Discursos de ódio no Parlamento? "É esta a hegemonia da violência política fascista que nos ameaça"
No Fórum TSF desta quarta-feira, o filósofo José Gil defendeu que a Assembleia da República (AR) não pode confundir o discurso de ódio com a liberdade de expressão. Já Filinto Lima avisou que este tipo de discurso pode ter consequências práticas nas escolas
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A divulgação do nome de crianças alegadamente estrangeiras por deputados do Chega no Parlamento e nas redes sociais subiu a debate, esta quarta-feira, no Fórum TSF. O filósofo José Gil defendeu que a Assembleia da República (AR) não pode confundir o discurso de ódio com a liberdade de expressão, enquanto Filinto Lima, representante dos diretores de escolas, lamentou que se esteja a “usar crianças para uma guerra que não é delas”.
José Gil começou por estabelecer um paralelo com o que aconteceu na Alemanha para afirmar que “é esta hegemonia da violência política fascista que nos ameaça”.
“Isto é gravíssimo. Historicamente, as lições mostraram-se. Cada vez que um partido democrata num governo conservador quis absorver um grupo de extrema-direita, assimilando -o, integrando-o, ou aceitando-o, foi engolido por ele. É o que vai acontecer”, sublinhou.
Na perspetiva do filósofo, um dos perigos é já haver na sociedade portuguesa “uma violência que circula e que não é só política”, nomeadamente bullying e a forma como se olha para os estrangeiros em Portugal.
Essa violência social subterrânea muitas vezes vai ser capturada pela violência política do discurso, que se vai aproveitar de todas as outras para se legitimar a si própria.
Ainda assim, isto não quer dizer que o “discurso de ódio passará a ser adotado pelos deputados na AR”. Apenas o facto de já ser admitido é, sim, “muito grave”, ressalvou.
Também o presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas, Filinto Lima, mostrou-se chocado com o que aconteceu no Parlamento e avisou que este tipo de discurso pode ter consequências práticas.
“Por acaso estamos em pausa, em época de exames, ou alguns já de férias, não podemos ver de imediato as percussões deste discurso a apelar ao ódio, mas não sei o que é que vai acontecer em setembro. (...) Os alunos vão revoltar contra os alunos estrangeiros? Os pais portugueses não se vão revoltar contra os pais desses meninos?”, questionou.
“Isto não ajuda em nada a convivência. Não ajuda a resolver o desafio que temos. É usar crianças para uma guerra que não é delas”, concluiu.
