"Situação dramática" em Gaza. Portugal "apoia" revisão do acordo de associação entre Israel e a UE
Em declarações à TSF, Paulo Rangel mostra-se "verdadeiramente preocupado", uma vez que "já não existe ajuda humanitária relevante desde que deixou de valer o acordo de cessar-fogo"
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O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, mostra-se preocupado com a "situação dramática" em Gaza. Em entrevista à TSF, esta quinta-feira, o governante adianta que Portugal apoia a proposta dos Países Baixos para a revisão do acordo de associação entre Israel e a União Europeia.
"Os Países Baixos tomaram a iniciativa, que foi formalizada ontem [quarta-feira], de pedir uma avaliação do acordo de associação entre a União Europeia e Israel. E ontem mesmo, a nossa secretária de Estado dos Assuntos Europeus, que está a representar Portugal neste conselho informal, fez uma curta intervenção, cujo único ponto foi dizer que apoiamos esta iniciativa holandesa. Isto mostra o ponto de verdadeira preocupação e até censura a que chegámos, porque já não existe ajuda humanitária relevante desde que deixou de valer o acordo de cessar-fogo", explica à TSF Paulo Rangel.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros português disse na quarta-feira, numa publicação nas redes sociais, que está "profundamente preocupado com os planos de expansão" das operações militares de Israel na Faixa de Gaza, apelando "ao fim imediato das hostilidades" e "à libertação dos reféns".
Os ataques israelitas em Gaza mataram na quarta-feira pelo menos 92 pessoas, incluindo mulheres, crianças e dois jornalistas, revelaram as autoridades do enclave palestiniano controlado pelo Hamas.
Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, manifestou dúvidas sobre a sobrevivência de três reféns que eram anteriormente considerados vivos em Gaza.
Os mais recentes ataques ocorrem dias depois de Israel ter aprovado um plano para intensificar as suas operações no enclave palestiniano, o que inclui tomar Gaza, manter territórios capturados, deslocar palestinianos à força para o sul de Gaza e assumir o controlo da distribuição de ajuda, juntamente com empresas de segurança privadas.
Mais de 30 especialistas independentes das Nações Unidas alertaram que os estados devem "agir agora" para impedir que se assista à "aniquilação dos palestinianos" na Faixa de Gaza.
Para estes especialistas, mandatados pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU mas que não falam em nome das Nações Unidas, a escolha de cada Estado é "clara: permanecer passivo e ser testemunha do massacre de inocentes ou participar na elaboração de uma resolução justa".
O objetivo declarado do Governo israelita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é destruir o movimento islamita palestiniano Hamas e garantir a libertação dos reféns sequestrados no ataque de 07 de outubro de 2023, 58 dos quais se encontram ainda em cativeiro na Faixa de Gaza, vizinho sul de Israel - apenas 24 vivos, segundo o Exército israelita.
Israel declarou a 7 de outubro de 2023 uma guerra na Faixa de Gaza para erradicar o movimento islamita palestiniano Hamas, horas depois de este ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando cerca de 1.200 pessoas, na maioria civis, e sequestrando 251.
A guerra naquele território palestiniano fez, até agora, 52.653 mortos, na maioria civis, incluindo mais de 18.000 crianças, e mais de 112.000 feridos, além de cerca de 11.000 desaparecidos, presumivelmente soterrados nos escombros, e mais alguns milhares que morreram de doenças, infeções e fome, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
A situação da população daquele enclave devastado pelos bombardeamentos e ofensivas terrestres israelitas está ainda a agravar-se por Israel impedir, desde 02 de março, a entrada em Gaza de alimentos, água, ajuda humanitária e medicamentos.