um grande equívoco, a Carminho não está nomeada ao Óscar." O que está nomeado, afinal, "é o score, a partitura musical, a música instrumental do filme", que o crítico classifica de "brilhante".
Assim sendo, caso "Pobres Criaturas" vença, Carminho "não vai compartilhar o Óscar" com o compositor do filme, Jerskin Fendrix, ele, sim, nomeado.
E neste caso, nem o nome da categoria é um tema pacífico: "Convém desmistificar, não é a banda sonora nem o conjunto das canções. É a composição musical, a música de fundo de um filme." Para as canções "há a categoria da canção, tão simples quanto isso".
Esta terça-feira, ficou também a saber-se que "Homem-Aranha: Através do Aranhaverso" está nomeado na categoria de Melhor Longa Metragem de Animação. Também tem mão portuguesa, a de Joaquim Aranha dos Santos, que codirigiu o filme enquanto realizador, mas nem aí o Óscar poderá chegar a mãos portuguesas: "Quem recebe o Óscar são os produtores."
No meio destas ligações a Portugal há até uma outra: a de Milo Machado Graner, "que já nasceu em França, mas é filho de mãe portuguesa e fala português".
O ator, agora com 15 anos, integra o elenco de "Anatomia de uma Queda", nomeado para cinco Óscares, e parte como um dos favoritos aos César para "Melhor Esperança Masculina de Interpretação".