"Cessar-fogo nunca teve lugar. Silêncio internacional foi interpretado como permissão para Israel continuar genocídio"
Em declarações à TSF, a ativista Shadh Wadi pede um "embargo militar a Israel" e a aplicação de "sanções" para evitar a continuação do "genocídio em Gaza"
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"Há um desespero absoluto, não só em Gaza, mas na Palestina." O alerta é da ativista palestiniana Shadh Wadi, do Comité da Solidariedade com a Palestina, que garante que um cessar-fogo "por inteiro" nunca "teve lugar".
A ativista começa por contar à TSF aquilo a que assistiu em primeira mão: uma amiga perdeu o sobrinho, a mulher, cinco filhas e um filho. "São famílias inteiras que estamos a perder neste momento", salienta.
Refere, por isso, que é "importante dizer que o cessar-fogo nunca teve lugar" no Médio Oriente. Mesmo durante as últimas semanas, haviam "ataques israelitas e haviam mortos". Os palestinianos, sublinha, têm morrido "sem comida e sem água", devido ao bloqueio israelita à entrada de ajuda humanitária no enclave. Atira ainda culpas à comunidade internacional por ser dono de um silêncio que deixa espaço para leituras nas entrelinhas.
O silêncio internacional foi interpretado como permissão para Israel continuar os seus ataques e continuar o seu genocídio contra Gaza
Shadh Wadi apela por isso a um "embargo militar a Israel" e a aplicação de "sanções" ao país liderado por Benjamin Netanyahu. Reforçando a "urgência" da medida, a ativista entende que esta já peca por tardia. Se tal não acontecer, avisa, "vai continuar o genocídio em Gaza e isso quer dizer que o mundo inteiro já não é um lugar seguro", alerta.
A ativista fala por isso num "desespero absoluto" que já extravasou as fronteiras do enclave palestiniano e agora se estende a toda a Cisjordânia.
"No tempo que houve cessar-fogo - que nunca aconteceu por inteiro -, na Cisjordânia, a situação da ocupação também escalou: várias pessoas foram expulsas das suas casas", denuncia.
A situação no território "está muito difícil" e os palestinianos estão a "gritar" desde 1948 a necessidade de que "o mundo faça alguma coisa perante os crimes de Israel". Mas a voz deste povo fica trémula ao fim de tantos anos e começa agora a apresentar sinais de um cansaço incomportável.
"Uma pessoa escreveu um post a dizer: 'Não estou bem.' E o povo palestiniano normalmente não perde a esperança, não perde a força, portanto, quando uma pessoa diz 'Não estou bem', isto quer dizer que a situação já está pior do que nunca", afirma.
Os ataques israelitas à Faixa de Gaza foram retomados na terça-feira, tendo matado mais de 400 palestinianos em apenas um dia, a maioria dos quais "crianças e mulheres". Há ainda "centenas de feridos" em estado crítico.
Num comunicado, o ministro israelita da Defesa avançou que “as portas do inferno se abrirão em Gaza” se os reféns não forem libertados.
Sobre isto, a professora da Universidade de Coimbra Joana Ricarte explicou à TSF que a questão dos reféns é "um beco sem saída", porque esse é o único fator de negociação, que permite ao Hamas tentar assegurar um "futuro sustentável" para a Palestina.
