Violência juvenil e redes sociais: pais têm de "falar e ouvir sobre tudo", palavra de ordem para vítimas é "não se calem"
A classe política "deve" começar a incluir nos programas um "conjunto de reflexões e políticas" que procurem mitigar "novas fragilidades". Já nas escolas, "fazem bastante falta" psicólogos, educadores sociais e mediadores de conflitos
Corpo do artigo
Episódios de violência juvenil têm estado na ordem do dia nas últimas semanas e as redes sociais têm servido de palco para estes fenómenos. É, por isso, cada vez mais importante capacitar os pais para que possam "falar e ouvir sobre tudo" e dizer às vítimas para que "não se calem".
O presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo aponta que as redes sociais estão a fazer disparar a violência entre os jovens. No Fórum TSF, Francisco Rodrigues defende que a sociedade e, sobretudo, os políticos têm de se envolver na resolução deste problema.
"Eu deixava no ar a questão da classe política começar a incluir naquilo que são os seus programas um conjunto de reflexões e políticas que devem ser tendentes a tentar mitigar ou a colmatar estas novas fragilidades", surge.
Apesar de a questão do digital não ser necessariamente uma novidade para o debate, a "capacidade de influenciar os jovens" através da internet não é "assim tão velha". Há, por isso, ainda tempo para armar a sociedade contra estes fenómenos de violência.
Sobre isto, Joana Alexandre, da direção da Ordem dos Psicólogos, acrescenta que uma boa parte dos episódios violentes são "decorrentes de aspetos de contexto". Ou seja, os jovens "comportam-se ou atuam de uma dada maneira porque estão em grupo".
"Muitas vezes, parte desses jovens não cometeriam um conjunto de atos desviantes se não estivessem com os seus pares", afirma.
O fenómeno da violência é, por isso, uma problemática que se apresenta "multi-causal", exigindo também uma resposta a vários níveis.
Já Inês Marinho, fundadora e presidente da Associação Não Partilhes, alerta que as vítimas sofrem uma violência que perdura. Sublinha igualmente que não é fácil prevenir a violência através das redes sociais e, por isso, apela para que os jovens não "permaneçam no silêncio".
"Quando já estamos numa situação de risco e de perigo, o importante é fazer exatamente o contrário do que o criminoso está à espera, que é permanecer em silêncio", avisa.
A falta de denúncia, diz, acaba por perpetuar situações de bullying e violência, uma vez que as vítimas muitas vezes se sentem "envergonhadas, com medo e constrangidas". Esta conjuntura faz com que acabem por ficar incapazes de agir. Mas existem canais de denúncia seguros: seja a alguém de confiança, seja na escola ou até mesmo à Associação Não Partilhes. Nestes casos, a palavra de ordem é mesmo "não se calem".
Com um acesso cada vez mais fácil às redes sociais, é urgente capacitar os pais para que estejam "disponíveis para falar sobre tudo" com os filhos. Quem o diz é Tito de Morais, fundador projeto Miúdos Seguros na Net.
"A internet tem tudo aquilo que é de bom e aquilo que é de mau. E, se nós não estamos preparados para falar com os nossos filhos sobre pornografia, sobre misoginia, sobre racismo, sobre xenofobia, então é melhor não lhes darmos acesso à internet", admite.
Também aqui as escolas desempenham um papel importante, nomeadamente através do serviço de psicologia e orientação. O presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, Filinto Lima, lamenta a escassez, mas destaca a relevância da presença de "psicólogos, educadores sociais e mediadores de conflitos" nas instituições de ensino.
"Hoje, são técnicos especializados que fazem bastante falta numa escola", insiste.
