"Que esforço está a fazer para resolver este problema?" Sindicatos culpam Governo pela greve na CP
No Fórum TSF, o ambientalista Francisco Ferreira disse que este é "mais um prego no enterrar da ferrovia"
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Os sindicatos culpam o Governo pela greve que paralisa os comboios da CP a partir desta quarta-feira e sugerem que o Executivo não está interessado em resolver o problema.
Filipe Marques, da Comissão Executiva da CGTP, sublinhou no Fórum TSF que os sindicatos da CP se esforçam ao máximo para não chegar ao ponto de fazer greve e atira responsabilidades para o Governo.
"A pergunta é, de facto, que esforço está a fazer o Governo para resolver este problema estrutural, mas também para efetivar um acordo? O Governo diz que está em gestão. Pode ou não pode? O que nós também respondemos e muito claramente por aquilo que é a ação do Governo é que há aqui questões seletivas daquilo que pode e não pode fazer. Até que pode começar campanha antes da campanha eleitoral. Pode continuar a inaugurar alguns espaços, apresenta alguns investimentos. Mas neste caso concreto, parece que não pode", critica.
O coordenador da Federação de Sindicatos dos Transportes e Comunicações, uma das estruturas que convocou a greve, também questionou os argumentos do Executivo para não chegar a acordo com os sindicatos.
"Primeiro, há um acordo. Se dia 24 era possível e o Governo já estava em gestão, porque é que não possível a partir do dia 26? Esta é a primeira resposta que o Governo tem de ter. Depois, o Ministério, ao contrário daquilo que afirma, não fez nenhuma proposta nova. Encontrou um alçapão na lei que permite a aplicação de uma parte que nós já tínhamos acordado. Mais, nessa parte do acordo, nós fizemos alguma cedências para responder a uma questão que a administração nos colocava, que era que isto pudesse ter cabimento no orçamento da CP. Portanto, o que podemos dizer hoje é que a CP tem dinheiro, não precisa de recorrer ao Orçamento do Estado. Não percebemos como é que a administração não pode fazer a gestão da sua casa, porque não temos de mexer em mais rubricas nenhumas", refere.
Pela associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira é mais duro nas palavras: "Sem me pronunciar do ponto de vista político, é mais um prego entre aspas naquilo que é as dificuldades, o enterrar da ferrovia, porque obviamente as pessoas acabam por optar por outros meios de transporte que não o uso do comboio que é de longe, do ponto de vista da de uma mobilidade sustentável, quer nas zonas metropolitanas, quer à escala nacional, o meio de transporte mais amigo do ambiente, aquele que consegue transportar maior número de pessoas e onde nós efetivamente temos que fazer uma aposta muito grande."
Por outro lado, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) considera que a greve só prejudica a economia e os trabalhadores, mesmo sem transportes, chegaram ao local de trabalho.
"Nós temos que reconhecer o esforço que todos estão a fazer, que muitas vezes, quando chegarem ao final do dia, vão pensar que foi um dia que economicamente não valeu a pena. E não valeu a pena por quê? Porque são precisamente os mais vulneráveis aqueles que utilizam os meios de transporte que hoje ou porque utilizaram aquelas plataformas de táxi ou os próprios táxis ou outras formas onerosas para prestarem o seu serviço, o seu trabalho. Isso com dedicação, com afinco, com brio, com sentido de responsabilidade. Outros pura e simplesmente não chegaram aos postos de trabalho e, portanto, hoje vão ter que prescindir da sua remuneração. E tudo isso, porque há um grupo de pressão que escolheu este momento que estamos particularmente frágeis, porque acabámos de sair de um apagão, porque estamos naturalmente numa altura de campanha eleitoral e por isso entenderam que era altura de provocar dano e pressão e ruído ao país e à sua economia. E podem fazê-lo de forma completamente impune", argumenta.
A CP já tinha alertado esta quarta-feira para a possibilidade de “fortes perturbações na circulação” a partir de quarta-feira, e até 14 de maio, devido a greves convocadas por vários sindicatos, e por não terem sido definidos serviços mínimos pelo Tribunal Arbitral do Conselho Económico Social.
