Prolongar o reinado ou o fim de uma era. Pinto da Costa, André Villas-Boas e Nuno Lobo são os candidatos à presidência do FC Porto, no ato eleitoral mais esperado no clube em 40 anos
Depois de 15 mandatos consecutivos nos últimos 42 anos, Pinto da Costa tem pela frente o mais sério teste à sua continuidade e longevidade.
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Sucessor de Américo de Sá desde 17 de abril de 1982, o 33.º líder máximo da história do clube, de 86 anos, foi várias vezes reeleito de forma inequívoca, à exceção de 1988 e 1991, quando superou José Martins Soares, e de 2020, ao ter concorrência a dobrar. Os 68,65% de votos recolhidos há quatro anos permitiram derrotar José Fernando Rio (26,44%) e Nuno Lobo (4,91%), mas revelaram a percentagem mais baixa em 15 triunfos eleitorais somados no seu longo percurso presidencial.
O dirigente mais titulado do mundo ambiciona um 16.º mandato, 42 anos após a primeira eleição, a 23 de Abril de 1982. As últimas quatro décadas foram de sucesso desportivo – com 68 títulos no futebol (incluindo sete internacionais) e 2508 troféus nas variadas modalidades e escalões do FC Porto.
A Lista A, liderada por Jorge Nuno Pinto da Costa, garante que “o Todos Pelo Porto é um projeto para marcar uma nova era do FC Porto, contando para isso com um programa ambicioso, uma equipa renovada e a garantia de um clube controlado pelos sócios”.
A Lista B, encabeçada por André Villas-Boas, assume como lema a defesa de que ‘Só há um Porto’, de que é a união que primordialmente faz a maior força”.
A Lista C, comandada por Nuno Lobo, assume que “é vital prosseguir um novo rumo com vista a uma cada vez maior afirmação do nosso clube em todos os palcos e dimensões, nacional e internacionalmente” e garante que é uma “candidatura de sócios para sócios, de portistas para portistas”.
Por último, a Lista D, encabeçada por Miguel Brás da Cunha, que só concorre ao Conselho Superior, luta “por um Futebol Clube do Porto Maior, Unido, Insubmisso e Eclético”.
As eleições para a presidência do FC Porto decorrem este sábado, dia 27 de abril, entre as 9h00 e as 20h00, e haverá 44 mesas de voto no interior do Estádio do Dragão.
Foi criado um portal na Internet – eleicoes.fcporto.pt - , que concentrará toda a informação sobre o ato eleitoral.
Segundo o Regulamento Eleitoral do clube, os sócios devem apresentar na mesa de voto o respetivo documento de identificação (físico ou digital) legalmente válido, bem como o Cartão de Sócio (igualmente físico ou digital).
A lista vencedora para cada um dos três órgãos sociais executivos e os membros eleitos, pelo método de Hondt, para o único órgão consultivo são proclamados pelo presidente da Mesa da Assembleia Geral, José Lourenço Pinto, no site oficial do clube, imediatamente após o apuramento dos resultados, estando a tomada de posse prevista até 13 de maio.
O que disseram os candidatos em entrevistas à TSF
Pinto da Costa
"Não tenho medo de nada. Só havia uma coisa de que eu tinha medo, era que o clube viesse a sair da mão dos sócios, com a venda de ações como aconteceu no Braga, porque são os mesmos que trataram desse negócio que estão por trás dessa candidatura. Então eu teria, não é medo, teria um peso enorme da consciência se não me tivesse candidatado quando isso acontecesse. Candidato-me, não tenho medo nenhum de ganhar, nem de perder. É como diz o João Pinto, o prognóstico só no fim. Mas ficaria de mal com a minha consciência se, sabendo o que estão a preparar, não me tivesse candidatado para tentar evitá-lo. Se a opção dos sócios for ir atrás desse projeto de desbaratar o clube, o problema é dos sócios eu ficarei com a consciência tranquila.
A primeira coisa é tentar segurar todos os jogadores que pretendemos manter. E a segunda é puxar alguns jovens talentos que estão nos escalões de baixo, que já deram mostras de que podem ser uma garantia para as nossas equipas, e também, depois, dar um retoque com jogadores de categoria que venham acrescentar algo mais à nossa equipa.
Pode haver burros aos 20 e pode haver burros aos 60, aos 70, pode haver gente capaz aos 20, aos 60, aos 80... O Presidente dos Estados Unidos, aliás ambos os candidatos, andam um para baixo, outro para cima, mas andam os dois à volta dos 80 anos. Não é pela idade, é pela capacidade que tiverem, pela vontade que tiverem de servir a causa a que se vão entregar.
Não tenho sondagem nenhuma, porque se há uma coisa que não acredito é em sondagens. Basta ver nas últimas quanto tinha o Chega e quanto na realidade teve. Portanto, as sondagens são encomendadas e, naturalmente, são sempre a favor de quem as encomenda. Eu não encomendei nenhuma, nem estou preocupado com isso. As minhas sondagens são na boca das urnas, é no voto que se lá deposita. Isso é que são as sondagens. O resto, para mim, é tudo conversa."
André Villas-Boas
"É a cadeira de sonho verdadeiramente, com o máximo de responsabilidades. Diverge no sentido que é, no fundo, a liderança que dita o destino e o rumo do clube. Portanto, sobre esse sentido caem ainda mais responsabilidades."
"Eu acho que o FC Porto chegou a um ponto de viragem absoluta. Nós tivemos rendimento desportivo. É um momento muito sensível relativamente ao futuro. O ecossistema do futebol também está sensível por si e é preciso uma gestão muito mais moderna, com um conhecimento profundo, que saiba adaptar as estruturas do FC Porto às necessidades de um clube de elite do futebol europeu. As pessoas que estamos a reunir têm estas competências e características e conseguirão responder a estas exigências. Daí acharmos, sinceramente, que este é um momento de grande oportunidade também para os sócios, porque se reúnem aqui, nesta candidatura, tantas e boas competências relativamente ao futuro."
"Criar valor, criar mais valias, construir plantéis competitivos, porque é uma obrigação também desta Direção ser campeã no primeiro ano, tendo em conta estes últimos dois anos. O foco do FC Porto não se pode distanciar do título e, claro, não se pode distanciar do título à distância que está atualmente de 18 pontos para o primeiro lugar e 11 pontos para o segundo classificado. Portanto, tudo isto são sinais de perda de capacidade competitiva e nós temos de encurtar distâncias, mas queremos criar plantéis competitivos para sermos campeões."
"Vamos encontrar muitas coisas curiosas, mas uma coisa é certa, eu serei implacável com qualquer pessoa que tenha lesado o FC Porto. Implacável em todos os pontos de vista. E todas as pessoas que tenham abusado do FC Porto, a nível pessoal, eu irei comunicar. E as razões, os porquês, porque é que o fizeram, nesse aspeto serei implacável."
Nuno Lobo
"Sou igual a Sérgio Conceição, detesto perder!
Não me candidatei a pensar em resultados. Candidatei-me com o mesmo pressuposto que defendi em 2020. Servir o FC Porto. Essa é a razão da minha candidatura. Defender os interesses do FC Porto. Não estou aqui por mim, por interesses pessoais. Tudo aquilo que preconizei em 2020 não vi a ser cumprido durante estes quatro anos, daí a razão da minha candidatura. Estou aqui para servir unicamente o FC Porto.
Espero convencer o universo portista, os associados do seguinte: ‘Porque não acreditar em mim?’ Tenho esse desejo de ganhar as eleições, claro. Sei que não é fácil, mas acredito em mim e na equipa que lidero.
Houve uma colagem desde o início desta candidatura a Jorge Nuno Pinta Costa. As pessoas têm de ver que não estamos aqui para destruir, para dividir. Um dos pressupostos desta candidatura continua a ser agregar, unir o FC Porto, porque tem sido assim sempre, esta força, este ADN do Dragão. Tem sido o melhor clube português com essa união, com esse agregar dos sócios em torno do clube. O FC Porto sempre lutou contra poderes instalados a que temos assistido ao longo dos anos. Já o meu avô me dizia: quando passávamos a ponte, já íamos a perder. E também por tudo aquilo a que temos assistido e vivido, nas diferenças abismais que existem entre a cidade de Lisboa e a do Porto. Temos um pouco disso tudo, esse ADN pertence-nos, aos adeptos do FC Porto, às gentes do Porto e às gentes do Norte.
Tenho noção das dificuldades que o FC Porto atravessa, mas é um problema transversal. Não vale a pena estar a citar os passivos de outros clubes. Vemos a nível internacional passivos astronómicos. Para não melindrar clubes portugueses, falamos no Barcelona, que tem mais de 2 mil milhões de euros de passivo. Agora, eu tenho propostas de sustentabilidade e de futuro. Acredito que podemos reverter este valor, porque falamos em 400 e tal milhões de euros.
