Discurso de Marcelo no Dia de Portugal denuncia "racismo latente contra os pobres" e que falta acabar de "exorcizar o passado"
No Fórum TSF, fica ainda o elogio à palavra "pertença" dita pelo Presidente da República. Para Paulo Sande, é um "sentimento fundamental, que não pode depender de caricaturas que depois, de um lado e outro do espetro partidário, servem para criar divisões"
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Marcelo Rebelo de Sousa, no seu último discurso como Presidente da República no Dia de Portugal, criticou os extremismos, afirmando que “ninguém é mais puro e mais português do que qualquer outro”, e incentivou o país a "cuidar melhor dos que já ficaram para trás ou estão a ficar". Dado isto, no Fórum TSF desta quarta-feira, especialistas alertaram para a "espécie de racismo latente contra os pobres" presente na sociedade e para a necessidade de Portugal fazer as pazes com o passado.
Na leitura de Luís Capucha, diretor do departamento de Ciência Política e Políticas Públicas do ISCTE e especialista em exclusão social, o chefe de Estado "fez bem em chamar à atenção" para o tema da pobreza no 10 de Junho, ainda que o tenha feito de forma "muito cautelosa".
Assinalando que a pobreza "não está pior do que estava há uns tempos, não se degradou consideravelmente, mas também não melhorou o suficiente para cumprir as expetativas das pessoas", Capucha garante que existe na sociedade "uma espécie de racismo latente contra os pobres", sustentado em narrativas de "pobres perigosos, de pobres preguiçosos que não querem trabalhar". E explica:
[É] Transformar fatores que são claramente sociais e que têm claramente a ver com dinâmicas de desenvolvimento na sociedade em atributos supostamente pessoais que acabam por penalizar aqueles mesmos que são as vítimas dessas dinâmicas.
Por sua vez, Paulo Sande, especialista em assuntos europeus, elogiou, em particular, o "sentimento fundamental, que não pode depender de caricaturas que depois, de um lado e outro do espetro partidário, servem para criar divisões" que Marcelo Rebelo de Sousa resumiu como "pertença". Sobre a descrição de que os portugueses são como "uma mistura" de povos "vindos de todas as partes" ao longo de séculos, apontou: "O problema é que nós, provavelmente, ainda não exorcizamos o nosso passado o suficiente."
Já Vítor Ramalho, antigo secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), salientou a menção de Marcelo sobre quem fala português.

