"Os mesmos problemas": professores denunciam "culpa partilhada", falta de apoios na estadia e método de avaliação "subjetivo"
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Os "ingredientes" têm sido os do costume para trabalhar uma velha "receita" que traz os "problemas" de sempre. Ouvidos no Fórum TSF desta quinta-feira, a propósito do arranque do ano letivo, professores denunciam uma "culpa partilhada" pelas equipas ministeriais para o estado de arte, com a sucessiva falta de apoios na estadia dos docentes deslocados e um método de avaliação "subjetivo" para a progressão na carreira.
Segundo o ministro da Educação, Ciência e Inovação, em pelo menos 98% das escolas os alunos terão aulas a todas as disciplinas, mas existem ainda cerca de mil horários completos por preencher. O número de alunos sem todas as disciplinas ainda não foi contabilizado, mas, em entrevista à Antena 1, na quarta-feira, Fernando Alexandre garantiu que as necessidades das escolas “são muito inferiores” aos professores ainda não colocados.
A vice-secretária-geral Federação Nacional da Educação, Josefa Costa, afirma, contudo, acreditar que "não é assim um valor tão residual a falta de professores, como diz o senhor ministro".
"Parece-me ser mais. Eu tenho estado a consultar diferentes escolas do país e, de facto, sobretudo no sul do país há bastante falta de professores no distrito de Beja, em todo o Alentejo Litoral, no Algarve, enfim", resume.
Josefa Costa reconhece que estes dados irão, porém, ser alterados, "provavelmente já na próxima semana", uma vez que as vagas por ocupar irão ser preenchidas, "pelo menos em parte", pelas reservas de recrutamento.
O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas sublinha que existem neste momento 20 mil professores profissionalizados a norte do Rio Douro que ainda esperam a sua colocação. Para Filinto Lima, esta realidade reforça aquilo que tem "pedido insistentemente" ao ministro das Finanças: um "apoio devido" na estadia dos docentes deslocados a "centenas de quilómetros de casa". Só assim, diz, é possível que estes estejam "motivados" para trabalharem em cidades como Lisboa, onde o fenómeno "graça em 50% de escassez".
"Ou seja, parece-me que só há um ou dois por cento de escolas que são 'vítimas' deste fenómeno. Poderia haver menos, se este apoio existe", assegura.
O secretário-geral da Fenprof, José Feliciano Costa, adensa ainda a temática: contraria o anúncio do ministro da Educação, Fernando Alexandre, de que existem neste momento 20 mil candidatos sem colocação e esclarece que, na verdade, existem cerca de 14 mil, uma vez que alguns professores ter-se-ão candidatado a "mais do que um grupo de recrutamento".
"Mas 70% destes candidatos estão concentrados em cinco grupos de recrutamento, portanto, não é por aí que se resolve o problema", assinala.
Num universo de 30 grupos de recrutamento para as respetivas disciplinas lecionadas, explica, há áreas de ensino onde "praticamente não há candidaturas": é o caso da disciplina de educação especial a matemática — tanto no segundo, como no terceiro ciclo e ensino secundário —, português, geografia, história, entro outros.
Há, contudo, uma "culpa partilhada por todos" para o atual estado de arte do ensino em Portugal, defende o professor Carlos Cortez, que editou recentemente o livro 'O Fim da Educação'. Apesar de destacar a existência de ministros e equipas ministeriais "extremamente competentes" — "como Roberto Carneiro", que criou "estabilidade" e concedeu "previsibilidade quanto à progressão na carreira" —, denuncia que a realidade vivida agora parte, sobretudo, do "consulado de Maria de Lurdes Rodrigues", que diz ter sido "tenebroso" para os professores e que se "dividiu para reinar".
Lamenta, por isso, que o "essencial" passe ao lado das discussões no setor e aponta como questão fundamental a abordar a "qualidade do ensino em Portugal". Critica desde logo o método de avaliação para a progressão da carreira, por ser "absolutamente subjetivo".
"Não é só burocrático, é subjetivo. Depende em grande medida do grau de simpatia que o avaliador terá ou não em relação ao avaliado. O resto é preenchimento de coisas burocrática e disto ninguém fala", atira.
Defende ainda a digitalização como "inimiga do conhecimento" e elogia a proibição do uso de telemóveis no recinto escolar no primeiro e segundo ciclos, bem como o fim do recurso aos manuais digitais.
