Tarifas impostas pelos EUA: UE anuncia retaliação de 26 mil milhões de euros a partir de abril
As taxas de 25% impostas pelo Presidente norte-americano ao aço e ao alumínio entram esta quarta-feira em vigor, marcando uma nova etapa na guerra comercial entre os Estados Unidos e os principais parceiros comerciais
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A União Europeia (UE) anunciou, esta quarta-feira, contramedidas, a partir de 1 de abril, às tarifas alfandegárias de 25% impostas pelos Estados Unidos às importações de aço e alumínio.
"Como os Estados Unidos estão a aplicar tarifas no valor de 28 mil milhões de dólares [26 mil milhões de euros], estamos a responder com contramedidas no valor de 26 mil milhões de euros", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em comunicado.
Na nota, a Comissão garante que se mantém "sempre aberta" à negociação. "Acreditamos firmemente que, num mundo repleto de incertezas geopolíticas e económicas, não é do nosso interesse comum sobrecarregar as nossas economias com tarifas", afirmou von der Leyen.
Ouvido pela TSF, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal, Armindo Monteiro, alerta para o impacto destas medidas na economia.
"Aquilo que foi anunciado é, sobretudo, para os produtos que são matéria-prima ou quase matéria-prima. Nesse sentido, não sendo Portugal particularmente um exportador de matérias-primas para os Estados Unidos, em princípio, não teremos uma afetação grande", refere.
Também em declarações à TSF, o vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos, Rafael Campos Pereira, afirma que a entrada em vigor das tarifas norte-americanas não devem afetar as exportações portuguesas para os EUA, porque se aplicam às matérias-primas e não aos produtos transformados.
"Estas tarifas aplicam-se, em princípio, apenas ao aço e alumínio como matérias-primas e não como produtos transformados, apenas uma parte daquilo que produzimos em Portugal será abrangido pelas tarifas. Este valor relativamente aos produtos abrangidos pelas tarifas corresponderá a cerca de 160 milhões. Apesar de tudo, entendemos que as empresas americanas continuarão, em muitos casos, a procurar os fornecedores portugueses e, portanto, pensamos que mesmo que venha a haver algumas tarifas para os produtos, continuaremos a conseguir fornecer o mercado americano", explica à TSF Rafael Campos Pereira, sublinhando que o que deve preocupar as empresas são as tarifas aplicadas às importações europeias.
"Mais do que nos preocuparmos as tarifas aplicadas pela Administração Trump às matérias-primas que, eventualmente, venham da Europa, devemos estar atentos às tributações e às tarifas aplicadas pela própria Europa às matérias-primas importadas pelos transformadores europeus de outras paragens. Isso, sim, penaliza as empresas europeias, penaliza a indústria metalúrgica e metalomecânica Europeia e acaba por penalizar os consumidores", alerta.
O vice-presidente da Associação dos Industriais Metalúrgicos defende ainda que as empresas portuguesas devem continuar a investir e crescer. "Nós entendemos que devemos continuar a acrescentar valor, a investir na inovação e a diversificar mercados. Só assim é que podemos continuar a ser competitivos nos mercados globais e, apesar daquilo que a Administração norte-americana está conjunturalmente a fazer, nós entendemos que as empresas portuguesas deverão continuar a fazer o seu trabalho de crescimento", acrescenta.
As taxas de 25% impostas pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, ao aço e ao alumínio entraram esta quarta-feira em vigor às 00h01 (04h01 em Lisboa), marcando uma nova etapa na guerra comercial entre os Estados Unidos e os principais parceiros comerciais.
As regiões abrangidas incluem, além da União Europeia, Canadá, China, Japão e Austrália, e o objetivo declarado de Trump passa por proteger a indústria siderúrgica dos EUA, que tem visto a produção diminuir de ano para ano face a uma concorrência cada vez mais forte, particularmente da Ásia.
Os Estados Unidos importam cerca de metade do aço e do alumínio utilizados no país, para setores tão variados como as indústrias automóvel e aeronáutica, a petroquímica e os produtos de consumo básicos, como os enlatados.
"As duas indústrias que mais consomem aço nos Estados Unidos são o setor automóvel e a construção civil, tanto residencial como comercial", afirmou o investigador do 'think-thank' Cato Institute, Clarke Packard, citado pela agência France-Presse.
Desde a entrada em funções, Donald Trump tem recorrido às tarifas, utilizando-as como instrumento de negociação com os parceiros comerciais dos Estados Unidos, como incentivo à instalação de empresas no país e como fonte de receitas para as finanças federais.
