No Pomarão há um encolher de ombros perante o projeto de retirar água para abastecer as barragens do Algarve
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António Lourenço está à porta de casa a fazer as palavras cruzadas. Em frente corre o rio Guadiana. António nasceu no Pomarão há tantos anos que já perdeu a conta. Diz que tem 78, mas depressa corrige, a rir, afirmando que afinal já completou 79 anos.
Já viu de tudo naquele rio. Pescadores que ali fizeram a sua vida e retiravam o sustento do rio, vendendo o peixe em todos os montes vizinhos, até a azáfama em torno dos vagões que traziam o minério da Mina de S. Domingos, levando-o até aos barcos que faziam fila no rio para se abastecerem. Um local com vida, onde chegaram a morar 250 pessoas. Hoje não tem mais de 20 e quase todas de idade avançada. A maioria das casas está encerrada e são várias as placas que se veem com anúncio de venda. "Esta puseram ontem", conta à TSF.
António Lourenço tem visto também ao longo dos anos os espanhóis retirarem água do Guadiana, "e não é pouca", para as culturas de regadio da Andaluzia. Por isso, não se espanta, nem se preocupa com a retirada de água daquela zona para abastecer as barragens do Sotavento Algarvio. "Se os espanhóis tiram, porque não os portugueses? Desde que haja um equilíbrio entre os débitos", salvaguarda.
Na Declaração de Impacto Ambiental já aprovada pela APA, é garantido que os caudais ecológicos são mantidos e que a bombagem de água é realizada entre os meses de Outubro a Abril.