CGD "tem de ser número um a prestar serviço público". Trabalhadores apelam à "responsabilidade" do Governo
Em Aguiar da Beira, a CGD já perdeu o serviço de tesouraria. O autarca apela ao Governo, no Fórum TSF, para que não se "atenda só aos lucros" e defende a importância de "investir nos serviços de proximidade"
Corpo do artigo
A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a reduzir os serviços no interior do país e também nas ilhas, com dezenas de agências a serem transformadas em pequenos espaços, com menos funcionários, que deixam de oferecer todos os serviços, nomeadamente os de tesouraria, pelo que deixa de ser possível levantar e depositar dinheiro ao balcão, avançou esta terça-feira o jornal Público. O assunto subiu a debate no Fórum TSF, com os trabalhadores do banco a notarem que a gestão desta instituição "não tem que ver única e simplesmente com euros ou lucros", lamentando que o serviço público esteja a ser posto em causa.
A Comissão de Trabalhadores da CGD contesta esta redução de serviços do banco público e apela ao ministro das Finanças para estar atento "ao que se passa".
"Nós já tivemos iniciativas junto do Parlamento, tivemos iniciativas junto do secretário de Estado da Coesão Territorial, porque entendemos que isto choca profundamente com este plano de assimetrias serem corrigidas. O Governo devia estar atento, porque o ministro das Finanças é a tutela da CGD e isto é uma matéria que não tem que ver única e simplesmente com euros ou com lucros", sublinha, no Fórum TSF.
Também o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da CGD, Pedro Messias, considera que o Governo deve intervir em decisões como estas, que passam por reduzir os serviços das agências.
"Tem de ser responsável o Governo, pelo menos nessa matéria, nas decisões estruturais da CGD, nomeadamente quanto ao encerramento de balcões. Deve também ter uma palavra a dizer porque há aqui uma função pública, do banco público, e da missão pública que o banco tem de ter e, aqui, o Estado pode ter uma palavra a dizer. Não estamos com isto a defender que o Governo tenha de se imiscuir na gerência do seu todo da CGD, não é isso. Mas, nesta matéria, pensamos que possa ter aqui uma palavra a dizer", sublinha.
E se, por um lado, Jorge Canadelo, porta-voz da Comissão de Trabalhadores da CGD, considera que Portugal tem de ter um banco "que consiga bater a concorrência", por outro lado, defende que é primordial assegurar que estas instituições consigam "dar aos portugueses aquilo a que eles têm direito e necessitam".
"Pessoas que estão no Portugal profundo, na raia do país, a nível do interior do continente, que estão no Alentejo com centenas de kms de distância entre sedes de concelho, ficarem reduzidos a um trabalhador com parque automático, não tendo em cuidado a questão sociológica, a questão da demografia, das capacidades de iliteracia, ou, até, analfabetismo do nosso povo, isso não é um serviço público", defende.
Jorge Canadelo alerta ainda para a gestão levada a cabo na CGD, acusando-a de ser feita como se o banco "fosse privado". O porta-voz vinca, por isso, que a "CGD não é o BCP 2.0".
"Entendemos que a Caixa tem de ser o número um a prestar serviços bancários, mas também tem de ser o número um a prestar o serviço público a que está obrigada", reitera, acrescentando que a concretização desse objetivo não passa pela aposta no digital.
O presidente da Câmara Municipal de Aguiar da Beira deixa o mesmo apelo no Fórum TSF, ao dar especial enfoque à necessidade de travar aquilo que apelida como a destruição dos serviços públicos no interior do país.
"Da CGD apenas temos uma agência. Se a agência deixa de ter o serviço que tinha de tesouraria e passa a substituí-lo por um cartão, em que o utilizador tem de interagir com a máquina, obviamente que a maior parte das pessoas não vai utilizar esse serviço", explica.
Virgílio Cunha também se dirige ao responsável pela pasta das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, para evidenciar que o Governo não pode "atender só aos lucros". O autarca conta ainda que a população do interior sente que não conta para nada.
"Também temos de entender que temos de investir nos serviços de proximidade", defende.
O autarca de Gaivão revela, no Fórum TSF, que a vila portuguesa, no distrito de Portalegre, já vive esta realidade, com a agência da CGD a atuar apenas com máquinas e uma funcionária.
"No município de Gavião, neste momento, [a CGD] já só tem máquinas e uma funcionária que - imaginemos até uma pessoa com mobilidade condicionada numa ambulância que precisa do serviço - tem de telefonar para a agência de Ponte de Sor a pedir autorização para fechar a porta. Ou seja, temos ali alguém que não tem autonomia nenhuma", lamenta, reforçando que esta é uma "decisão unilateral" do banco.
José Pio acusa, por isso, a CGD de ter "lesado gravemente" o município do interior do país.
"Sou muitas vezes confrontado na rua com as pessoas de mais idade a dizerem: 'Fui à Caixa, mas aquilo agora é um problema. Vou mudar de banco, é a única solução'", avança. O autarca adianta ainda que a população prefere ir a uma agência com atendimento presencial do que "uma máquina".
"Eu próprio já lá fui e, até perceber o funcionamento da máquina... Um idoso que chega ali, às vezes nem cartão tem, quanto mais saber usá-lo e depois confrontam-se ali com um conjunto de máquinas que não lhe dizem nada, estão a olhar para elas e não veem nada", critica.
