Marcelo admite devolução de obras às antigas colónias: "Não podemos colocar travões a novos passos"
O Presidente lembra que Portugal vive em democracia “e o 25 de Abril fez-se para não haver mordaças e censuras”.
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Marcelo Rebelo de Sousa admite a devolução de obras de património cultural às antigas colónias, sublinhando que não pode haver “travões a novos passos” para a cooperação entre Portugal e os países que foram colónias portuguesas durante a ditadura. O Presidente da República foi recebido pelo homologo cabo-verdiano, no Palácio Presidencial, no último dia da visita a Cabo Verde, e o tema das reparações históricas foi abordado pelos dois chefes de Estado.
Uma semana depois das palavras de Marcelo Rebelo de Sousa que abriram a discussão sobre as reparações históricas às antigas colónias, o debate ainda faz eco, alimentado pela visita de três dias do Presidente da República a Cabo Verde.
A relação entre os dois países “é excelente”, garante Marcelo Rebelo de Sousa, mas também o homólogo José Maria Neves. O Presidente português admite, no entanto, que há muito por fazer.
“Temos o dever de irmos sempre mais longe. Mais além. Por um lado, devemos ter a noção das razões do passado que justificam os desafios do futuro. Mas, por outro lado, irmos mais além nos desafios do futuro”, destacou, em declarações aos jornalistas.
No passado, o Governo socialista já admitiu a devolução de obras de património cultural às antigas colónias, o que gerou polémica na política nacional, e o Presidente da República foi questionado sobre o assunto. Na resposta, sublinha que “não podemos colocar travões” a soluções futuras.
“Há formas imaginativas que têm surgido no tempo, de evolução do relacionamento entre os dois povos e os dois Estado. Era impensável chegar-se à conversão de dívida em fundo interno para investimento. Portanto, não podemos colocar travões ao que venha a ser, em tempo oportuno, considerado como novos passos num caminho de cooperação”, atirou.
E quanto às críticas que se ouviram em Portugal sobre as reparações históricas, desde logo, do Chega, o Presidente lembra que Portugal vive em democracia “e o 25 de Abril fez-se para não haver mordaças e censuras”.
“Que melhor homenagem ao 25 de Abril do que, na altura em que se celebram os 50 anos, ser possível ter as mais variadas opiniões sobre o passado, o presente e o futuro”, acrescentou.
Palavras ao lado do Presidente de Cabo Verde, no Palácio Presidencial, e também José Maria Neves sublinha que é preciso “sarar todas as feridas que o passado abriu”. Exemplo disso é a viagem de Marcelo Rebelo de Sousa a Cabo Verde, dias depois de Luís Montenegro ter aterrado no mesmo destino.
“Nestes tempos mais difíceis, mais conturbados, é muito importante cimentarmos as nossas relações de amizade, mas também continuarmos a sarar as feridas. As feridas do país colonizador, mas também dos país colonizado”, respondeu,
Resta saber de que forma os dois países podem continuar a “sarar as feridas” da ditadura. Certo é que Portugal e Cabo Verde têm uma ampla cooperação comum, implementada nos últimos 50 anos. Se é suficiente, só o futuro dirá.