O fim de "dois pesos e duas medidas": Von der Leyen já não "entra muda e sai calada" em relação a Israel
O antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes mostrou-se cético em relação à aprovação de sanções contra Telavive, contudo foi "uma grande novidade" ver Von der Leyen propô-las. A análise ao discurso da presidente da Comissão Europeia no Estado da União no Fórum TSF desta quarta-feira
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Um discurso com sentido de "urgência" em relação ao papel que a Europa deve assumir no mundo de hoje, no qual a "grande novidade" foi a mudança de "linguagem" sobre Israel e o "genocídio" que está a ser cometido em Gaza. São algumas das ideias dos especialistas que participaram no Fórum TSF desta quarta-feira para analisar as palavras de Ursula von der Leyen no Estado da União.
O anúncio de medidas para aumentar a pressão sobre Telavive foi "a grande novidade" da intervenção da presidente da Comissão Europeia e foi essa nota que o antigo ministro da Defesa Azeredo Lopes deixou no Fórum TSF.
Infeliz e normalmente, a Comissão entrava muda e saía calada em relação a tudo aquilo que Israel fazia, aos desmandos que estão a ser cometidos à frente dos nossos olhos, por exemplo, em Gaza, mas também noutras partes do Médio Oriente. Politicamente, Ursula von der Leyen compreendeu que já não podia adotar dois pesos e duas medidas tão violentamente flagrantes como aquilo que acontecia quanto à nossa posição relativamente à agressão russa e relativamente àquilo que eu considero ser o genocídio cometido por Israel
A introdução de sanções contra os ministros extremistas e os colonos violentos e ainda a suspensão parcial do Acordo de Associação da UE com Telavive no que diz respeito a questões comerciais foram algumas das medidas anunciadas.
Contudo, apesar desta vontade, Azeredo Lopes não acredita que passe disso mesmo, pelo menos por agora: "Isto não vai ser aprovado. Itália, Alemanha, Hungria... não acredito que votem favoravelmente. É pena."
Quem também destacou a posição de Von der Leyen relativamente à guerra em Gaza foi o especialista em assuntos europeus Paulo Sande, que enfatizou como a "linguagem" referente à Palestina está "diferente". E exemplificou: a responsável europeia disse que "a fome provocada pelo homem nunca pode ser uma arma de guerra", falou na "violência" vivida na Cisjordânia e proferiu "uma afirmação importante" ao mencionar "a solução dos dois Estados viáveis".
Ouça aqui o resumo do discurso de Von der Leyen sobre a situação no Médio Oriente:
Por sua vez, para Sofia Moreira de Sousa, representante da Comissão Europeia em Portugal, este discurso demonstrou o caráter de "urgência" em "agir de forma assertiva, com ambição, com unidade de propósito e já" em várias áreas, desde a descarbonização e a inteligência artificial até a saúde, a habitação, a defesa comum, entre outras.
E Moreira de Sousa ressaltou outra dimensão: o apelo de Von der Leyen para a criação de um escudo democrático dentro da Europa. "É preciso proteger, assegurar e garantir" para as próximas gerações o "sentimento de liberdade e democracia", afirmou igualmente.
Começou bem, mas não acabou assim tão bem. Foi a leitura do professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto Rui Henrique Alves: "Pareceu um início aparentemente mobilizador, com a ideia de que a Europa tem de lutar, tem quase de mostrar os dentes, tem de ser alguém na cena internacional, mas depois a parte da concretização fica bastante aquém, porque ficam muitas dúvidas sobre como é que isso vai ser efetivamente feito."

