Movimento Porta a Porta quer demissão do autarca de Loures pela "salvaguarda da democracia e das pessoas" que estão a dormir no meio dos escombros
A saída de Ricardo Leão da presidência da Câmara Municipal de Loures é "urgente e necessária", diz o porta-voz André Escoval à TSF
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O movimento Porta a Porta repudiou esta quinta-feira as declarações do presidente da Câmara Municipal de Loures sobre as demolições de construções ilegais no Bairro do Talude Militar, acusando-o de fazer vídeos sem ir ao terreno. E, em declarações à TSF, André Escoval, porta-voz daquele movimento, sublinha que a demissão de Ricardo Leão "é urgente e necessária a bem da salvaguarda das pessoas" que estão a dormir no meio dos escombros há três noites e também pela "democracia".
O presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão, disse na quarta-feira, num vídeo divulgado nas redes sociais, que não vai recuar nas demolições, que vai continuar a apoiar as pessoas afetadas e acusou figuras públicas e movimentos políticos de se aproveitarem da pobreza e da fragilidade.
Ricardo Leão disse também que este é um tema complexo e não pode ser enfrentado apenas pela Câmara Municipal de Loures e esclareceu que antes da intervenção na zona do Talude na segunda-feira “todas as pessoas foram informadas e abordadas pessoalmente pelos serviços da câmara, antes da operação, durante a operação e depois da operação”.
Esta quinta-feira, numa reação às declarações do autarca do PS, o Movimento Porta a Porta - Casa para Todos, que luta pelo direito à habitação em Portugal, acusa Ricardo Leão de fazer vídeos para “a narrativa dominante, sem ir ao terreno”.
“Ricardo Leão diz que promoveu as demolições para garantir a segurança, a salubridade e a dignidade das pessoas. Ricardo Leão ainda não foi ao terreno ver que conseguiu exatamente o contrário, isto é, mais insegurança para aquelas pessoas e toda a comunidade, mais insalubridade e destroços e arrasou com a dignidade das pessoas ao expor todas elas a esta situação”, realça o movimento, em comunicado. Já à TSF, André Escoval diz mesmo que o autarca recorre "várias vezes à mentira descarada".
Para o Porta a Porta, Ricardo Leão “não é, pelo descrito, sério e a capacidade de decisão que revela assemelha-se à decisão típica de regimes tiranos e desumanos”.
O movimento acusa também o autarca de mentir ao dizer que garantiu apoio antes, durante e depois das demolições.
“Afixar um Edital às 18h00 de uma sexta-feira e demolir às 09h00 da segunda-feira seguinte não é apoiar ninguém antes, bem pelo contrário, é agir com especial censurabilidade, má-fé e intenção dolosa e cobarde”, refere o movimento.
De acordo com o Porta a Porta, durante a operação nenhum técnico de apoio social esteve presente no terreno com qualquer solução.
“Aliás, as primeiras técnicas de serviço social do município apenas foram ao terreno, sem efetivas soluções, 48 horas depois das demolições. Depois das demolições, as soluções efetivas continuam sem surgir. A prova cabal disso é que as pessoas continuam a fazer a sua vida no meio dos escombros que Ricardo Leão e o PS à frente da Câmara Municipal de Loures criaram”, sublinharam.
Segundo o movimento, o presidente da Câmara de Loures prometeu continuar neste caminho e tal "é inadmissível".
Ricardo Leão provocou uma tragédia. Na vida das pessoas. No Estado de Direito Democrático. Na dignidade da pessoa humana, na justiça social
A Câmara de Loures iniciou na segunda-feira uma operação de demolição de 64 habitações precárias no Talude Militar, onde vivem 161 pessoas, entre as quais crianças e idosos.
Nesse dia foram demolidas 51 casas precárias, a que se somaram mais quatro na terça-feira. A operação foi, entretanto, suspensa após o Tribunal Administrativo de Círculo de Lisboa ter aceitado uma providência cautelar.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) um inquérito sobre este processo.
