Preferir ambientes climatizados, manter a hidratação e comer fruta. Eis as recomendações da DGS para onda de calor
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) prevê temperaturas acima dos 30 ºC nos próximos dias. A mudança é súbita e acontece muito antes do habitual. Em entrevista à TSF, o coordenador da DGS para o plano sazonal Pedro Ferreira deixa um aviso sobretudo para idosos, crianças e doentes crónicos
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Vamos ter um período de calor intenso e noites tropicais, muito quentes, que não vão permitir uma recuperação fisiológica do corpo humano relativamente aos efeitos de calor que vai estar exposto. Nesse sentido, temos os nossos planos de contingência ativados e prontos para dar resposta, privilegiando as pessoas que pertencem a grupos vulneráveis, nomeadamente pessoas com 65 e mais anos, crianças nos primeiros anos de vida, grávidas, pessoas com doenças crónicas, pessoas que exercem atividades profissionais ou lúdicas ao ar livre, em situação sem abrigo e em situação de isolamento social.
As principais medidas são, por um lado, minimizar a exposição ao calor e, por outro lado, tentar garantir que as pessoas possam permanecer num ambiente climatizado duas a três horas por dia, que lhes permite alguma recuperação fisiológica do efeito do calor a que vão estar expostas.
E como vão fazer esse aspeto concreto?
As próprias pessoas têm de procurar estar em ambientes climatizados. Passa por permanecer em espaços como, por exemplo, de centros comerciais que permitem estar em ambientes com temperaturas controladas. A outra grande medida é a hidratação. Aconselhamos a ingestão de água, mesmo que as pessoas não tenham sede e de forma a minimizar o risco de desidratação. Devem ser evitadas bebidas com teores de açúcar elevado, cafeína e bebidas alcoólicas. Em termos de alimentação, reforçar a ingestão de frutas e hortícolas, porque são alimentos que contêm uma igual percentagem de água na sua composição.
Isto significa que estão a acionar o plano sazonal para o calor...
Sim, o plano sazonal já está ativo. Estes planos têm níveis de contingência que são ativados de acordo com o risco e com a situação de avaliação de risco de cada local.
A indicação que temos do IPMA é que isto será uma coisa de poucos dias. Não tem a certeza?
Não, as previsões ainda não nos permitem aferir com certeza qual vai ser a direção deste período quente.
Poderá ser uma onda de calor?
Poderá, eventualmente, em alguns locais, configurar uma onda de calor. No entanto, a nossa preocupação está também na forma como este período de tempo quente surge. Normalmente estes períodos são frequentes durante os meses de maior calor, julho e agosto. Neste caso, temos tido temperaturas amenas e este é o primeiro período de tempo quente.
É súbito, não é?
É súbito e acarreta que as pessoas podem não estar sensibilizadas para esta situação.
Estes conselhos são dados periodicamente, falamos sempre sobre os riscos do calor... Pergunto-lhe, fisiologicamente, qual é o efeito do calor no corpo humano. Porque é que é tão perigoso?
Quando a temperatura sobe, o nosso corpo humano vai ativar mecanismo para dissipar algum deste calor. No entanto, estes mecanismos, principalmente em pessoas com comorbilidades, podem estar diminuídos, o que podem levar um aumento da temperatura corporal. Isto traduz-se por um aumento da própria temperatura, ficamos com a pele avermelhada, podem ocorrer desmaios, cãibras e podem ocorrer episódios de exaustão por calor. No limite, pode chegar mesmo a um golpe de calor, que é uma situação potencialmente fatal.
De qualquer forma, se esta situação do for apenas de dois ou três dias, em princípio basta ter algumas cautelas, certo?
Sim, quanto mais reduzido for o período à partida, o menor será o risco. Períodos prolongados de temperaturas muito elevadas acabam por ter um efeito cumulativo em termos de stress induzido ao corpo humano. Quanto maior for esse período, mais serão os efeitos. Se aqui se se tratar de um período de apenas dois ou três dias, os riscos serão menores, mas existem na mesma.