Trump confunde Espanha com um dos BRICS e Madrid responde: “Somos o motor da economia europeia"
O presidente dos EUA ameaça Espanha com “taxas de 100%” nos negócios com os Estados Unidos
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Bastou um dia para que Donald Trump lançasse a confusão com Espanha. Na segunda-feira, ao responder a uma pergunta sobre o baixo investimento de Espanha e França na Defesa, o Presidente dos Estados Unidos colocou Espanha no grupo dos BRICS, cujas siglas se referem ao Brasil, Rússia, Índia China e África do Sul, e representa países emergentes.
“O investimento [militar] de Espanha é muito baixo. Bem, é um dos países BRICS. E se os países BRICS querem fazer isso, tudo bem, mas vamos pôr uma taxa de pelo menos 100% nos negócios que fizerem com os Estados Unidos. Sabe o que são os BRICS, não sabe?”, foi a resposta do presidente dos Estados Unidos.
A declaração, confusa o suficiente para provocar algum silêncio na sala, fez com que o jornalista voltasse a perguntar se Espanha estava em risco de ver os seus negócios com os EUA terem taxas de 100%. E Trump voltou a insistir: “Como um país BRICS sim. Terão taxas de 100% se continuarem a fazer o que pensam fazer. Por isso, vão abandonar a ideia, a China vai abandonar a ideia.”
A resposta aumentou ainda mais a confusão e Trump não ajudou a esclarecer o imbróglio. Questionado de novo sobre a razão de incluir um país da União Europeia no grupo dos BRICS, Trump respondeu com evasivas e deu o assunto por encerrado, dizendo que se trata de um grupo “de seis ou sete países” que querem “fazer uma rasteira aos Estados Unidos”.
A esta altura, ninguém sabe ao certo a que é que se referia Donald Trump, mas tudo leva a crer de que se trate de um engano. Pelas respostas do Presidente, parece que se referia mais ao projeto dos BRICS de criar uma moeda alternativa ao dólar, um tema completamente diferente do investimento militar, questão que provocou este discurso.
Do lado espanhol, o Governo não quis empolar demasiado as declarações de Trump, mas quis frisar o papel de Espanha como potência económica europeia. “Evidentemente, Espanha não é um país emergente, não é um BRICS”, disse a porta-voz do Governo, Pilar Alegria, na conferência de imprensa posterior ao Conselho de Ministros. “Não sei se essa afirmação do presidente Trump é uma confusão ou não, mas Espanha é um sócio fiável e o principal motor económico da União Europeia neste momento.”
Alegria quis ainda destacar “as boas relações económicas” com os Estados Unidos, e sublinhou que o Executivo espanhol vai “continuar a trabalhar para reforçar essa relação estreita”.
Ainda antes do Governo, já tinha reagido a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso. Num evento logo ao início da manhã, questionada sobre as palavras do presidente dos Estados Unidos, Ayuso culpou o Governo numa declaração quase tão confusa como a de Trump: “Vou encarregar-me pessoalmente de mostrar a esta administração que nem todos os espanhóis, nem – principalmente – todas as administrações são parte dos BRICS, nem queremos sê-lo. É uma situação à qual nos levou o Governo pelo seu isolamento.”
A presidente da Comunidade de Madrid justificava as declarações de Trump com a ação do Governo e o seu “ideário progressista” que faz com que os EUA vejam Espanha como um país alinhado “com ditaduras e países pobres”.
Quem são os BRICS?
BRICS é o nome pelo qual são conhecidos um grupo de economias emergentes, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – cujas iniciais, em inglês, dão origem ao nome. No ano passado uniram-se Egipto, Irão, Emirados Árabes Unidos e Etiópia e, no início deste ano, o Brasil anunciou a inclusão da Indonésia.
O grupo consolidou-se como uma alternativa ao G7, que inclui potências como os Estados Unidos, Canadá, Japão, Reino Unido, França, Itália e Alemanha, com o fim de coordenar esforços para conseguir objetivos económicos e políticos comuns. Segundo os dados do Banco Mundial, os BRICS representam 45% da população Mundial, contra os 10% representados no G7, mas a nível económico, o G7 tem 43% da economia mundial e os BRICS, menos de um terço.
