Os socialistas europeus reconhecem em António Costa as qualidades necessárias e elogiam a "capacidade de diálogo”
Corpo do artigo
Os 27 reunem-se esta noite, em Bruxelas, para um jantar informal, à porta fechada. Espera-se uma “conversa franca” sobre as futuras lideranças das instituições europeias. O ex-primeiro-ministro, António Costa é apontado como favorito para a presidência do Conselho Europeu. Porém, ainda não está assegurada a sua nomeação.
Costa contará com apoios influentes na reunião, incluindo o chanceler alemão Olaf Scholz e o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez, ambos indicados pela família socialista para negociar com os outros líderes os diversos cargos institucionais.
Os 27 líderes terão de chegar a um acordo que contemple a presidência da Comissão Europeia, do Conselho Europeu e outros cargos de topo na União Europeia, considerando os equilíbrios políticos, regionais e de género. As negociações também incluem o cargo de Alto Representante da UE para a Política Externa e de Defesa e a presidência do Parlamento Europeu.
Nos bastidores de Bruxelas, admite-se que a presidência da Comissão Europeia deve continuar a ser ocupada pelo Partido Popular Europeu, enquanto a presidência do Conselho Europeu poderia ser atribuída a um membro da família socialista. Caso essa configuração se concretize, o primeiro-ministro Luís Montenegro já declarou que apoiará a nomeação de António Costa.
Montenegro prometeu “fazer tudo para que essa ‘candidatura’ seja um sucesso”, esperando que a família política socialista oficialize o nome do português. “Se o doutor António Costa for ‘candidato’, a nossa decisão está tomada”, afirmou Luís Montenegro, a poucos dias da cimeira, dissipando a ambiguidade que marcou os seus comentários, nas semanas anteriores às eleições europeias. Por sua vez, salientando a importância de “ter um português nas instituições internacionais", António Costa afirmou, ainda na noite eleitoral que “nunca aceitaria ser presidente do Conselho Europeu sem o apoio do Governo do país”.
A decisão está agora nas mãos do Partido Socialista Europeu, que tem também outros nomes bem posicionados para cargos de topo em Bruxelas, incluindo a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen. A sua nomeação permitiria, pela primeira vez, que as quatro presidências fossem ocupadas por mulheres, com Ursula von der Leyen na Comissão Europeia, a atual primeira-ministra da Estónia Kaja Kallas como Alta Representante e Roberta Metsola no Parlamento Europeu.
No entanto, dentro da família socialista, António Costa é visto como um político com "capacidade de diálogo”, conhecido pelo seu compromisso com uma Europa mais social e inclusiva, e por isso “reúne todas as qualidades”, conforme afirmou Pedro Sánchez em abril.
Referindo-se ao português, o secretário-geral do Partido dos Socialistas Europeus declarou na semana passada, à margem de um evento público, que considera “evidente” que, “sendo a segunda força” mais votada, espera “que a posição de Presidente do Conselho Europeu possa definitivamente ser ocupada por um dos nossos”.
Fora da sua família política, o atual presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também elogiou António Costa, considerando-o “respeitadíssimo e muito conceituado no plano europeu” e um “fazedor de pontes”, com “iniciativa” e “soluções”. Contudo, na semana passada, surgiram notícias de que o liberal belga estaria a fazer campanha para afastar Costa e von der Leyen dos cargos máximos institucionais.
Se o plano tiver sucesso, a presidência da Comissão seria atribuída ao primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis e a presidência do Conselho Europeu à primeira-ministra dinamarquesa. O plano seria do agrado do Presidente de França, Emmanuel Macron. Porém, o declínio da família liberal nas eleições para o Parlamento Europeu enfraquece o peso dos liberais nas negociações.
Por outro lado, ao longo de mais de cinco anos, António Costa e Emmanuel Macron construíram “uma excelente relação”, segundo o próprio ex-primeiro-ministro. Fontes diplomáticas revelaram ao site Politico que Emmanuel Macron “aprecia” o português, com quem “gosta de participar em discussões intelectuais”.
Fragilizado internamente após a vitória do partido de extrema-direita de Marine Le Pen nas eleições europeias, não se espera que Macron apresente soluções alternativas para um “puzzle que está arrumado”, comentou uma fonte com a TSF.
Contudo, o recém-eleito eurodeputado João Cotrim de Figueiredo espera que a sua família liberal rejeite António Costa, considerando que o apoio do governo português “privilegia a nacionalidade” em detrimento “da utilidade”. Cotrim de Figueiredo vê essa escolha como “paroquial” e “não serve o projeto europeu”.
Mas, nesta fase, António Costa é o mais bem posicionado, correspondendo às preferências de figuras-chave decisivas dentro do Conselho Europeu. A sua maior vulnerabilidade continua a ser a inclusão do seu nome nas investigações do chamado “processo influencer”.
No entanto, a imprensa europeia tem, cada vez, mais descartado o impacto da investigação na possível nomeação do ex-primeiro-ministro, principalmente devido a um conjunto de “erros embaraçosos” que têm “prejudicado a credibilidade” do processo, segundo o influente site de informação europeia Politico.
Se a decisão não for tomada já esta noite, haverá uma nova tentativa na próxima cimeira, agendada para 27 e 28 de junho. No Parlamento Europeu há um “apetite” por um acordo antes da reunião plenária de julho, para que aí possa ser realizada a eleição da presidente da Comissão Europeia, uma vez que a sessão de setembro ocorre apenas na terceira semana, e é considerado “já um pouco tarde”, comentou uma fonte do Parlamento. A data será marcada em conferência de presidentes dos grupos políticos, mas está dependente das negociações para os outros cargos institucionais.
Ao contrário dos habituais impasses que marcam as mudanças de ciclo político em Bruxelas, desta vez não se esperam discussões prolongadas. Há até uma certa urgência em “fechar o dossier” das nomeações dos cargos de topo antes da pausa institucional em agosto, apurou a TSF.