Cardeal Américo Aguiar pede responsabilidade ao Governo e oposição para aprovar OE
Em entrevista à TSF, na qual faz o balanço do seu primeiro ano como cardeal, Américo Aguiar pede ao Governo e aos partidos da oposição que “façam as suas lutas partidárias, as suas discussões, os seus números mediáticos, mas que, no momento final, presida à preocupação de todos o bem-estar dos portugueses”
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Américo Aguiar defende que só o diálogo e entendimento deve ser o caminho para a aprovação do Orçamento do Estado para 2025. No dia em que se assinala o primeiro ano desde que foi nomeado cardeal pelo Papa, o atual bispo de Setúbal assinala que é muito importante que a ação política não se deixe nortear por expedientes eleitorais.
Em entrevista à TSF, Américo Aguiar disse estar a concluir uma visita às Santas Casas de Misericórdia da Península de Setúbal que o deixa preocupado porque encontrou um cenário transversal ao país naquilo que significa as condições dos mais idosos. Neste sentido, o cardeal pede ao primeiro-ministro, ao Governo, aos partidos da oposição e ao Parlamento que “façam as suas lutas partidárias, as suas discussões, os seus números mediáticos, mas que, no momento final, presida à preocupação de todos o bem-estar dos portugueses”.
Nestas declarações, Américo Aguiar considera: “Nos últimos meses, no último ano, entrámos num circuito que é muito perigoso, que é o de tentar resolver os problemas com o expediente das eleições em vez de serem resolvidos com o diálogo e com a corresponsabilidade de todos. Isto é perigoso. É perigoso, porque pode destruir aquilo que é a República que vivemos, pode danificar aquilo que é o espírito da democracia, quando a eleição passa a ser o expediente ordinário de resolver os problemas que devem ser resolvidos no contexto da dinâmica parlamentar e no contexto do diálogo entre os partidos e a responsabilidade de cada um, seja Governo, seja oposição.”
Apesar do alerta, Américo Aguiar diz que conhece os protagonistas e, por isso, acredita que no final "vai vencer a responsabilidade e a consciência de que não é possível sequer equacionar voltarmos a entrar num período de indefinição e de eleições e de campanha para o Governo do país". "Eu acho que seria de uma irresponsabilidade total para todos, todos, todos, cairmos nessa possibilidade", realça ainda.
Sobre o seu primeiro ano como membro do colégio cardinalício, diz que o tempo passou rápido e que ainda está em fase de adaptação àquilo que são as exigências, as expectativas do exercício do cargo. Em termos de desafios, o cardeal sublinha corresponder àquilo que o Papa solicita, mas o maior desafio ou exigência tem a ver com a consciência de que aquilo que diz pode ter um maior impacto por pertencer ao Colégio Cardinalício e de poder vincular a Igreja ou o Santo Padre. Reconhece que, neste último ano, às vezes teve de refrear "aquele ímpeto imediato de responder ou de pronunciamento", salvaguardando que teve de respirar e "contar até três para depois responder mais acertadamente".
Sobre as Jornadas Mundiais da Juventude que decorreram em Lisboa, o bispo de Setúbal afirma que "tudo correu bem graças a Portugal e aos portugueses. A jornada teve dias, teve processos. Tivemos desde 2019 a agosto de 2023 envolvidos, mas mais uma vez, Portugal e os portugueses demonstraram, quando temos um objetivo comum, conseguimos superar todas as dificuldades".
Questionado sobre os abusos sexuais por parte da Igreja ao longo do tempo, Américo Aguiar sublinha que a Igreja aprendeu com este processo porque há um antes e um depois de 2019 que tem a ver com a iniciativa da Comissão Strecht. "Foi muito importante a Conferência Presidencial ter tomado essa decisão de avançar e foi muito importante o trabalho ter sido feito. Depois há a criação deste novo grupo, chamado Grupo Vita, com a doutora Rute Agulhas. Portanto, nós estávamos a fazer um caminho. É óbvio que para a pessoa, para a vítima que viveu a circunstância, todos os processos e todos os caminhos são sempre demorados, são sempre injustos, são sempre delicados. Agora, a tolerância zero e a transparência total destes últimos anos, quer na Igreja em Portugal, quer na Igreja Universal, eu estou convencido que a situação mudou."
Sobre o plano internacional, Américo Aguiar enfatiza a sua grande preocupação com a "guerra na Terra Santa, na Terra de Jesus, que agora evolui para o Líbano". E prossegue: "Preocupa-me muito, porque esta zona é muito sensível, de um momento para o outro pode desencadear qualquer conflito bélico, militar, se calhar a nível mundial, atendendo a que a Ucrânia e a Rússia também vão prolongando o conflito de guerra e, confesso, tenho muito receio todos os dias, estou sempre na expectativa de ter acontecido mais alguma coisa que desencadeie um conflito formal de Terceira Guerra Mundial. A outra questão, bem, a outra questão tem a ver, por incrível que pareça, com a preocupação com o clima e as mudanças climáticas que também dependem de cada um de nós. Como o Papa dizia há dias, o planeta está com febre, o planeta está doente e nós ou nos convencemos como humanidade que temos de arrepiar caminho ou então vamos começar a ter uma vida complicada naquilo que são os fenómenos da natureza."