"Vai deixar saudades." Aga Khan lembrado como "um líder espiritual exemplar" com "um sentido de humor agradável"
O líder dos muçulmanos xiitas ismailis morreu, na terça-feira, em Lisboa, aos 88 anos. Khalid Jamal e Faranaz Keshavjee recordam, na TSF, "uma pessoa muito coerente e muito equilibrada"
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"Um líder exemplar" e uma "pessoa muito coerente e equilibrada" que "vai deixar muitas saudades". É assim que Khalid Jamal, dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa, e Faranaz Keshavjee, psicóloga, antropóloga e membro da Comunidade Muçulmana Ismaili, recordam o príncipe Aga Khan. O fundador e presidente da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento e líder dos muçulmanos xiitas ismailis morreu, na terça-feira, em Lisboa, aos 88 anos.
Em declarações à TSF, Khalid Jamal, um dos participantes no programa da TSF Que Mundo, Meu Deus, fala de um "líder exemplar" com um "cunho e crivo espiritual acima da média".
"Não só é um líder exemplar pela sua atividade e pela ação que tem vindo a fazer através de um conjunto de associações, não só de natureza espiritual, mas também social, recreativa, cultural, mas também social, recreativa, cultural, mas também investido de um poder espiritual, precisamente, por ser descendente do profeta Maomé e por se querer, de facto, que é uma pessoa com esse cunho e esse crivo espiritual muito acima da média", afirma à TSF Khalid Jamal, lembrando um líder investido aos 20 anos, que deixa um longo legado.
"Foi um líder investido desde muito cedo. Isso, muito embora pudesse ter sido, inicialmente, não para a Comunidade, mas para aqueles que observavam de fora, objeto de algum receio e de alguma dúvida em relação àquilo que seria a sua capacidade de liderar a Comunidade, desde cedo provou ser uma pessoa muito coerente, muito equilibrada e muito madura, apesar de tenra idade. Soube orientar sabiamente os destinos da Comunidade nestes mais de 50 anos à frente da Comunidade", sublinha.
Também ouvida pela TSF, Faranaz Keshavjee refere que Aga Khan vai deixar "muitas saudades" e fala num homem extraordinário que, além de um sentido de serviço aos mais desfavorecidos, tinha um grande sentido de humor.
"Era uma personalidade muito agradável, muito bem-disposto, com muita vontade de partilhar a informação que tinha, tinha imensa vontade de conhecer as pessoas, tinha um sentido de humor muito agradável. Dizia à Comunidade que era importante que nós cultivássemos a alegria e que fizéssemos por sorrir e acreditar. E tudo isto foi sempre muito um elemento de grande motivação para a própria Comunidade ser capaz de ultrapassar as inúmeras circunstâncias da sua história difícil, as suas próprias adversidades, não só através da fé, mas também do sentido de humor e de saber sorrir e esperar", recorda.
"Estas componentes estavam sempre muito presentes nesta personalidade que vai deixar muitas saudades. Tinha sempre muitas piadas, mas tinha sempre uma mensagem no meio disto para nos transmitir e creio que ele tenha deixado também esta mesma postura em relação a todas as pessoas com quem se tenha cruzado durante a sua existência neste mundo", acrescenta.
Aga Khan, fundador e presidente da Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN), e líder dos muçulmanos xiitas ismailis, morreu hoje em Lisboa, aos 88 anos, confirmou à Lusa fonte oficial do imamat ismaili.
Shah Karim al Hussaini, príncipe Aga Khan, 49.º Imam hereditário dos muçulmanos ismaelitas, nasceu na Suíça, cresceu e estudou no Quénia e nos Estados Unidos, e tem ligações ao Canadá, Irão e França, e nos últimos anos também a Portugal, com a escolha de Lisboa para sede mundial da comunidade ismaelita, "Imamat Ismaili", tornando-a uma referência para os cerca de 15 milhões de muçulmanos da minoria xiita.
Discreto, tido como uma das pessoas mais ricas do mundo, Aga Khan IV nasceu a 13 de dezembro de 1936 na Suíça, filho do príncipe Aly Khan e da princesa Tajuddawlah Aly Khan. Cresceu no Quénia, frequentou a Le Rosey School, na Suíça, durante nove anos, e licenciou-se depois em Harvard, nos Estados Unidos.
Definiu-se como um "otimista, mas cauteloso", alguém que não sendo um homem de negócios aprendeu a sê-lo, que acreditou que a pobreza existe, mas não é inevitável. E nas palavras de amigos foi alguém que nunca bebeu nem fumou e que dedicou muito do seu tempo ao trabalho e a visitas à comunidade.
Duas vezes casado, teve quatro filhos (um deles deve ser o seu sucessor, mas não Zahara, a única filha, porque mulher Imam "absolutamente não"), foi um apaixonado por esqui mas também por cavalos, e criou um império que vai da banca à hotelaria, que financia projetos de desenvolvimento social, incluindo em Portugal, onde existe desde 1983 a Fundação Aga Khan.
A Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN) tem atividades em Portugal e no estrangeiro na área da cultura, da moda e dos festivais, da educação, com apoio a universidades, do ambiente, a ajudar a preservação de sítios, da área social, da sustentabilidade ou da saúde.