Carneiro desafia Montenegro a olhar para PS como “parceiro de diálogo em questões de regime”
Embora em campanha interna, José Luís Carneiro já fala como líder do PS
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José Luís Carneiro junta à mesa cinco fundadores do PS e o histórico socialista Manuel Alegre. É o primeiro ato de “campanha” para a sucessão de Pedro Nuno Santos e o pretexto para que, numa altura em que se fala da revisão da Constituição, José Luís Carneiro peça a Montenegro para não ignorar o PS “nas questões de regime”, colocando em causa “um compromisso histórico com mais de 50 anos”.
O mais que provável sucessor de Pedro Nuno Santos convocou os fundadores do partido, para um almoço da Assembleia da República, para “olhar para os últimos 50 anos”, mas também para “os próximos 50 anos que o país vai ter de encarar”.
E, a pensar no futuro, José Luís Carneiro admite que está disponível para dialogar com o Governo de Luís Montenegro, sob determinadas condições: “Uma das condições é que o Governo da AD estabeleça como seu parceiro de diálogo, nomeadamente nas questões de regime, o PS.”
“É impensável que se utilizem vias que possam colocar em causa este compromisso histórico, que tem mais de 50 anos e que foi fundador das nossas liberdades, direitos e garantias fundamentais”, acrescenta o socialista.
Manuel Alegre pede “estabilidade”, mas alerta AD para “subversão do regime”
O presidente honorário do partido e histórico socialista, Manuel Alegre, que apoiou Pedro Nuno Santos na anterior contenda interna, avisa que “não pode haver uma revisão da Constituição que deixe de fora o PS. Mais do que isso: “Não pode haver uma revisão da Constituição que seja uma subversão do regime."
Certo é que, depois do desaire eleitoral que culminou no terceiro pior resultado em legislativas do PS, o partido parece alinhado em dar condições de “estabilidade” para a governabilidade de Montenegro.
“O partido tem de contribuir para a estabilidade. Concordo que devemos fazer o necessário pela estabilidade do país. Não podemos passar a vida em eleições. O PS é um partido de grande responsabilidade, pode ser tão importante na oposição como no poder”, sublinha o histórico socialista Manuel Alegre.
Em linha, o fundador Arons de Carvalho desafia José Luís Carneiro a assumir um papel de oposição construtiva: “Uma coisa é ser um suporte do Governo e apoiar inevitavelmente todas as medidas, outra coisa é ter uma posição construtiva de oposição democrática, de forma a encontrar uma boa alternativa no futuro, em novas eleições”.
Quanto ao desaire eleitoral, Arons de Carvalho reconhece que “foi um erro impedir que o Governo continuasse”, com o chumbo da moção de confiança que deitou abaixo Luís Montenegro. Ainda assim, “é fácil oferecer prognósticos depois do fim do jogo”, pelo que o fundador do PS quer “pensar no futuro”.
Um futuro que será, muito provavelmente, com José Luís Carneiro como secretário-geral do PS, que já assumiu que está disponível para dialogar e chegar a consensos com Luís Montenegro.