Putin quer "paz pela força" numa Europa que se "marginalizou": condições russas implicam "capitulação total" de Zelensky
Em declarações à TSF, Marcos Farias Ferreira, professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, explica que a "marginalização" do velho continente "é o resultado da posição em que a Europa se colocou quando cortou todas as vias diplomáticas com a Rússia"
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O professor do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Marcos Farias Ferreira afirma que o Presidente russo, Vladimir Putin, só "está interessado num cessar-fogo a partir de uma posição de força" e isso dificulta a possibilidade de chegar a acordo para o fim da guerra na Ucrânia. Atira ainda responsabilidades à Europa pela sua "marginalização" nas negociações e explica que a cedência ucraniana às exigências de Moscovo ditariam a "capitulação total" de Volodymyr Zelensky.
"É a famosa paz pela força. Todos os interlocutores nesta questão falam da paz pela força, mas a questão é que Putin fala disto a partir desta perceção de que ganhou a guerra. Isto torna obviamente difícil chegar a um consenso", explica, em declarações à TSF.
O professor defende que o chefe de Estado russo "não entende que está a falar com a Ucrânia diretamente". Pelo contrário, "Putin fala com [Donald] Trump" e a "Rússia fala com os EUA".
Na semana passada, o Presidente russo disse que estava disposto a discutir com o homólogo norte-americano, Donald Trump, "as dúvidas" sobre a proposta de trégua de 30 dias na Ucrânia, que Kiev já aceitou. Contudo, o chefe de Estado russo não concordou com qualquer trégua e decidiu estabelecer condições maximalistas, como a Ucrânia ceder cinco regiões anexadas pela Rússia, abandonar as ambições de Kiev de se juntar à NATO e desmantelar o Governo ucraniano em vigor.
Mas Marcos Farias Ferreira atira responsabilidades ao velho continente por ter ficado de fora das negociações para um eventual cessar-fogo no território ucraniano e admite que isso é algo com que os europeus "não sabem muito bem como adaptar-se".
"A marginalização da Europa é evidente, mas também é o resultado da posição em que a Europa se colocou quando cortou todas as vias diplomáticas com a Rússia, quando cortou todas as possibilidades de negociação e de resolução pacífica do conflito", considera.
Marcos Farias Ferreira entende, por isso, que não "resta" muito mais à Europa do que "escalar o conflito", até porque Putin não aceitará uma trégua se não estiverem assegurados os "interesses russos, tal como eles foram definidos nestes três anos".
Prevê, por isso, "momentos muito difíceis pela frente", sobretudo para a Ucrânia "que terá muita dificuldade em aceitar" as condições impostas pela Rússia.
"Para o Presidente ucraniano, aceitar estas condições implicam a capitulação total, ou seja, implica reconhecer que perdeu a guerra e, para setores da sua opinião pública, isto é inaceitável", sublinha.
A perda de território, o impedimento da adesão da Ucrânia à NATO e a constituição deste Estado como país neutral e desmilitarizado poderão "provocar divisões internas graves" e dar origem a "outro tipo de conflitos" que ainda nem são percetíveis.