Antes da grande dessalinizadora do Algarve, já existe outra que trabalha há 16 anos
Grupo hoteleiro avançou com o equipamento numa altura de stress hídrico na região
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Quando a dessalinizadora começa a trabalhar o ruído é enorme. Paulo Justino, o técnico que faz a manutenção, já percebe se uma máquina avaria só pelo som. "Uma pessoa vai-se habituando aos ruídos e ao trabalhar dela", explica. O equipamento está colocado num grande armazém junto aos seis hotéis do grupo Pestana, em Alvor.
O grupo hoteleiro decidiu apostar na instalação de uma dessalinizadora própria em 2008, depois de o Algarve ter passado por uma crise hídrica. A infraestrutura trabalhou durante dez anos, até 2018, e depois disso, com melhores anos de chuva, foi desativada. Neste momento, com a seca que se faz sentir na região, foi preciso reequipá-la e ligá-la de novo. O administrador do grupo hoteleiro afirma à TSF que, de 100 metros cúbicos de água salgada que retiram de dois furos junto ao mar, 55 metros cúbicos são transformados em água doce. "Pensamos utilizar este ano sensivelmente 10 mil metros cúbicos de água doce", estima Pedro Lopes. Essa água, nas contas do administrador hoteleiro, será uma poupança relativamente à água que se retira da rede pública e que equivale ao abastecimento de 900 famílias por ano.
Nos seis hotéis desta cadeia essa água dessalinizada tem várias utilizações: rega de jardins, lavagens e piscinas. Os hotéis estão igualmente a reduzir os caudais dos duches e torneiras, estimando poupar metade da água que consumiam anteriormente. Em grande áreas a relva está também a ser substituída por espécies autóctones que não necessitam de muita rega.
Uma das críticas apontadas às dessalinizadoras é a rejeição da salmoura enviada para o mar após a transformação da água salgada em doce. As associações ambientalistas consideram que essa salmoura pode danificar os habitats marinhos. No entanto, Pedro Lopes garante que, após a instalação do equipamento, fizeram um estudo sobre o impacto que teria a rejeição da salmoura em frente ao empreendimento hoteleiro e ele era nulo. Conta também que têm uma parceria com uma start up sediada na Faculdade de Engenharia do Porto que procura usos para esse sal. Se o estudo der certo, o sal que se retira na dessalinizadora talvez ainda possa ter retorno económico.
A futura central dessalinizadora regional, que será construída perto da praia da Rocha Baixinha (Albufeira) com financiamento do PRR, terá a capacidade para tratar 16 hectómetros cúbicos de água, por ano, podendo atingir os 24, numa segunda fase. Custará cerca de 90 milhões de euros e, na melhor das hipóteses, poderá estar concluída no final de 2026.