"É para o pescador, é para o pé descalço." Porto de pesca de Olhão com buracos no asfalto, armazéns sem água ou sanitários
Mestres e pescadores de embarcações garantem que há anos alertam para os problemas da Docapesca, entidade que gere esta infraestrutura
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Quando chegam do mar, as conversas entre os pescadores de Olhão voltam constantemente ao mesmo tema: o estado em que se encontra o porto de pesca. Manuel Carrada e o companheiro de faina falam sobre o asfalto. ”Buracos?”, questiona. "Em dias de chuva é só poças de água, eu já evito vir por aqui, vou dar a volta”, diz o pescador.
"Da entrada até aqui está tudo partido, é uma vergonha”, considera. Para chegar até aos armazéns onde se encontram e guardam os apetrechos de pesca, estes homens são obrigados a fazer uma gincana para se desviar dos enormes buracos no pavimento. A Docapesca já colocou no local um sinal com o aviso “piso em mau estado”, mas apenas quando, asseguram os pescadores, um dos homens do mar partiu a suspensão do carro que conduzia. “Não pagaram nada porque disseram que ele devia ter chamado a polícia”, contam.
Os problemas no porto de pesca não terminam aqui. As escadas que dão acesso às embarcações estão enferrujadas e algumas já se sustêm apenas agarradas por cordas. Os armazéns também poucas condições oferecem. ”Não têm água, não têm luz”, diz um. “Não, luz têm”, corrige outro, “mas não têm água, nem casa de banho. Não são obrigados a fazer isso?”, pergunta, indignado. Queixa-se também da renda mensal. “O armazém é mais caro do que um apartamento, pago 300 euros mensais”, lamenta.
João Carlos Jesus, aquacultor que produz ostras, lembra que durante a noite, muitas vezes, as embarcações são alvo de furtos. “As luzes muitas vezes só acendem à meia-noite e depois roubam os barcos”, conta. ”Nós só pagamos impostos”, lamenta. Assegura que da parte da Docapesca já ouviu ao longo dos anos muitas promessas, mas até hoje elas não têm tido concretização. “É o pescador, é o pé descalço, é para acabar”, lamenta.
Na resposta enviada à TSF, apenas depois da notícia ter sido divulgada, a Docapesca reconhece que “existem áreas e infraestruturas do Porto de Olhão que não foram ainda contempladas com intervenções mais profundas e que necessitam de uma requalificação”. A empresa do setor empresarial do Estado que gere os portos de pesca em Portugal refere que desenvolve a sua atividade exclusivamente com recurso a receitas próprias – sem transferências do Orçamento do Estado – e que tem procurado formas alternativas para intervenções de maior volume, através de candidaturas ao Programa Operacional MAR 2020 e MAR 2030, bem como “a definição de contrapartidas com investidores privados que demonstrem interesse em desenvolver projetos naquelas áreas".
Neste caso, é esta última solução que poderá ser seguida, visto que a Docapesca assinala que está em articulação com o Município de Olhão a desenvolver um estudo com “uma proposta de reordenamento do porto que iria proporcionar melhores condições à comunidade piscatória e criar alguns espaços para a náutica de recreio, e que iriam garantir o financiamento dessa reabilitação das infraestruturas do porto”. De acordo com esta empresa no porto de Olhão, os investimentos que teriam de ser realizados ascendem a dez milhões de euros.
No entanto, a Docapesca admite que “ainda não estão criadas as condições para avançar com esse projeto” e contratou, entretanto, uma empresa da especialidade, “um projeto de execução para a realização de uma intervenção de reforço estrutural que permita manter as condições de segurança”. Obras ainda sem prazo para avançar.
Notícia atualizada às 12h23