Explosões de "pagers" no Líbano. Especialistas apontam papel de Netanyahu na "escalada" por parte de Israel
Em declarações à TSF, Andrew Cottey, Joana Ricarte e Germano Almeida explicam o que pode estar em causa com esta nova onda de ataques
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A semana no Médio Oriente ficou marcada pela nova onda de explosões de "pagers" e "walkie-talkies" no Líbano, que fizeram, pelo menos, 32 mortos, de acordo com as autoridades libanesas. A TSF ouviu vários especialistas sobre esta matéria para tentar perceber o que está em causa neste tipo de ataques.
Andrew Cottey, professor na Universidade de College Cork, na Irlanda, admite que neste caso do ataque ao Líbano, que não foi reivindicado por Israel, além da tecnologia usada, existe também outro fator a ter em conta: o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
"Em Israel e até nos Estados Unidos, eles veem isto em termos de um quadro mais amplo, uma guerra iraniana contra Israel. Assim, por exemplo, o Irão apoia o Hezbollah, o Irão apoia o Hamas, o Irão apoia os Hutis. Esta é uma perspetiva, mas penso que no outro lado - e penso que vocês sabem -, há pelo menos igual verdade nisto. As próprias políticas de Israel são altamente agressivas. Estes atentados com walkie-talkies são um passo crescente nesse registo agressivo por Israel. Todos temos de nos perguntar: Porque é que Israel fez isso agora? Até que ponto o primeiro-ministro Netanyahu tem interesse na escalada, em vez de interesse na 'desescalada'?", explica à TSF Andrew Cottey, também investigador nas áreas de relações internacionais e segurança internacional da NATO, no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) e no Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (SIPRI).
No mesmo plano, Joana Ricarte, investigadora na Universidade de Coimbra, aponta também para o primeiro-ministro israelita: "Nós temos um líder em Israel, que é um líder extremista, que é perseguido, acusado por corrupção, que está numa situação de imensa crítica interna e de vulnerabilidade, inclusive pessoal, tem um mandado do TPI a ser metido nas suas costas e que não pode sair do poder."
Também ouvida pela TSF, a investigadora recorda que "ainda não foram apuradas as responsabilidades pelo que se passou no dia 7 de outubro". "Foi uma falha de segurança incompreensível e Benjamin Netanyahu tem tentado ao máximo impedir que a guerra termine, porque está à espera também das eleições norte-americanas. Então parece-me que há uma tentativa de ampliação dessa guerra para uma frente norte. Isso tem sido dito explicitamente, inclusive por Israel", afirma.
O comentador de política internacional Germano Almeida não ficou surpreendido com o que aconteceu. "Não me surpreende, porque estamos a entrar nesse tipo de guerra, uma guerra em que a questão da informação é crucial e a questão da tecnologia é crucial, em que no micro do teu espaço próprio, com o teu aparelho próprio, não estás a salvo se o teu inimigo tem acesso à tua rede. Isto obviamente foi uma operação de inteligência israelita", considera, em declarações à TSF.
"Isto é um poço sem fundo, porque também sabemos que não é assim que Israel vai eliminar os proxys do Irão e tanta gente no Médio Oriente quer ou a extensão, ou a redução do poder de Israel", acrescenta.