Carneiro desafia primeiro-ministro a escolher entre PS e Chega. Admite deixar Montenegro a falar apenas com Ventura
José Luís Carneiro fez um ultimato ao primeiro-ministro, avisando que PS não pode ser colocado ao nível do Chega
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José Luís Carneiro desafia Luís Montenegro a decidir com quem quer negociar futuras acordos — ou o PS, ou o Chega — e admite mesmo sair de cena caso o primeiro-ministro mantenha socialistas e André Ventura em pé de igualdade. No final da comissão política do PS, no Largo do Rato, o secretário-geral socialista disse mesmo que Montenegro não está habilitado para ser primeiro-ministro se não consegue distinguir entre PS e Chega.
O primeiro-ministro tem conversado com o PS e com o Chega, como no caso da Defesa, em que chamou os dos líderes partidários para reuniões em São Bento, por iniciativa própria. O entendimento de José Luís Carneiro é que Luís Montenegro deve definir um parceiro de futuro.
“Eu admito que ainda tenha espaço de recuo, mas vai ter que explicar ao Parlamento qual foi o princípio de acordo que o líder do Chega referiu há dias quando saía de uma reunião com o primeiro-ministro. Em que é que consiste esse princípio de acordo? Quais são os termos desse princípio de acordo?”, questionou.
O PSD chegou a um acordo com o Chega para alterar a lei de estrangeiros, aprovado na especialidade na sexta-feira, e André Ventura já garantiu que existe um “principio de acordo” com o Governo para mudanças na lei da nacionalidade, que deverá ser votada em setembro. Ora, o secretário-geral do PS lembra a Luís Montenegro que PS e Chega são partidos distintos e “não podem ser colocados” ao mesmo nível.
Nunca o PS pode ser colocado ao nível de um partido que atenta contra os valores democráticos. E se o primeiro-ministro não é capaz de distinguir essa representação política e social, então o primeiro-ministro não está habilitado para definir e defender o interesse nacional
José Luís Carneiro apelou mesmo à “consciência histórica” e “à memória” do primeiro-ministro para que saiba distinguir “o Partido Socialista, do que significa o PPD e do que significa o CDS”.
Ou seja, o PS está recetivo a deixar Luís Montenegro a falar sozinho com André Ventura? “Se o primeiro-ministro mantiver as posições, se aquela posição que foi tomada na sexta-feira passada for uma posição que o Governo queira manter, isso significa uma rutura com o Partido Socialista, isso é claro”, respondeu.
Na reunião da comissão política do PS, de acordo com relatos de membros do órgão à TSF, o antigo ministro José António Vieira da Silva foi um dos que apelou a Carneiro para que deixe o primeiro-ministro num monólogo com André Ventura, caso o Governo insista em procurar acordos tanto com o Chega como com o PS. Ouviu-se mesmo que “o PS não pode participar em acordos com o partido de Ventura”.
José Luís Carneiro, na intervenção inicial, fechada aos jornalistas, prometeu “uma oposição firme às opções que colocam em causa os valores” do PS contra “a aliança espúria” entre a AD e o Chega.