
A terceira edição do barómetro da Europ Assistance revela os avanços — e resistências — na mobilidade em Portugal. Apesar da crescente consciência ambiental e da vontade declarada de mudar hábitos, os portugueses continuam a privilegiar o automóvel próprio.
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Apresentado por João Horta e Costa, Chief Commercial Officer da Europ Assistance, o estudo “Tendências de Mobilidade 2025” traça um retrato atual das escolhas, resistências e motivações dos portugueses no que diz respeito à mobilidade. Apesar de um discurso social cada vez mais alinhado com os princípios da sustentabilidade, a prática mostra que o automóvel continua a ser o meio de transporte de eleição.
Portugal apresenta o maior rácio europeu de viaturas próprias por agregado familiar, com quase metade das famílias a possuir mais de um veículo. Ainda assim, o parque automóvel nacional permanece envelhecido, marcado por uma preferência pela compra de veículos usados e pela continuidade do investimento em carros a combustão, apesar dos incentivos governamentais à eletrificação.
O estudo destaca um dado revelador: embora os portugueses manifestem elevada preocupação ambiental — estando entre os mais sensíveis à sustentabilidade — o fator económico continua a ser decisivo. O custo de aquisição é apontado como a principal barreira à adoção de veículos elétricos, com o híbrido a surgir como passo intermédio numa transição energética ainda tímida. O orçamento médio mensal para mobilidade em Portugal é de 137 euros, inferior à média europeia, mas superior a países como Espanha, França ou Itália.
Na área da micromobilidade, Portugal está em contraciclo. Ao contrário do resto da Europa, verifica-se uma redução na utilização de bicicletas e trotinetes partilhadas. E mais preocupante: quase metade dos utilizadores não possui qualquer tipo de seguro para estes meios, o que revela um “protection gap” em matéria de segurança e assistência.
Portugal lidera na consciência ambiental, mas continua a ser o país europeu com maior dependência do automóvel próprio.
Apesar das intenções declaradas de mudança, os números mostram uma inércia difícil de contornar. Bernardo Campos Pereira, especialista em mobilidade ativa, aponta a falta de políticas públicas como um dos principais entraves à mudança: “Em 2019 foi anunciada uma Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Ciclável que está praticamente parada.”.E alerta que, embora os Planos de Mobilidade Sustentável estejam a ser apresentados por vários municípios, falta ainda uma verdadeira implementação com visão integrada.
Do lado da mobilidade elétrica, Pedro Sobral (Ayvens) sublinha que o renting surge como solução crescente tanto para particulares como empresas. Estudos já demonstram que, em 86% das utilizações analisadas, o carro elétrico é a melhor opção do ponto de vista económico. Mas os desafios da indústria automóvel europeia, pressionada por metas de emissões e concorrência externa, continuam a ser significativos.
A mudança para uma mobilidade mais sustentável passa, assim, não só por decisões individuais, mas por infraestruturas, regulação e políticas públicas que alinhem intenções com possibilidades reais de escolha.
Reveja tudo o que aconteceu nesta edição do talk “Tendências de Mobilidade 2025” da Europ Assistance e TSF aqui.