“Tentativa de aliciar a extrema-direita.” Humans Before Borders acusa Governo de querer associar migração à criminalidade
O ativista Miguel Duarte considera que as imagens da ação policial levada a cabo no Martim Moniz são "absolutamente chocantes" e defende a importância de "acabar com estas operações”
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O grupo de defesa pelos direitos dos refugiados e migrantes Humans Before Borders (HuBB) condena a operação policial que ocorreu na quinta-feira no Martim Moniz, em Lisboa. Em declarações à TSF, Miguel Duarte, um ativista do movimento, diz que migração ser sinónimo de criminalidade é “uma falsidade e uma mentira descarada” e considera que esta é uma tentativa por parte do Governo de "aliciar o eleitorado da extrema-direita".
O ativista acrescenta, em declarações à TSF, que o que se passou não é uma situação isolada: “Temos visto, desde que o Governo tomou posse, uma tentativa por parte de Montenegro - e por aí adiante - de associar a ideia de que criminalidade à migração, que é uma falsidade e é uma mentira descarada. Estas imagens, absolutamente chocantes, de dezenas e dezenas de migrantes encostados à parede na rua, servem simplesmente para levar essa ideia avante, e criar esta ideia de que migrante é igual a criminoso”, sublinha.
O ativista frisa por isso que o HuBB rejeita “por completo” colar a migração à criminalidade. “Achamos que é fundamental acabar com estas operações”, defende.
Miguel Duarte foi notícia em 2019 por ser uma das dez pessoas investigadas pelas autoridades italianas, após ter participado no resgate de migrantes num barco. Para o jovem, a igualdade de direitos entre os cidadãos nacionais e os estrangeiros ainda é uma realidade por atingir.
“Ainda agora estamos a passar esta fase de discutir se a migrantes indocumentados têm direito à saúde. É uma coisa que, quanto a mim, é completamente inconstitucional, além de completamente imoral”, afirma.
Num comunicado publicado no Instagram do coletivo, o HuBB exige “o fim destas manobras discriminatórias que agravam o estigma contra pessoas migrantes que se faz sentir na sociedade portuguesa”. “Igualdade de direitos é o mínimo que a decência nos impõe”, destacam.
Esta operação policial resultou na detenção de duas pessoas e na apreensão de bastões, documentos, uma arma branca, um telemóvel, cerca de cem artigos contrafeitos e quase quatro mil euros em dinheiro. A operação foi alvo de críticas por parte dos partidos de esquerda. Esta quinta-feira o Bloco de Esquerda, o PCP e o Livre declararam que querem ouvir a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, para “esclarecer a Assembleia da República sobre os reais objetivos” da operação, uma vez que consideram que as imagens “suscitam dúvidas quanto à sua adequação e proporcionalidade”. Esta sexta-feira, o secretário-geral do PS não quis ficar atrás nas críticas. Pedro Nuno Santos descreve a operação como um “espetáculo degradante e deprimente” que reflete a ação do “Governo mais extremista das últimas décadas” em Portugal.
