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Kamala ou Trump, Trump ou Kamala? Esta é a questão a que os mais de 240 milhões de eleitores registados nos Estados Unidos vão responder, esta terça-feira, nas urnas. Com o país exatamente partido ao meio, como pelo menos espelham as sondagens, a campanha eleitoral acentuou as diferenças em temas como a imigração, as guerras internacionais ou a venda de armas nos EUA. Vamos conhecer as principais promessas de democratas e republicanos.
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Com o slogan “Make America Great Again” (em português “Tornar a América grande novamente”), Donald Trump tenta, este ano, voltar à Casa Branca. Já Kamala Harris, atual vice-presidente, assumiu a corrida à Casa Branca em julho, após Joe Biden ter desistido (na sequência de muita pressão do próprio Partido Democrata devido a um mau debate com Trump e dúvidas sobre o seu estado de saúde), e adotou os lemas “When We Fight, We Win” (“Quando lutamos, vencemos”) e “We’re Not Going Back” (“Não vamos voltar atrás”), esperando ser a primeira mulher eleita Presidente dos norte-americanos.
Kamala, do lado dos democratas (com Tim Walz como candidato a vice-presidente), e Trump, pelos republicanos (com J. D. Vance a concorrer para 'vice'), defendem políticas contrárias para o país, nomeadamente, no que toca à imigração, às guerras na Ucrânia e no Médio Oriente, à interrupção voluntária da gravidez ou à economia. Esses contrastes foram notórios durante a campanha eleitoral, desde logo no único debate entre os dois candidatos, em setembro, onde Harris acusou o adversário de dividir os norte-americanos, enquanto o antigo Presidente republicano insistiu que os democratas estão a "destruir" os EUA.
O que defendem os candidatos em oito pontos-chave
A crise na imigração nos Estados Unidos é um dos temas centrais que divide Kamala Harris e Donald Trump e que pode ser decisivo. Em dezembro de 2023, foi registado um número recorde de imigrantes que cruzaram a fronteira entre o México e os EUA: quase 250 mil em apenas um mês, segundo a imprensa internacional.
O candidato republicano considera que os democratas “falharam” e promete deportações “em massa” de imigrantes sem documentos, caso volte à Casa Branca. Na Convenção Nacional Republicana, Trump garantiu que no “primeiro dia” de regresso à Casa Branca fecharia a fronteira entre os Estados Unidos e o México, seguindo uma política “dura” para prender e deportar imigrantes considerados ilegais.
“Para manter a nossa família segura, os republicanos prometem lançar a maior operação de deportação da história do nosso país”, declarou. Já num comício no Colorado, em outubro, afirmou que, se voltar a ser eleito Presidente, qualquer imigrante que "matar cidadãos americanos" enfrentará a pena de morte.
No debate entre os dois candidatos, em setembro, Trump alegou que os imigrantes sem documentos válidos estão a “comer animais de estimação” de cidadãos norte-americanos. “As pessoas que chegam estão a comer os gatos. Eles estão a comer os animais de estimação das pessoas", disse o ex-Presidente, antes de ser recordado pelo moderador do debate de que essas alegações foram oficialmente desmentidas. Perante as declarações de Trump, Harris considerou o antigo chefe de Estado um “extremista”.
O republicano acusou ainda a Administração Biden e Kamala Harris de permitir que "milhões de criminosos" entrassem nos EUA: "Eles destruíram o tecido do nosso país.” Trump sublinhou que, caso Harris vença a corrida presidencial, os Estados Unidos tornar-se-ão numa “Venezuela em esteroides”.
Num comício recente, em Nova Iorque, no icónico Madison Square Garden, o ex-Presidente disse que a democrata "perpetrou a mais escandalosa traição" contra o povo ao "implantar um exército de imigrantes que está a levar a cabo uma campanha de violência e terror contra" os norte-americanos.
Trump reiterou também que o país está a ser “ocupado” e, por isso, vai invocar a lei marcial, utilizada pela última vez durante a Segunda Guerra Mundial, para "deportar imigrantes em massa".
Enquanto Trump defende "deportações em massa" e a construção de um muro na fronteira, Kamala Harris prefere uma reforma do sistema. No único debate entre os dois candidatos, a democrata acusou o republicano de preferir perseguir o “problema” da imigração, em vez de o resolver. Harris destacou a necessidade de adotar um projeto de lei sobre a segurança fronteiriça, para colocar mais agentes e recursos na fronteira. “Mas sabe o que aconteceu com esse projeto de lei? Donald Trump pegou no telefone, ligou para algumas pessoas no Congresso e disse para matarem o projeto", atirou a atual vice-presidente.
Kamala garante que, se for eleita, retomará aquele projeto. “Eu recuso-me a fazer política com a nossa segurança. E aqui está a minha promessa para vocês: como Presidente, trarei de volta o projeto de lei bipartidário de segurança de fronteira que ele [Trump] matou e vou assiná-lo como lei”, garantiu na Convenção Democrata.
“Sei que podemos viver de acordo com a nossa orgulhosa herança de uma nação de imigrantes e reformar o nosso sistema de imigração que está quebrado. Podemos criar um caminho merecido para a cidadania e proteger a nossa fronteira”, acrescentou.
O projeto de lei bipartidário sobre imigração prevê, entre outros aspetos, dar ao Presidente maior autonomia para fechar a fronteira quando as travessias estiverem sobrecarregadas.
Já próximo destas presidenciais, em meados de junho, a Administração Biden abriu caminho à legalização de centenas de milhares de imigrantes, anunciando medidas para facilitar a obtenção de autorizações de residência para os maridos e as mulheres de cidadãos norte-americanos e respetivos filhos que vivem nos EUA sem documentos.
Quando assumiu o cargo de vice-presidente, Kamala Harris (filha de pai jamaicano e mãe indiana) foi incumbida de examinar as causas da migração da América Central para os Estados Unidos. A candidata democrata considerou que o sistema de imigração norte-americano precisa de ser “consertado”.
“Esta questão não pode ser reduzida a uma questão política. Estamos a falar de crianças, famílias, estamos a falar de sofrimento”, disse, em 2021, quando visitou a fronteira entre o México e os EUA. Harris opõe-se à separação familiar e defende a simplificação dos procedimentos para obtenção de um 'green card', isto é, autorização para residir e trabalhar no país permanentemente.
Por um lado, Kamala Harris prometeu apoiar militarmente a Ucrânia “pelo tempo que for necessário”. Já Donald Trump quer que os Estados Unidos se afastem de qualquer conflito em curso no mundo e afirmou que, se for reeleito, acabará com a guerra na Ucrânia em 24 horas.
No debate presidencial em setembro, Trump declarou: “Eu quero que a guerra acabe. Eu quero salvar vidas.” O republicano prometeu resolver a guerra antes de tomar posse, negociando com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e com o líder russo, Vladimir Putin.
"O que farei é falar com um e falar com o outro. Vou reuni-los", disse Trump, acrescentando que o conflito "nunca teria acontecido" se fosse Presidente. Ainda assim, considera que a atitude do Presidente russo foi um “ato de genialidade”. Apesar de apoiar ajuda extra à Ucrânia, Trump defende que o apoio deveria ser dado em forma de um “empréstimo” e não como um “presente”.
Kamala Harris, assim como Joe Biden, tem sido uma parte importante dos esforços para reunir a NATO e outros países em apoio aos ucranianos. “A agressão da Rússia é mais do que apenas um ataque às vidas e à liberdade do povo da Ucrânia”, disse a democrata, acrescentando que é “também um ataque às regras e normas internacionais”.
Harris argumenta ainda que, se a Rússia continuar a agredir a Ucrânia, poderá encorajar Putin a atacar outros países.
Trump é um firme defensor de Israel, enquanto Harris pede o fim da guerra em Gaza e defende uma solução de dois Estados entre israelitas e palestinianos. Assim como afirmou relativamente à guerra na Ucrânia, o republicano também considera que, se fosse Presidente, o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro do ano passado, não teria acontecido.
“Estamos mais perto de uma Terceira Guerra Mundial agora do que em qualquer outro momento desde a Segunda Guerra Mundial. Nunca estivemos tão perto porque temos pessoas incompetentes a governar o país”, atirou o ex-Presidente, sublinhando que os Estados Unidos “precisam de proteger Israel”. “Não há escolha.”
O republicano não revelou as condições sobre as quais Israel deveria terminar a guerra em Gaza e também não sugeriu nenhum apoio aos palestinianos. Trump acusa ainda Harris de "odiar Israel" e acredita que se "ela for Presidente, Israel não existirá dentro de dois anos". A democrata nega as acusações e descreve-se como uma “defensora vitalícia” do Estado judaico.
Apesar de a guerra em Gaza já ter matado mais de 43 mil civis, Kamala Harris tem apresentado uma política de apoio a Israel, como parte do Governo de Biden. Os Estados Unidos já forneceram mais de 12 mil milhões de dólares em ajuda militar a Israel. Questionada sobre como deverá lidar com a guerra no Médio Oriente, a democrata argumenta que Israel tem o direito de se defender e que a ameaça “deve ser eliminada”, mas reconhece que “muitos palestinianos inocentes foram mortos”.
Tentando separar-se das opiniões de Biden, Harris tem falado frequentemente sobre a “catástrofe humana” no Médio Oriente. "Não podemos ficar insensíveis ao sofrimento, não ficarei em silêncio", disse. Em março, a vice-presidente pediu um “cessar-fogo imediato”, defendendo que os reféns devem ser libertados pelo Hamas. Opôs-se também à invasão de Israel a Rafah, no sul de Gaza. “Estudei os mapas. Não há lugar para essas pessoas irem”, alertou.
A China é considerada uma das maiores ameaças geopolíticas e económicas para os Estados Unidos. Durante o único debate presidencial, Kamala Harris atacou Trump relativamente à exportação de chips americanos para a China enquanto esteve na Casa Branca. “Ajudou-os [os chineses] a modernizar o seu Exército”, argumentou a democrata, defendendo “investimentos em tecnologia baseada nos EUA para garantir que o país vence a corrida à inteligência artificial”. Harris reforça ainda a necessidade de “manter linhas de comunicação abertas para administrar de forma responsável a competição entre os dois países”.
“O relacionamento económico entre os EUA e a China não é sobre dissociação, é sobre redução de riscos”, disse, sublinhando que “não se trata de desistir, mas de garantir que estamos a proteger os interesses americanos e que somos líderes, em vez de seguirmos as regras dos outros”. Durante os anos de governação de Biden, foram implementados controlos de exportação para tentar manter a tecnologia americana fora da China. A candidata democrata critica ainda os elogios de Trump ao Presidente chinês Xi Jinping.
Por outro lado, o republicano refere que as empresas chinesas querem chips de Taiwan e não dos EUA. “Mal fabricamos chips hoje em dia”, afirmou, acusando a administração Biden pela queda na produção. Durante o seu mandato, Trump proibiu a Huawei de adquirir tecnologia norte-americana e impôs restrições aos investimentos americanos em empresas de tecnologia da China.
O ex-Presidente assegura que “respeita” a China e Xi Jinping, assinalando que “prefere ter uma boa relação com a China” e apelidando-o “um homem brilhante” que “controla 1,4 mil milhões de pessoas com um punho de ferro”. Além de ter assumidamente uma boa relação com Xi Jinping, Trump também se “dá muito bem” com o norte-coreano Kim Jong-un. “O mais inteligente chega ao topo”, afirmou o republicano sobre ambos os líderes.
No entanto, caso regresse à Casa Branca, o republicano ameaça intensificar a guerra comercial com os chineses, impondo uma taxa de 60% sobre as importações de produtos vindos da China. Além disso, prometeu aumentar os esforços para impedir a espionagem da China nos EUA e restringir os vistos para “impossibilitar o acesso chinês aos segredos americanos”.
Relativamente a Taiwan, Kamala Harris reafirma o apoio dos EUA à ilha que é governada de forma autónoma desde 1949, mas que é considerada pela China como uma província sua. A economia taiwanesa é fortemente dependente da exportação de produtos tecnológicos, especialmente semicondutores. Os EUA são um dos principais compradores de chips de Taiwan e o maior fornecedor de armas, que poderiam defender a ilha em caso de conflito com a China.
"Continuaremos a apoiar a autodefesa de Taiwan”, afirmou a democrata. A atual administração norte-americana de Joe Biden anunciou recentemente um novo contrato de armas para Taiwan no valor de cerca de dois mil milhões de dólares (1,85 mil milhões de euros).
Por outro lado, Trump reitera as críticas que tem feito a Taiwan. O republicano considera que deveriam pagar pela proteção dos Estados Unidos, acusando a ilha de “roubar” os negócios da indústria de chips norte-americanos. No entanto, o antigo Presidente norte-americano disse também que, se for eleito, vai impor taxas alfandegárias até 200% sobre bens oriundos da China “se Pequim usar a força contra Taiwan”.
Nos primeiros oito meses deste ano, os Estados Unidos registaram 18 tiroteios em escolas. A prevenção da violência armada é uma das promessas fundamentais de Kamala Harris, que, apesar de ser proprietária de uma arma, defende leis mais duras. Em setembro, entre risos, a democrata disse a Oprah Winfrey que “se alguém entrasse na sua casa, levaria um tiro”.
A atual vice-presidente de Biden defende a proibição de armas de assalto, mas tem referido frequentemente que é dona de uma arma, alegando motivos de proteção pessoal. “Eu tenho uma arma. O [candidato democrata a vice-presidente] Tim Walz tem uma arma”, sublinhou Kamala Harris. Ainda assim, a democrata garante que, se for eleita, “tirará as armas a toda a gente”.
“Eu sou a favor da 2.ª emenda [direito constitucional de portar armas] e sou a favor da proibição de armas de assalto e do controlo universal dos antecedentes [dos proprietários das armas]”, disse, defendendo ainda a criação de uma lei, segundo a qual os norte-americanos podem pedir ao tribunal que confisque a arma de alguém, caso a pessoa mostre sinais de ser perigosa e um risco para outros ou para si mesma.
Donald Trump posiciona-se também como um defensor da 2.ª emenda. De recordar que, durante um comício em Butler, na Pensilvânia, em julho, o republicano foi vítima de uma tentativa de assassinato. Enquanto discursava, foi alvejado, tendo sido atingido na orelha direita. “Lutem, lutem, lutem”, gritou Trump, enquanto era ajudado pelos seguranças.
Após o tiroteio de 24 de maio de 2022 numa escola em Uvalde, no Texas, Trump pediu uma mudança "drástica" na abordagem do país à saúde mental e "uma reforma completa da segurança nas escolas de todo o país", mas rejeitou os pedidos por mais limitações a armas de fogo.
No que toca aos crimes, Harris compara a sua experiência enquanto procuradora com o facto de Trump já ter sido condenado por vários delitos. O republicano promete eliminar cartéis de drogas, violência de gangues e reconstruir cidades governadas por democratas que, segundo o republicano, “estão infestadas de crimes”.
Enquanto Presidente, o republicano defendeu uma abordagem “dura” contra o crime e, ao mesmo tempo, promoveu uma reforma da justiça criminal, criticando manifestantes que pediam justiça após vários assassinatos de afroamericanos por parte da polícia, em 2020. Trump acusou ainda Biden de não conseguir prevenir o crime violento. O ex-Presidente quer ainda acabar com os acampamentos de pessoas em situação de sem-abrigo, dar mais autoridade à polícia para combater o problema das drogas e ainda impor a pena de morte para traficantes condenados.
Nos Estados Unidos, quase uma em cada cinco pessoas estão presas por crimes relacionados com drogas. Kamala Harris defende uma reforma do sistema de justiça criminal norte-americano, a legalização da canábis para uso recreativo, a reforma das fianças e uma moratória na pena de morte. Trump considera também que é hora de acabar com “detenções desnecessárias” de adultos por pequenas quantidades de canábis para uso pessoal.
O aborto é um procedimento totalmente proibido em 14 estados norte-americanos: Alabama, Arkansas, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Idaho, Kentucky, Louisiana, Mississippi, Missouri, Oklahoma, Tennessee, Texas, West Virginia e Wisconsin. Este é um tema central na campanha de Kamala Harris, que defende uma legislação que consagre os direitos reprodutivos em todo o país.
Já Donald Trump tem vindo a mudar de posição ao longo dos meses. Em março, referiu que apoiaria uma proibição nacional do direito ao aborto a partir das 15 semanas. No entanto, no mês seguinte, disse que a questão deveria ser avaliada individualmente por cada estado.
Em 2022, o Supremo Tribunal norte-americano - composto por uma maioria conservadora solidificada durante o Governo de Trump - revogou o direito constitucional à interrupção da gravidez no país. O candidato republicano adianta, ainda assim, que apoiaria o direito ao aborto em algumas exceções, como casos de violação, incesto ou em que a vida/saúde da mãe estivesse em risco. O ex-Presidente prometeu ainda tratamentos de fertilização in vitro gratuito para todos os norte-americanos, se voltar à Casa Branca.
No debate com Kamala, Trump alegou que os democratas apoiam abortos “tardios”: "Eles tirarão a vida de uma criança no oitavo mês, no nono mês e até mesmo após o nascimento.”
De acordo com o Pew Research Center, a esmagadora maioria dos abortos nos Estados Unidos acontece durante o primeiro trimestre da gravidez. "Em nenhum lugar da América há uma mulher a levar uma gravidez até ao fim e a pedir um aborto. Isso não acontece e é um insulto às mulheres da América", respondeu Harris.
A democrata tornou-se uma das grandes defensoras dos direitos reprodutivos, referindo que todas as mulheres devem ter direito legal ao aborto. Em março, foi a primeira vice-presidente a visitar uma clínica de aborto, sublinhando que restringir os direitos das mulheres é “imoral”. “Como é que se atrevem estes líderes eleitos a acreditar que estão numa posição para dizer às mulheres o que elas precisam. Temos de ser uma nação que confia nas mulheres.”
Trump considera que Kamala não tem um plano para a economia norte-americana, limitando-se apenas a “copiar” o de Biden. O ex-Presidente afirma que “criou uma das maiores economias da história” dos EUA e acusa o Governo atual de a ter “destruído”. Promete que, se voltar à Casa Branca, irá restaurar a economia do país, “acabando com a inflação e tornando a América acessível novamente”, com taxas de juro mais baixas e deportando imigrantes sem documentos, para que a pressão sobre a habitação seja aliviada.
Por outro lado, a candidata democrata promete uma “economia de oportunidades”, com corte fiscal para famílias jovens e pequenas empresas. "Fui criada na classe média e sou a única pessoa aqui esta noite que tem um plano para elevar as pessoas da classe média na América", afirmou Kamala Harris no único debate com Trump, reconhecendo as dificuldades das famílias norte-americanas com a escassez de habitação acessível.
Kamala prometeu ainda trabalhar com o setor privado e construir mais três milhões de casas até ao final do mandato. Reduzir os custos com a alimentação também faz parte dos planos da democrata. A inflação nos EUA atingiu o pico de 9% em quatro décadas no verão de 2022, mas desde então recuou para perto de 2%.
Relativamente aos impostos, Harris admite aumentar o IRC das empresas para 28% e aliviar a carga tributária das famílias, prometendo que não aumentará os impostos a quem ganhe menos de 400.000 dólares por ano. “Acreditamos num futuro onde cada pessoa tem a oportunidade não apenas de sobreviver, mas de progredir”, afirmou num comício em junho. “Construir a classe média será um objetivo definidor da minha presidência.”
Trump propõe, por outro lado, uma série de cortes nos impostos das grandes empresas, incluindo uma extensão dos cortes aplicados em 2017 que ajudaram, principalmente, os mais ricos.
A atual vice-presidente critica o plano abrangente de Trump de impor taxas sobre as importações. O republicano propõe novas taxas entre 10 a 20% sobre a maioria dos produtos estrangeiros e tarifas ainda maiores (60%) sobre os chineses, incentivando, assim, a produção nacional.
Kamala Harris vê essa estratégia como um imposto nacional que custaria a cada família quatro mil dólares por ano. A democrata defende uma abordagem mais direcionada à tributação das importações, como, por exemplo, a que foi introduzida por Biden sobre algumas importações chinesas, como os veículos elétricos.
Enquanto estava na Casa Branca, Donald Trump revogou várias leis de proteção ambiental, incluindo os limites de emissões de dióxido de carbono. Na campanha para estas presidenciais, o republicano prometeu expandir a exploração de petróleo no Ártico.
O ex-Presidente critica fortemente os carros elétricos, no entanto, tem moderado a sua posição devido, em certa parte, à sua amizade com Elon Musk, dono da Tesla. “Elon Musk apoiou-me e ele é meu amigo, mas não concordo que todos tenham um carro elétrico”, disse, em julho.
Durante o debate de setembro entre os dois candidatos, Trump alegou que sob a Presidência de Kamala “não haveria combustíveis fósseis” e que o país “voltaria aos moinhos de vento”. O republicano diz ser um “fã” da energia solar, mas critica os painéis solares que ocupam grandes áreas de terreno.
Trump prometeu também acelerar a aprovação de gasodutos de gás natural na Pensilvânia, Virgínia e Nova Iorque. Se voltar Casa Branca, o ex-Presidente disse que voltaria a retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global e combater as alterações climáticas.
Em sentido contrário, Kamala Harris alerta que as mudanças climáticas são reais e apoia o Green New Deal, que tem como principais objetivos um modelo económico sustentável e uma meta de zero emissões no mundo até 2050. A democrata apela ao investimento em fontes “diversas de energia” para que os norte-americanos consigam “reduzir a dependência do petróleo estrangeiro”.
A atual vice-presidente destaca ainda que a administração Biden fez “o maior investimento climático da história da América” e que o país tem “a maior produção doméstica de energia de todos os tempos”. Harris apoia ainda várias iniciativas, como o fornecimento de créditos fiscais para energia renovável e veículos elétricos.