Derivados "fazem tão mal ou pior do que o tabaco convencional": especialista alerta para perigos
Em faixas etárias mais jovens, isto é, entre os 13 e os 18 anos, tem-se assistido a um aumento do consumo do tabaco, especialmente no que diz respeito aos novos produtos
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A pneumologista Ana Raquel Marques apontou este domingo, data em que se assinala o Dia Mundial do Não Fumador, que um dos erros mais comuns, entre aqueles que iniciam o processo para deixar de fumar, é optar pelo tabaco aquecido. A especialista alertou, contudo, que este produto derivado "faz tão mal ou pior do que o tabaco convencional".
Segundo dados revelados este ano pela Organização Mundial de Saúde, o ato de fumar matou mais de oito milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo cerca de 1,3 milhões de não fumadores expostos ao fumo passivo. Em Portugal, o tabagismo é a principal causa de morte evitável, de acordo com a Federação Portuguesa de Cardiologia. Por cada cigarro fumado, em média, perdem-se oito minutos de vida.
A Federação Portuguesa de Cardiologia (FDA) revela também que um homem fumador está a arriscar perder, em média, cerca de 13 anos de vida, enquanto uma mulher perde cerca de 15 anos de vida.
Em declarações à TSF, a pneumologista Ana Raquel Marques adianta que, em faixas etárias mais jovens, se tem assistido a um aumento do consumo do tabaco, especialmente no que diz respeito aos novos produtos. Ainda assim, no geral, tem havido um decréscimo.
"Os últimos dados que nós temos reportam a 2019 e, comparativamente aos dados anteriores de 2014, verificamos um decréscimo da prevalência total a nível nacional, de 20% de fumadores para 17%. No entanto, foi mais à custa da diminuição do número de fumadores na população masculina. Na feminina não foi assim tão relevante", explica.
Ana Raquel Marques acrescenta, por outro lado, a "má notícia" de que, na faixa etária dos 13 aos 18 anos, "houve um pequeno aumento do número de fumadores e também da experiência dos novos produtos do tabaco".
Nos últimos tempos, têm aparecido no mercado novos produtos, derivados do tabaco. A pneumologista deixa um alerta sobre os malefícios destes produtos, sublinhando que "já está comprovado que fazem tão mal ou pior do que o tabaco convencional".
"Não só porque a redução que a indústria tabaqueira refere em alguns produtos, que são inclusivamente cancerígenos, e que constituem o tabaco convencional, a redução que houve não foi em 99% - como referem muitos deles -, apenas 15%", vinca, completando que existem componentes cancerígenos com uma "concentração três vezes superior no tabaco aquecido ao tabaco convencional".
A pneumologista reitera, por isso, que é preciso prevenir e educar para que aqueles que queiram começar a deixar de fumar, não encontrem nestes novos produtos derivados do tabaco uma alternativa.
"A educação para a saúde tem de ser sempre a base, seja para qualquer intervenção. Porquê? Porque, sem conhecimento, a população continua na dúvida e continua a consumir estes produtos, inclusivamente pensando que podem ser usados para deixar de fumar, o que também não é uma recomendação da FDA, nem do Infarmed, nem na direção Geral de saúde, nem da Organização Mundial de Saúde", esclarece.
A especialista insiste que a população não se deve "desviar dos tratamentos que existem", passando a usar antes o "tabaco aquecido ou o cigarro eletrónico, com a intenção de deixar de fumar".
"[Os produtos derivados do tabaco] são menos irritativos quando se começa a fumar, porque eles foram construídos desta forma, pela combustão, que não é total, como existe no tabaco convencional. Mas é só naquela fase inicial em que podem ter menos tosse ou menos irritabilidade. Depois, a nível de efeitos negativos para a saúde, estão associados a doenças cerebrocardiovasculares, como o tabaco convencional. Mesmo em pessoas mais jovens e até mais em mulheres do que em homens", destaca.
A pneumologista apela, por isso, para uma maior rapidez na formulação das leis que protegem os consumidores.
"Nós estamos sempre um pouco atrás das novidades, porque as novidades da indústria tabaqueira são imensas e constantes, mas temos de estar um pouco mais à frente na legislação, e, quando existem novidades, contemplá-las de forma a que a sua publicidade não seja tão facilmente conseguida nestes produtos, como se vê atualmente", pede.
O tabagismo é a principal causa de cancro conhecida, sendo responsável por mais de 30% das mortes por cancro. O fumo do tabaco é a principal causa de bronquite, enfisema e doença pulmonar crónica obstrutiva (DPOC), uma das mais importantes causas de morte em Portugal.
