Críticas ao adiamento das festas do 25 de Abril, AR em pré-campanha e Marcelo pede "mais futuro": o essencial da sessão solene
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No dia em que se celebra os 51 anos do 25 de Abril de 1974, a sessão solene na Assembleia da República ficou marcada pelas críticas ao Governo, que adiou as celebrações “por respeito à morte do Papa”. Pedro Nuno Santos disse mesmo que, esta sexta-feira, “o povo sai à rua, enquanto o Governo fica à janela”. Já em jeito de preparação para as eleições legislativas antecipadas de 18 de maio, os partidos políticos alertaram para um “momento ameaçador” e apelaram a uma “mudança urgente e necessária”. José Pedro Aguiar-Branco quer “estabilidade política” e Marcelo Rebelo de Sousa pediu "mais futuro do que passado".
As celebrações no Parlamento começaram com um voto de pesar pela morte do Papa Francisco. O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, afirmou que "os 12 anos de pontificado de Francisco representam para o mundo um decisivo apelo à fraternidade, misericórdia e à paz".
"Apoiou com palavras e gestos os mais pobres de entre os pobres", recordou Aguiar-Branco, sublinhando que o Papa "defendeu com coragem a dignidade de toda a vida humana". "Era, além de tudo mais, um bom amigo de Portugal", apontou. O voto de pesar pela morte do chefe da Igreja Católica foi aprovado por unanimidade, tendo sido feito um minuto de silêncio.
Marcelo pede que "não se confunda o duradouro com o efémero"
No seu último discurso de 25 de Abril enquanto chefe de Estado, Marcelo lembrou que "estas sessões existem para que o duradouro seja mesmo duradouro e o efémero seja mesmo efémero". "Que não se confunda o essencial com o fundamental com o acessório", disse.
Marcelo invocou o cenário internacional de há 50 anos para questionar: "Como não encontrar nos recentes apelos de Francisco alguns dos mesmos problemas e outros ainda maiores?" Marcelo considerou ainda que se tornam "ainda mais urgentes as lutas contra a pobreza, as crises sucessivas e cumulativas".
Numa intervenção marcada pela invocação do Papa Francisco, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que "mais urgente é a paz e a justiça."
"Políticos são construtores da realidade." Aguiar-Branco apela à "estabilidade política" e diz que "o povo a deseja"
Por seu lado, José Pedro Aguiar-Branco começou por recordar os 50 anos das primeiras eleições livres em Portugal: “Celebramos os portugueses que há 50 anos foram votar. Podemos celebrar o gesto, mas devemos estar à altura dele.”
O presidente da Assembleia da República falou sobre a “falta de confiança” dos portugueses nos políticos e referiu que “a abstenção não é uma causa, é uma consequência”. “Os políticos não podem ser meros comentadores da realidade, os políticos são construtores da realidade”, disse, completando: "Podemos discordar uns dos outros, mas todos concordamos que é preciso ter estabilidade política e que o povo a deseja."
Aguiar-Branco citou o Papa Francisco e acrescentou: "Saibamos renunciar ao medo como tática, à divisão como estratégia, ao fatalismo como desígnio."
PSD cita "democracia consolidada, mas imperfeita"
Pelo PSD, Teresa Morais considerou que em Portugal a democracia está consolidada, mas "ainda imperfeita" e citou o exemplo de "desigualdades várias que resistem na sociedade", como aquelas que "mantém as mulheres em baixos níveis de participação política" e o combate à violência doméstica que deve ser "prioridade absoluta".
"Este é um objetivo civilizacional sem o qual nenhuma democracia se pode considerar completa", disse.
A deputada social-democrata avisou ainda que “as redes sociais estão a tornar-se um risco para as democracias”, defendendo que, “salvaguardando a liberdade de expressão, não devem permitir que se partilhem crimes”, numa referência ao recente caso da partilha de imagens de uma alegada violação.
Num discurso pontuado por memórias pessoais, como a experiência familiar da guerra colonial e a celebração da Revolução, Teresa Morais exortou: "Temos de conseguir fazer melhor e vamos fazer melhor."