"Posição de princípio." Jornais abandonam X por "alimentar desconfiança", apesar das "presenças relevantes"
À TSF, a professora universitária Rita Figueiras fala numa "reestruturação do espaço informativo". Já Vítor Santos, diretor do JN, realça: "Se os órgãos de comunicação social não estiverem presentes, também não estão a exercer o seu papel, que é partilhar a informação verificada"
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A relação causa-efeito entre a compra do antigo Twitter por Elon Musk e a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos é a responsável por várias entidades estarem a abandonar a rede social X, sublinha à TSF a professora universitária Rita Figueiras.
Nos últimos dias, os jornais The Guardian e La Vanguardia, o clube alemão St. Pauli e o escritor Stephen King saíram daquele meio. Dos media ao desporto, a justificação é similar: tornou-se tóxico e um veículo de propaganda de ódio.
Rita Figueiras assinala que o crescimento da desinformação já vinha a "agudizar-se" desde a aquisição do antigo Twitter pelo dono da Tesla, "com todas as mudanças que fez", nomeadamente o "desinvestimento" nas estratégias para a monitorização do discurso de ódio, as teorias da conspiração, "associadas ao regresso de um conjunto de personalidades", entre elas, o político republicano que agora volta à Casa Branca.
Nos casos do The Guardian e do La Vanguardia, Rita Figueiras admite que a decisão de deixarem o X é uma "posição de princípio de não estar numa rede onde não é valorizado o trabalho jornalístico".
"O próprio Elon Musk, logo na sequência da vitória do Donald Trump, disse que os meios de comunicação tinham mentido de forma avassaladora durante a campanha. (...) Há todo um discurso a desclassificar, a desvalorizar, a alimentar a desconfiança face ao jornalismo, a indiferença em relação à verdade dos factos."
Em Portugal, ainda não foram conhecidos casos de saída do X, porque, por cá, "não se está, com certeza, numa situação tão extremada".
Do ponto de vista da também especialista em comunicação, este cenário pode significar uma "reestruturação do espaço informativo", em particular, "uma divisão entre os que seguem determinadas regras e os que se recusam, são dois mundos paralelos".
Também em declarações à TSF, Vítor Santos, diretor do Jornal de Notícias, fala numa "espécie de encruzilhada".
Nesta linha, também para o investigador Ricardo Jorge Pinto, a falta de credibilidade da informação que circula no X vai ganhar terreno com as saídas de jornais.
"Seria um tremendo erro. Nós, jornalistas, não podemos ignorar os locais onde a informação circula", menciona Ricardo Jorge Pinto, considerando que há "presenças muito significativas" lá, no que à comunicação institucional e às "figuras com relevo" diz respeito.


