"Sequela invisível." Todos os anos oito mil pessoas que sobrevivem a um AVC ficam com afasia
Assinala-se, esta segunda-feira, o Dia Nacional do Acidente Vascular Cerebral (AVC), a principal causa de morte em Portugal. No entanto, 40% das pessoas que sobrevivem ao AVC sofrem de afasia, ficam com dificuldade de falar, compreender, ler e escrever
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Em Portugal, por hora, três pessoas sofrem um AVC, dos quais dois terços sobrevivem. Perto de metade desses sobreviventes poderá ficar com afasia para toda a vida. “É uma sequela crónica adquirida por uma lesão cerebral nas áreas do cérebro que processam a linguagem. Para a maior parte das pessoas, essas áreas estão no hemisfério esquerdo e, portanto, quando acontece aí uma lesão cerebral e há uma disfunção no funcionamento nessa área, a pessoa fica com dificuldades a dizer aquilo que quer, aquilo que pensa, a dizer as palavras, a dizer as frases, a articular, fica com dificuldade a compreender o que os outros dizem, a ler e a escrever”, explica Paula Valente, diretora-executiva do Instituto Português da Afasia (IPAFASIA).
Através de extrapolações estatísticas, o IPAFASIA calcula que a prevalência de pessoas com afasia em Portugal ronde os 40.000 casos, o que equivale a que surjam todos os anos cerca de oito mil novos casos de afasia no país.
Para sensibilizar a população e dar visibilidade a esta realidade, a IPAFASIA, no mês em que se assinala do Dia Nacional do AVC, tem vindo a lançar um alerta com uma pergunta: E se um AVC lhe roubasse a voz? “Queremos alertar a população e a comunicação social para esta sequela do AVC, porque efetivamente estas pessoas, se não comunicarem, se ficarem caladas, ninguém se apercebe que elas têm esta dificuldade ou estas limitações, porque é considerada uma sequela invisível e é necessário e urgente criar respostas mais adequadas para ajudar estas pessoas a terem uma vida com qualidade, bem-estar e integração social”, refere Paula Valente.
A diretora-executiva do IPAFASIA considera ser necessário um olhar “mais atento para esta condição e de políticas públicas eficazes” que garantam um melhor acompanhamento e reabilitação dos doentes, sublinhando que atualmente não existe capacidade de resposta no Serviço Nacional de Saúde.
“Existem poucos terapeutas da fala nos hospitais, nos centros de reabilitação, nas unidades de cuidados continuados, as pessoas não têm acesso à terapia que está indicada para melhorar a afasia nessa fase inicial, mas o problema depois ainda é maior quando as pessoas já estão numa fase de chegada à comunidade, de retorno a casa e aí ainda é mais difícil encontrar soluções, a própria comunidade não tem respostas nem apoios para estas pessoas, o que faz com que elas fiquem muito isoladas”, lamenta Paula Valente, que entende ser urgente “começar a haver uma continuidade maior no tratamento destas pessoas, no acompanhamento, mas sobretudo com um foco em ajudá-las a serem funcionais, a comunicarem e a retomarem atividades que são importantes para si”, acrescenta.
A diretora-executiva do IPAFASIA adianta ainda outra realidade que coloca a nu a necessidade urgente de respostas para quem sofre de afasia. “Um estudo recente indica que 70% das pessoas com afasia crónica em Portugal fica com depressão”, diz.
