Regresso de Soares de Oliveira, "lençol verde" de Varandas na FPF e as críticas a Noronha Lopes: a Entrevista TSF com Luís Filipe Vieira
Ouça aqui a Entrevista na íntegra com Luís Filipe Vieira
Corpo do artigo
Luís Filipe Vieira quer regressar à presidência do Benfica para devolver aquilo que considera que o clube perdeu nos últimos anos, desde a sua saída. Em entrevista à TSF, o candidato falou dos planos para a liderança da SAD, criticou Pedro Proença, falou do regresso de Bernardo Silva e elogiou o trabalho do rival Frederico Varandas.
Depois dos desacatos na assembleia-geral, no último sábado, Luís Filipe Vieira pinta o Benfica como um clube com "grupos radicais" e organizados. Nesta entrevista à TSF, o candidato foi questionado sobre os atuais estatutos e sobre o artigo que prevê a limitação do número de mandatos. Vieira é contra e quer implementar, na SAD, um modelo que afaste os sócios da decisão sobre a liderança do clube.
"Quando olhamos para dentro do Benfica, vemos como tudo está. O Benfica tinha um tipo de gestão, que deixou de existir. Como sabem, tínhamos Domingos Soares de Oliveira como CEO, tínhamos o Miguel Moreira como CFO. Dois homens muito importantes nas áreas", sublinha Luís Filipe Vieir. E há margem para regressarem ao Benfica? "O Domingos Soares de Oliveira tem todas as condições para voltar ao Benfica, e irei fazê-lo, acho que é possível que ele volte a Portugal. O Miguel Moreira é impossível, nesta altura".
"Varandas? Não concorda comigo agora, mas se eu for presidente, vai concordar comigo. Ele agora está a ganhar e vai embalado", diz Luís Filipe Vieira. "Frederico Varandas fez um trabalho fantástico no Sporting. Mas também fez um trabalho tão fantástico que conseguiu por um lençol verde na Federação Portuguesa de Futebol em todos os órgãos e também na Liga. Está plantado em todo o lado. Nem nos tempos do Pinto da Costa havia um lençol azul em todo o lado".
"Pedro Proença já disse que fez uma queixa ao Ministério Público, vamos ver se é difamação ou verdade. O Pedro Proença não fez nada para o futebol português e todos os dirigentes sabem disso", disse. "O Benfica tem sido prejudicado desde a temporada passada. Ainda este fim-de-semana com o Sporting... o Benfica nunca é beneficiado".
Bernardo Silva disse que sabe o que vai fazer no final da temporada, o regresso ao Benfica faz sentido? "Eu não vou dizer se faz sentido. Posso dizer o que aconteceu: no dia em que eu assinei vários contratos com jogadores, faltou o Bernardo. E o Paulo Gonçalvez disse-me que faltava o Bernardo Silva e não se sabia porquê. No dia seguinte, assinámos e ele ficou no Benfica. Quando chegou o Jorge Jesus, dizem que não apostou nele. Mas ele naquela altura tinha espaço? Com o Gaitán pela frente, com o Salvio? Não era. Tivemos a opção de projetar a Academia e vender joagdores por 15 milhões de euros. O Bernardo Silva foi, o João Cancelo, o Ivan Cavaleiro e tivemos resultados a projetor jovens", conta. "Se ele um dia quiser voltar ao Benfica fico encantado da vida, será bom para todos".
João Noronha Lopes tem nomes na lista pessoas que trabalharam com Luís Filipe Vieira: Pedro Ferreira, Tomás Amaral e Nuno Gomes. "Quem diz que está contra o vieirismo, como ele diz...são vieiristas, de certeza. São excelentes profissionais, vale com eles todos. Em vez de ter orgulho do passado... mais valia Noranha Lopes explicar porque é que abandonou o Benfica na altura crítica quando foi a decisão do estádio. Foi mais fácil abandonar o Benfica com o pretexto da vida pessoal. Mas não foi só ele, havia muitos a dizer que o Benfica ia à falência".
"O Rui Costa teve de se desfazer de um plantel velho, mas eu mostrei que aquele plantel, que é quando o Jorge Jesus veio, teve por base decisões dele e do Tiago Pinto. A interferência que eu tive nessa altura foi o Pedrinho, Cebolinha (que foi um pedido do Jorge Jesus), Darwin, que até foi o Rui Costa que o fui buscar. Não fui eu que descobri o Weigl para gastar 20 milhões de euros, por exemplo".
"Temos de dar espaço à formação como faz o nosso rival, o Sporting. Ainda ontem, o João Simões fez um grande jogo em Nápoles e é um jogador da formação que apareceu por lesões que o Sporting teve e precisou de ir à formação", elogia.
"Vamos adotar o modelo que queríamos para o passado e não conseguimos impor: quem vier vai trabalhar no máximo com 19 jogadores titulares e o resto terá de ser jogadores da formação. Não vamos abdicar disto. Isso será a condição para os treinadores", garante Vieira. "Vamos reter os jogadores da formação no plantel pelo menos dois a três anos e quando eu saí havia condições para isso".
"Quem sou eu para julgar o Mourinho? Quem ganhar as eleições, de certeza, que não vai despedir o Mourinho. Mas se o Benfica não for campeão ou os resultados não aparecerem, alguma coisa vai acontecer". Mário Branco é para continuar? "Não. Eu tenho um Diretor-Geral para o Benfica para o futebol. Não vou divulgar porque ele está a trabalhar. Eu conheço o Mário Branco, não vou despedi-lo, mas tem de se enquadrar na nossa ideia para o Benfica, se não conseguir, não pode continuar", sublinha. "Tenho um diretor-geral muito experiente". Internacional? "Não vamos falar nisso porque vão adivinhar, mas é alguém que já tentámos no passado".
Questionado sobre a possibilidade do Benfica ter parceiros económicos ao nível do exemplo do Bayern, Vieira não tem dúvidas. "Se não tivesse havido a pandemia, já tínhamos esses parceiros. Quem vier um dia tem de pensar nisso. Mandatos de 12 anos? Se o Benfica não ganha durante quatro anos, a contestação aumenta; mais dois anos sem ganhar, vai haver mais contestação e é preciso haver estabilidade e confiança em quem está lá".
"Vamos entrar num momento importante. Qualquer treinador está sujeito aos resultados. Neste momento não tenho de estar a dizer se o Rui Costa geriu bem ou não. O Mourinho veio dar-lhe estabilidade. Mas se não houvesse eleições, talves a escolha não fosse o Mourinho", considera Luís Filipe Vieira. "Mas se não aparecer resultados, também não vai haver estabilidade. Com o investimento que o Benfica fez e com a falta de resultados é normal o descontentamento".
Limitação de mandatos. "O modelo que defendo é o modelo do Bayern de Munique, pela grandeza do Benfica. Não podemos estar num projeto que passado 10 anos alguém aparece e pode alterar tudo. No Bayern, como sabem, há quatro acionistas com 10% cada um. o grupo Volkswagene, a Adidas e a Allianz seguradora e, nesta altura, o presidente é sempre o presidente de uma dessas empresas que fica à frente do clube". Mas isso não será estar a tirar poder aos sócios? "Não podem eleger, mas têm interferência. Mas com o peso institucional dos grupos, os sócios querem é ganhar jogos. Se voltarmos sempre à feira das vaidades, como era no passado, não há problema. Acha que hoje não há demasiada facilidade em aparecer oito ou nove candidatos?", questiona,
Vieira comenta agora os acontecimentos da última Assembleia Geral do Benfica em que não conseguiu discursar. "O que se passou nessa Assembleia Geral é muito grave. O Benfica tem grupos radicais que apela pela democracia e não a pratica. O movimento Servir Benfica tem uma parte que está na candidatura de João Diogo Manteigas, a outra está com o Noronha Lopes. Aquilo parecia a tropa. O Benfica está radicalizado e vai ter problemas no futuro", relata.
Luís Filipe Vieira responde sobre os processos em que está envolvido e sobre a legitimidade para avançar com a candidatura. "O caso do Lex é um escândalo eu estar envolvido naquilo. Tenho a consciência clara e não tenho nada a ver com o que estou acusado. E eu acredito na justiça. Já há um julgamento do Saco Azul e quando vocês virem o resultado vão perceber. Vamos aguardar a sentença final e até lá não estou preocupado. Se tiver de ir muitas vezes ao Campus da Justiça vou. Hei-de limpar o meu nome, acho que aquilo foi um ataque ao Benfica e eu fui de arrasto".
"Não houve agressões, mas foi um grupo organizado que combinou abandonar a sala quando eu fosse falar. Não abandonaram a sala, mas foram para o fundo fazer barulho e gritar. Não me deixaram falar, mas isto não é de agora. Já acontecia no meu tempo quando era presidente", relata. "Aquilo está a tornar-se insustentável".
Rui Costa disse que desde que está no Benfica não houve mais problemas na justiça. Luís Filipe Vieira considera estas palavras "infelizes". "Sempre defendi o Benfica em todo o lado e isso cria problemas. Isto começou com o caso dos vouchers e veio por ali fora, mas até hoje não aconteceu nada. Só tenho mesmo de aguardar", diz.
"Os estatutos aprovados por uma minoria de sócios tem lá que basta chumbar dois Relatórios e Contas para a Direção cair. O Benfica fica sujeito a ser ingovernável", acrescenta. "Se me tornar presidente, a BTV passa a transmitir as Assembleias Gerais, mesmo que seja para o país inteiro. Para as pessoas perceberem o que se passa".
"A conservação do património do Benfica está completamente degradada. O estádio parece que está ao abandono, aqueles arcos já não são vermelhos, são de outra cor. No Seixal, está tudo igual. A manutenção é muito importante. No Benfica Campus queremos fazer o que está programado e não foi feito. Comprámos uma herdade de 40 héctares para fazer a expansão e nada foi feito: tínhamos projetado um colégio, e aí nem o projeto foi aprovado", explicou. "O hotel também é importante para aproximar-mos os atletas das famílias, para oferecermos a estadia e diminuir os custos das famílias".
"Eu não tenho dúvidas nenhumas que a recuperação do Benfica passou pela minha mão. Depois da minha saída, o Benfica entrou num caminho que não é consistente. O clube deixou de ter liderança, deixou de ser respeitado na Liga, na FPF. Financeiramente, os resultados também estão à vista", começa por dizer Luís Filipe Vieira quando questionado sobre o porquê de ter avançado com uma candidatura à presidência do Benfica.
