Após crise "sem donzelas ou virgens", PS e PSD vão ter "debate vivo" mas têm de construir pontes para o futuro
Ouvido no Fórum TSF, o antigo deputado social-democrata Guilherme Silva faz a mea-culpa em relação à atual crise governativa e afirma que na política, tal como nos casamentos, as coisas "perturbam-se e acabam em divórcio". Já Santos Silva confessa "preocupação" com as "condições" em que as eleições se poderão realizar
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Portugal atravessa uma crise política "sem donzelas ou virgens" e, por isso, num cenário em que as eleições legislativas antecipadas se tornam quase certas, é importante que o debate político entre os dois maiores partidos se mantenha "vivo", mas sem "prejudicar o diálogo pós-eleitoral", essencial para construir pontes para o futuro do país.
Ouvido no Fórum TSF, o antigo presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva urge desde logo o PS e o PSD a "terem um debate vivo, mas que não prejudique depois o diálogo pós-eleitoral". O socialista afirma que a campanha eleitoral que parece estar na iminência "deve ser desenvolvida com vivacidade", mas também cautela.
O PSD e o PS devem exprimir bem as suas diferenças, mas devem fazê-lo também tendo em conta que vai ser necessário que eles falem e acordem entre si, depois de realizadas as eleições
Ressalva, contudo, que não está a sugerir a necessidade de uma "coligação". Está, clarifica, a alertar para a necessidade de serem estabelecidas entre os dois partidos "condições que permitam que o próximo Governo saia de uma maioria parlamentar minimamente estável e que tenha condições de governabilidade mínima".
Sobre o debate da moção de confiança apresentada pelo Executivo liderado por Luís Montenegro, que foi chumbado no Parlamento esta terça-feira, Santos Silva considera que, a partir de um certo momento, "o debate deixou de ser debate e passou a ser um mercadejar proposto pelo Governo para evitar a todo o custo que a comissão parlamentar de inquérito avançasse nos seus termos regimentais".
Com eleições antecipadas no horizonte, o socialista considera que estas "devem ser convocadas o mais rapidamente possível" e aponta receios.
O que me preocupa agora são as condições em que elas vão realizar-se e vão ser tidos em conta os seus resultados
Já o antigo deputado social-democrata faz a mea-culpa em relação à crise política e afirma que na política, tal como nos casamentos, as coisas "perturbam-se e acabam em divórcio".
"Há sempre culpas de ambas as partes. Não vale a pena aqui arranjar aqui donzelas ou virgens, porque essa figura não existe na política", ressalva, quanto questionado pela TSF se o partido também tem culpas no cartório.
Guilherme Silva reconhece ainda que Portugal vive uma "situação caricata e chocante". Destaca, contudo, que o Executivo de Luís Montenegro foi "talvez dos Governos da democracia portuguesa com maior eficácia num curso espaço de tempo". Fala ainda numa "governação muito certeira", apesar de reconhecer que o país atravessa já em várias áreas "problemas que não se podem resolver de um dia para o outro".
Também é certo, para o social-democrata, que toda a polémica gerada em torno da empresa familiar de Montenegro, Spinumviva, e todo o caos político que daí adveio são "situações que deixam mossa".
"Vai depender agora, por um lado, da capacidade de explicação pública do assunto por parte do PSD e por parte do primeiro-ministro e vai depender também da avaliação que os portugueses façam do trabalho que o Governo fez até agora e do sentimento que tenham, independentemente deste incidente de percurso", nota.
Guilherme Silva admite que "custa" aos portugueses perceberem que o país "vai ser prejudicado por um incidente de natureza pessoal, que pura e simplesmente não está esclarecido ou que deixou um rasto de não esclarecimento".
"Mas, repito, não tem nenhuma violação da lei, absolutamente nenhuma", garante.
