Possibilidade de as grávidas serem reencaminhadas para hospitais onde não são seguidas causa "muita ansiedade"
Sara do Vale, da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, garante que esta incerteza tem empurrado muitas mulheres, mesmo as mais carenciadas, para o privado. "Não será uma linha telefónica que vai revolver os problemas que o SNS enfrenta há anos", atira
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A linha SNS Grávida foi criada há seis meses. Dados divulgados no sábado pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde indicam que foram atendidas 63 mil chamadas durante este período. A mesma nota sublinhava a importância da medida para evitar deslocações desnecessárias às urgências, mas, da parte das grávidas, o balanço não é tão positivo.
Sara do Vale, da Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, garante à TSF que a possibilidade de as grávidas serem reencaminhadas para hospitais onde não são seguidas tem causado "muita ansiedade" às mulheres.
"Mesmo que as pessoas digam 'eu fui seguida neste hospital' ou, mais grave ainda, 'eu estou perto deste hospital', da forma como o sistema e o algoritmo estão feitos, se aquele hospital não estiver aberto a receber, a pessoa pode ir parar a qualquer outro local. Portanto, pode ir parar a um serviço onde não fez a sua preparação para o parto, onde não foi seguida e isso está a gerar imensa ansiedade nas pessoas grávidas, porque está, de facto, a negar o direito a poder escolher o hospital onde nasce o seu bebé."
As críticas prosseguem: "O feedback que me chega é que, muitas vezes, as pessoas que estão a receber estes pedidos de ajuda não são enfermeiros especialistas e, portanto, relativamente a [contar] alguns sintomas [as grávidas] não estarão tão à vontade." E defende que nada substitui a ida às urgências.
A representante da associação revela que estes problemas têm empurrado muitas utentes para o privado: "A evidência tem demonstrado que aquilo que torna a gravidez e o parto mais seguros são esta continuidade de cuidados, são este saber com quem vamos ter o nosso bebé, ou, pelo menos, o hospital onde vamos ter o nosso bebé. Isso atualmente só é possível no privado." E elucida: "Mesmo quem quase não pode está a fazer essa opção, infelizmente."
Sara do Vale enfatiza igualmente que a altura "do inverno, das gripes, das doenças" é também muito complicada e que, apesar de a situação nas urgências parecer mais calma relativamente a anos anteriores, há a "preocupação" sobre como encarar as próximas semanas.
As grávidas que vivem longe dos grandes centros urbanos e que não falam português são as mais afetadas pelos problemas no Serviço Nacional de Saúde, diz ainda.
"Não será, certamente, uma linha telefónica que vai revolver os problemas que o SNS enfrenta há anos devido ao desinvestimento dos seus profissionais, das suas instalações", remata.
