"Um monstro de cimento." População de Formoa revoltada com construção de central de bombagem para retirar água do Guadiana
A um quilómetro do Pomarão vai ser instalada a central de bombagem para retirar água do rio Guadiana e levá-la para a barragem de Odeleite
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A Formoa é um típico monte alentejano com as casas caiadas de branco e uma barra azul forte em baixo das habitações e nas janelas. A família de José Gonçalves sempre ali viveu, de frente para o rio Guadiana. Também ele decidiu voltar para a terra, depois de reformado. Conta à reportagem da TSF que ali ouve os pássaros e, no verão, as pessoas ainda se sentam na soleira da porta a conversar. Mas há pouco tempo, aos receios de verem o seu rio ficar cada vez com menos água, os moradores acrescentaram outra preocupação. Tiveram conhecimento que é exatamente em frente ao monte da Formoa que vai ser colocada a central de bombagem que irá retirar água do rio Guadiana para abastecer a barragem de Odeleite, no sotavento algarvio. "Essa paz vai acabar toda porque o que se vai ouvir é o barulho das bombas a retirar água", lamenta. "Vamos ter aqui um monstro de cimento com 42 metros de altura", assegura.
Os habitantes do local não percebem porque é que esta infraestrutura não poderá ser colocada noutro local desabitado. José assegura que, do Pomarão até Mértola, são 25 quilómetros de rio e que só há dois montes habitados. "Porque é que não põem um quilómetro mais à frente?", questiona.
Os moradores já enviaram as suas preocupações à câmara de Mértola e esperam que o Governo ainda pondere alterar o local onde será extraída água para as barragens do Algarve. "Já não tenho muita esperança", confessa José Gonçalves.
Autarca de Mértola preocupado com traçado das condutas de água
O autarca de Mértola garante que já fez o pedido à ministra do Ambiente para que seja reavaliada a localização da central de bombagem, que vai dar cabo "de um sítio fantástico".
A partir desta zona do Pomarão vão sair entre 37 a 41 quilómetros de condutas para levar a água até ao Algarve, passando por vários locais do concelho de Mértola, Alcoutim e Castro Marim.
No Estudo de Impacto Ambiental, que esteve em consulta pública, a autarquia de Mértola colocou muitas reticências ao projeto. O presidente da câmara municipal considera que não faz sentido levar água até ao Algarve sem terem sido previstas ligações às populações no concelho de Mértola que habitualmente são abastecidas por autotanques, como a localidade de Mesquita e Espírito Santo.
"Se o Guadiana serve para dar projeção aquela zona económica de Espanha e para o abastecimento humano ao sotavento algarvio, (...) não se pode dar tratamentos diferentes a territórios iguais, que têm pessoas", afirma. "Mértola merece o mesmo que os outros", argumenta Mário Tomé. O autarca espera que a ministra do Ambiente cumpra a palavra dada recentemente e acrescente as condutas necessárias ao abastecimento de água no concelho.