Falta de profissionais, pouco investimento e recurso aos privados: estudo aponta principais problemas do SNS
O relatório sublinha que os governos devem investir na literacia da população portuguesa relativamente ao sistema de saúde e ao SNS
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Falta de recursos humanos, pouco investimento e recurso aos privados: este são os principais problemas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) identificados pelo Observatório da Fundação para a Saúde.
Um conjunto de especialistas reviu as políticas dos últimos nove anos e apontou os pontos altos e baixos do SNS, deixando alertas à população. O estudo, publicado esta terça-feira, já foi entregue à ministra da Saúde, Ana Paula Martins.
A fundação destaca neste documento dois momentos na história recente do SNS, sendo eles a crise económica e financeira que Portugal atravessou e a pandemia de Covid-19. Estes são os dois grandes motivos que podem explicar os problemas no serviço, já que provocaram "fortes cortes orçamentais", criando condições de trabalho cada vez mais adversas para os profissionais de saúde.
Quanto aos anos mais recentes, o Observatório da Fundação para a Saúde critica a promoção de respostas com recurso aos privados, sem antes investir nos cuidados do SNS.
"Não parece aceitável o argumento de que 'como as unidades do SNS deixaram de ser atrativas para os profissionais' então há que promover a soluções privadas, sem recorrer aos instrumentos disponíveis para corrigir rapidamente problemas há muito identificados", argumentam.
O relatório defende ainda que o sistema mais complexo que existe num país não pode ser governado "dossier a dossier". Os especialistas pedem assim uma abordagem sistémica.
Quanto aos pontos altos, a Fundação para a Saúde aponta o esforço para a realização das cirurgias em atraso, a criação da linha SNS Grávida e a Lei de Bases da Saúde.
Sobre os problemas, mas agora em relação ao futuro, o relatório lamenta que a ideia de centro de saúde tenha desaparecido do discurso político. Os especialistas defendem que os cuidados primários devem ser a principal porta de entrada no SNS, mas a maior questão a ser resolvida, acrescenta o estudo, é mesmo a falta de recursos humanos.
"O enfraquecimento da ideia de 'centro de saúde', que se tem observado nos últimos anos, é, a um prazo não muito distante, fatal para o futuro do SNS", alertam.
O documento afirma que é urgente criar melhores condições salariais, de trabalho e de carreira para atrair e reter mais profissionais.
O relatório sublinha ainda que os governos devem investir na literacia da população portuguesa relativamente ao sistema de saúde e ao SNS.
"Qualquer transformação do sistema de saúde português em benefício das pessoas não se fará sem promover a sua literacia e participação no aperfeiçoamento de um sistema de saúde de importância tão relevante para o seu bem-estar. E isso faz parte da missão da Fundação para a Saúde e do seu Observatório 'SNS em Foco'", lê-se no documento.