Duarte Nuno Vieira, professor catedrático de Medicina Legal, defende na TSF que a dor de perder as poupanças de uma vida "é tão evidente" que nem precisaria de ser medida. O advogado das duas mil vítimas pediu, no início do julgamento, uma avaliação que permita medir o impacto dessa perda
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Duarte Nuno Vieira afirma que, apesar de não ser absolutamente necessária, a perícia à chamada "dor de perder dinheiro", pode ser feita, mas é uma tarefa "complexa". Ao contrário da dor física, que, geralmente, deixa marcas visíveis, o sofrimento psicológico é mais subjetivo. Daí que seja necessário tentar perceber se houve ou não lugar a um "quadro clínico psicológico ou psiquiátrico" e agir em conformidade.
O presidente do Observatório dos Direitos Humanos nos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) considera que, no caso das duas mil vítimas que ainda não foram ressarcidas, no caso BES, poderia aplicar-se um princípio jurídico segundo o qual "aquilo que é evidente não carece de prova". Ou seja, "praticamente não é preciso perícia que demonstre que aquela pessoa terá passado por uma vivência emocional muito intensa", perante o desaparecimento de dinheiro que custou uma vida a ganhar.
Sobre a intervenção da Medicina Legal em processos como este, Duarte Nuno Vieira clarifica que há mais do que apenas autópsias neste ramo da ciência. "Aquilo que se faz mais em medicina legal são exames periciais em pessoas vivas. No âmbito do direito penal, do trabalho, civil, da família, administrativo, precisamente para avaliar danos que as pessoas tenham vivenciado na sequência de um determinado evento". E, entre estes exames, está a "avaliação do quanto de dor" é que a pessoa sofreu.
O professor catedrático na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra sublinha que a investigação forense é essencial para que a Justiça possa ser mais eficaz, uma vez que lhe dá instrumentos para uma decisão mais justa. "É ajudar a ver claro. É servir um bocadinho como os óculos do juiz para o ajudar a ver a realidade da forma mais focada possível".
Nesta entrevista à TSF, Duarte Nuno Vieira admite que avançar com perícias a cerca de duas mil pessoas, o número de vítimas no caso BES, implicaria um tempo de espera pelos resultados "particularmente significativo", o que poderia ter impacto na duração do julgamento que, já de si, demorou anos a começar e não tem data para terminar.
O antigo presidente do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML) pensa que a instituição tem capacidade para fazer esta avaliação em larga escala, mas, no caso de dificuldades, a lei prevê que o INML possa "adquirir perícias a outras entidades públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras".