Aumento do preço dos combustíveis "vai ter efeito semelhante a uma quebra de rendimentos"
A subida do preço do petróleo devido ao conflito entre Israel e Irão deverá afetar vários setores. O economista Manuel Caldeira Cabral prevê que, se os aumentos se mantiverem, a fatura mensal dos portugueses pode agravar-se
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O aumento do preço dos combustíveis é uma consequência direta da guerra entre Israel e o Irão e pode ter um efeito transversal a vários setores, principalmente se o conflito for mais duradouro. É essa a convicção do economista Manuel Caldeira Cabral, que adianta que este aumento "afeta todo o setor dos transportes e, por isso, todos os bens transportados, além de ter um efeito também na produção agrícola e em todos os setores que usam energia elétrica".
"É uma má notícia" com impacto nas contas do dia a dia dos portugueses, afirma o economista, sublinhando: "É quase semelhante a uma quebra de rendimento, porque se se gasta 50 ou 100 euros por mês em combustíveis, e se, de repente, está a gastar-se 110 ou 120 euros, isso não é uma despesa que as pessoas consigam suportar neste momento."
Com o prolongar da guerra, a Europa corre o risco de voltar a ver a inflação a subir, avisa o economista, que alerta também para o crescimento económico, que pode ser ainda mais lento e mais fraco do que o desejável. "Teremos a economia a crescer menos e a gerar menos possibilidades de aumento de salários e de crescimento do emprego a médio e longo prazo", acrescenta.
Uma situação que poderá agravar-se, caso o cenário de encerramento do Estreito de Ormuz, um ponto-chave de passagem dos navios com petróleo, se confirmar. "É um fator que tem um efeito imediato, desde logo na própria produção do Irão, que é um país com uma importância grande na produção de petróleo, e obviamente que isto é apenas parte dos efeitos, porque se a guerra, de facto, continuar a escalar, lança toda uma instabilidade, não apenas no Irão, mas nos países vizinhos e em todo mundo", frisa Manuel Caldeira Cabral. Com a instabilidade, vêm as quebras ou o adiamento de investimentos e será necessário encontrar outras rotas para o comércio que podem sair mais caras.
O economista considera que o Governo português deve ter uma posição "reativa", ou seja, "reagir se houver um aumento permanente do preço do petróleo e tentar atenuar esses efeitos nas famílias".