"É um alerta definitivo para o Governo." Médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde do Algarve convocam greve conjunta
Os profissionais de saúde dizem-se exaustos e acusam o Executivo liderado por Luís Montenegro de não dar resposta aos problemas do setor na região
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Médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico, assistentes operacionais e auxiliares de saúde no Algarve dizem-se “exaustos” e, por isso, vão cumprir uma greve de 24 horas em 7 de agosto, em três hospitais da região e todos os centros de saúde.
Os trabalhadores consideram que o Algarve vive há demasiado tempo com um número insuficiente de profissionais de saúde e acusam o Governo de ignorem a situação na região.
“É incompreensível que o Algarve não tenha sido agraciado com a abertura de vagas carenciadas. De resto, como o Alentejo e as zonas da Beira Interior e de Trás-os-Montes, portanto, não percebemos esta política do Governo e partimos para esta forma de luta”, disse André Gomes, dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, em declarações aos jornalistas, Hospital de Faro.
“Esta é a altura em que o Algarve está mais sobrecarregado e, portanto, este é um alerta definitivo para o Governo. Ou toma medidas, ou o Algarve vai passar pelas mesmas situações todos os anos”, frisou.
Isto não vai lá com tentativas de maquilhagem, como o Governo quer ter, questões de ULS [Unidade Local de Saúde], USF [Unidade Local de Saúde], modelos C, PPP [parcerias público-privadas], não. Isso é maquilhagem para os problemas dos utentes. Os utentes precisam é de médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e assistentes técnicos.
Também Alda Pereira, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, considera que a situação se tornou insustentável: "Cerca de 100 enfermeiros pediram escusa de responsabilidade nas últimas semanas. Só estão a dizer que o Algarve está exausto e que os enfermeiros e todos os outros profissionais estão esgotadíssimos."
O Sindicato da Função Pública garante que a situação com os trabalhadores que lhe são afetos é semelhante e a sindicalista Rosa Franco diz que se verificam diariamente casos muito críticos.
“Neste momento é raro o serviço, que não tem um auxiliar a fazer 16 horas dia sim, dia sim, dia sim. Nas folgas são chamados para vir trabalhar”, adiantou.
Rosa Franco considerou ainda que o Algarve vive uma situação caricata desde que foi extinta a Administração Regional de Saúde, estando cerca de uma centena de trabalhadores sem exercer quaisquer funções desde essa altura.
Trabalhadores sem funções?
Na mesma conferência de imprensa, o Sindicato da Função Pública denunciou que, desde que extinguiram as Administrações Regionais de Saúde (ARS), há muitos trabalhadores a quem ainda não foram atribuídas quaisquer funções.
"Os serviços que estão cá em baixo [Algarve] são a Direção Executiva, a ACSS, o INSA- Instituto Ricardo Jorge e a Direção-Geral de Saúde (DGS)”, explica Rosa Franco", acrescentando: "Neste momento temos cerca de 80 a 100 trabalhadores que transitaram da ex-ARS e estão nestes organismos sem funções."
"Isto não é mais do que assédio moral aos trabalhadores, porque estão proibidos de desempenhar qualquer função que seja", atirou.
Num comunicado enviado à TSF, o conselho de administração da ULS Algarve garante que sempre esteve disponível "para falar sobre os principais problemas, auscultar as reivindicações, acolher as sugestões e acima de tudo trabalhar conjuntamente nas soluções em prol dos trabalhadores da saúde" com as estruturas representativas dos profissionais, dando o exemplo de reuniões em julho com representantes da Ordem dos Enfermeiros e com o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos.
"Naturalmente que num setor como a Saúde existem sempre problemas para resolver e reivindicações dos vários setores profissionais", assume.
E destaca: "A área dos Recursos Humanos, onde a ULS tem trabalhado de forma ativa, alicerçada no cumprimento dos compromissos de valorização profissional no SNS; na aplicação correta e rigorosa dos critérios do sistema de avaliação de desempenho – SIADAP – a todos os profissionais, como é o caso dos enfermeiros da área hospitalar que serão em 2025 avaliados pelo método padrão (competências e objetivos), o que é inédito; nas medidas de valorização das carreiras ou na abertura de procedimentos públicos para contratação de novos profissionais nas mais variadas áreas."
Relativamente à contratação de mais profissionais, a ULS Algarve garante trabalhar proativamente.
"A ULS Algarve tem também nesta área mantido uma atitude muito proactiva através da abertura de diversas bolsas de recrutamento e de procedimentos concursais, disponíveis no website da instituição, com especial incidência nas áreas mais carenciadas e para médicos e enfermeiros", nota, dando um exemplo: "A ULS Algarve assinou ainda em julho contratos com 13 médicos de Medicina Geral e Familiar (MGF) que vão estar ao serviço da população nos vários Centros de Saúde da região. Em termos da contratação de médicos e de enfermeiros foram recrutados para a área hospitalar, desde 1 de novembro do ano transato, 45 enfermeiros e 65 médicos."
Em jeito de conclusão, o conselho de administração anuncia "o maior pacote coerente de investimento em instalações e equipamentos de sempre na ULS Algarve, com financiamento comunitário, o que acompanha a visão de modernização e requalificação do SNS no Algarve".